Sublime

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II segurava um lenço próximo ao seu rosto para que as lágrimas não molhassem o terno delicadamente arrumado.

- Calma...

Ressoou em boa intenção, mas quase começou a chorar junto á III ao perceber que isso só o fez derramar mais lágrimas. Sorriu curto para ele, seu orgulho e admiração pelo amigo o preenchiam de uma boa maneira, de estar presente em um momento tão especial em sua vida.

Em um quarto não tão longe dali, um Vessel tão arrumado quanto também extravasava seus sentimentos.

- Eu realmente estou bonito?

- Sim Vessel...

Pela quinta vez Vessel perguntava e pela quinta vez, pacientemente IV respondia. Sentia a insegurança misturada com felicidade e antecipação emanando de seu corpo, as mãos do receptáculo mais alto tremiam de maneira quase violenta. Suspirou e foi até ele, o abraçando sem amassar a roupa minuciosamente preparada.

- Você está incrível.

Ele sussurrou firme, percebendo os olhos se acalmarem, quase mansos. Vessel o abraçou forte, como se descontasse tudo oque sentia naquele gesto, suspirando feliz.

Mas sua mente estava muito longe daquele abraço. Ela estava no altar, nas pessoas que os veriam, nas delicadas decorações escolhidas de maneira tão bem pensadas por III. Sorriu bobo ao pensar nele. Não imaginava como ele estaria, mas sabia que seria espetacular, como ele sempre foi. Sim, espetacular, extravagante, chamativo e intenso, essas e tantas incontáveis qualidades - e diga-se de passagem, também os defeitos - que o fizeram se apaixonar da maneira mais natural que poderia. Assombrosamente lindo e enfervescente, admirável, grandioso, belíssimo, e todos os sinônimos para sua indescritível elevação. III era extremo e excessivo, de uma confiança elegante e invejável.

Mas fora retirado de sua adoração silenciosa ao se desvencilhar do abraço, ouvindo batidas na porta. II vinha avisar que estava tudo pronto.

Uma, duas, três horas. Ou foram 3 minutos? Esqueceu de contar, mas quando realmente se deu conta, já estava se dirigindo ao altar de decorações brancas, negras e carmesins, segurando suas lágrimas. Suspirava e tentava manter sua postura tão calma, como quem tinha controle da situação, mesmo que soubesse que não conseguia controlar nem mesmo o próprio tremer das mãos.

Seus padrinhos, vulgo II e IV com seus ternos delicados e parecendo tão orgulhosos quanto o próprio noivo. Fechou os olhos por um segundo quando as poucas, mas importantes pessoas que assistiam a cerimônia se calaram, como se alguém que fosse tão importante ao ponto de toda a atenção ser voltada para ele houvesse chego. E não coincidentemente, era exatamente isso.

Apenas com o suave som do piano de fundo, não quis mais segurar suas lágrimas sutis ao ver seu amado lentamente vindo até o altar, tão belo como sempre foi, tão encantador. O pequeno buquê em mãos, o terno vermelho e a blusa preta, o sorriso mais lindo que já viu em toda sua vida e os olhos cristalinos chorosos.

Deus, se houvesse outra visão do paraíso que não fosse essa, ele desconhecia. Tão belo e esguio, subiu os poucos degraus e parou á sua frente, sendo fitado com todo o amor que Vessel sentia.

- Você está lindo...

Sussurrou para III, este que apenas sorriu. Quem ditou a cerimônia não foi um padre, mas um dos grandes amigos do casal, que fez questão de fazer um breve discurso sobre a vida dos prometidos.

- Vessel, você aceita se casar com III?

De imediato não pode responder, mas todo o seu corpo gritava que sim. Que o amava sem medo, sem medidas, sem esforços para amar, apenas o mais puro e natural sentimento de seu coração tão sincero.

- Sim...

Riu curto enquanto respondia, inacreditável. Incrédulo que poderia amar tanto alguém que chegou á prometer, aqui e agora, todo seu ser á essa pessoa.

- III, você aceita se casar com Vessel?

- Sim!

Mas dele a resposta quase passou por cima da pergunta, quando seus dedos encostaram nos de Vessel, quando sentiu sua pele quente e sua alma, sua jura e sua promessa de amor ali. Quando trocaram as alianças, no exato momento em que se tornaram uma só carne e essência. No momento em que tudo oque sentia por aquele homem floresceu e se materializou diante de seus olhos.

- Pode beijar o noivo.

No instante em que III agarrou sua cintura de maneira tão firme e tão delicada, no segundo em que seus lábios se encostaram, Vessel percebeu que este homem era a criatura mais sublime que existia.
Quando as lágrimas escorreram sem pudor por seus rostos e quando todas os sons externos desapareceram, o mundo inteiro era apenas deles. Quando o olhou no fundo de seus olhos e percebeu que aquele "sim" seria eternamente sua melhor escolha, quando admirou aquele homem ao qual prometeu uma eternidade, e que não seria problema algum cumpri-la.

Quando tudo era apenas deles, daquele beijo e daquelas alianças representando a união não apenas do chamado matrimonial, mas do saudoso chamado de seus corações. Nunca haveria palavras o suficiente em seus versos para descrever a admiração que sentia por III.

- Eu te amo

Segurou seu rosto entre as mãos e o puxou para outro beijo, agora podendo claramente ouvir as palmas ao fundo e de relance, a comemoração tão animada dos padrinhos, estes que um pouco afastados do casal, seguravam sua empolgação e batiam palmas, sorrindo orgulhosos um para o outro. Pode ver até mesmo algumas lágrimas saírem dos olhos de II, estas que foram acolhidas por IV rapidamente.

Após o momento dos noivos, de brinde um discurso de III, que emocionou os presentes que ainda não choravam, este subiu no palanque novamente e os convidados fizeram um amontoado atrás dele, era o momento de jogar o buquê. Ele suspirou e Vessel segurou sua cintura, se inclinando e soltando as flores para trás, ouvindo gritos e risadas divertidas, ambos virando-se para ver quem havia agarrado primeiro. Soltaram uma risada quando perceberam o buquê nas mãos de II, que comemorava como uma criança juntamente á IV.

- Nossa, mas com quem será que ele vai casar?

Ouviu-se uma voz ironizar com a cena dos dois padrinhos se abraçando, oque acabou em uma salva de palmas e risadas de todos, até dos recém-casados. Vessel gentilmente encarou seu marido, realizado com o momento que viviam. Simples, sutil e eterno, como o receptáculo principal, porém exuberante, chamativo e intenso como III. Era uma união perfeitamente equilibrada, pensada nos mínimos e ligeiros detalhes.

Não haveria nada que os impedisse agora, então se permitiria dizer o quanto o amava, sem medo, sem meios, sem medidas, sem recuos. O mesmo valia para III, homem tão intenso! Composto por toda sua fúria e vontade, desejos ardentes e sonhos. Amava Vessel como quem fosse morrer daqui um minuto e só o restasse esse momento para sentir, como sempre foi assim. Vessel tinha sim noção de todas as negligências que aquele coração fervente passou, de todas as vezes que fora repartido sem piedade.

Mas este seria apenas mais um dos milhares e diversos motivos para o amar, para agarrar-se á ele. Para admirar aquela existência feroz, elevada, excessiva, vibrante e quente de paixão, férvida, sem metades ou receios, talvez até mesmo inconsequente, mas nesse quesito sempre esteve lá para o orientar, ainda sim tão belo e deslumbrante como um mar revolto, definitivamente Sublime.

Amaria cada parte dele que foi partida, amaria cada pedaço do corpo e do alma, cada palavra e cada gesto, e naquele altar prometeu isto. O melhor "sim", para a melhor pessoa que poderia. Não haveria termos o suficiente para descrever oque sentia ou como o via, porém em suas tentativas, talvez se encaixasse para apenas uma ínfima parte de III ser descrito como sublime; ínfima, pois, aquilo também não era o suficiente. O amou á cada dia, o fez feliz á cada dia, se entregou e naquela mesma intensidade III retribuía, seu marido, amigo, amor e companheiro.

E aquele amor foi eterno, como prometeram. Extravagante, sutil, delicado, voraz, intenso, e todos os sinônimos que descreviam o perfeito contraste de excessos. Na alegria e tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, se amaram da mesma maneira, naquela sublime união.

"Faça-a se sentir a criatura mais sublime dessa terra."
- Gomez




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⏰ Última atualização: Jun 02 ⏰

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