Uma foto um pouco borrada de Nadine estampava a manchete de um jornal que sinalizava: "Princesa é flagrada beijando garota desconhecida".
E pronto, todo o país de Ferindor estava especulando sobre a sua sexualidade e se ela não estaria mais vivendo...
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Nadine já havia chegado a sonhar em ser uma daquelas modelos de olhar cortante que enfeitam capas de revistas prestigiadas, como V Magazine, Vogue e Elle. Ela já até havia aparecido em colunas de fofoca, mas sempre como uma integrante da família real, posando em eventos beneficentes, viajens e jantares casuais ou ao lado do duque August Sterling, que adorava forçar abraços em frente às câmeras desde que tinham um pouco mais de seis anos. Aquele garoto apertava sua mão com tanta força que Nadine podia sentir como se ele fosse quebrar todos os seus dedos. Além disso, achava nojento como a mão dele suava apertando a sua. Seja lá o que ele tivesse que o fizesse agir dessa forma tão pegajoso e atrevido, ela queria que acabasse o quanto antes.
Com o passar dos anos, August havia se tornado cada vez mais enxerido. Ele costumava sorrir com todos os dentes sempre que um réporter tinha a audácia de perguntar se eles seriam um casal um dia.
Não demorou muito para que algumas pessoas começassem a fanficar sobre os dois. Havia até dezenas de páginas no Facebook e fandoms pelas redes sociais que faziam edits fofos com as fotos dos dois. As pessoas acreditavam mesmo nisso, mas Nadine não as culpava, pois August parecia se esforçar muito para que aquilo se tornasse realidade.
Aliás, Nadine também tinha sua parcela de culpa, ela o usava como desculpa para recusar convites de outros garotos, alguns eram homens mais velhos, conhecidos de sua família, que passavam um pouco do ponto acreditando que teriam chance com ela.
Certo dia, August em um ímpeto de ansiedade e impulsividade, colou os lábios na boca da garota enquanto andavam juntos em uma festa de dia das bruxas na escola. Nadine ficou em choque e, depois disso, muito irritada. Aquele havia sido seu primeiro beijo e ela se sentiu estranha como se tivesse acabado de beijar um cubo de gelo.
August se perguntava mentalmente se ele havia feito errado e se ela o odiava agora. Nadine aguardava em silêncio sem conseguir direcionar o seu olhar diretamente a ele, ficou quieta como se esperasse sentir alguma coisa, alguma coisa boa, mas ela não sentiu nada.
A garota pensou se devia tentar de novo e, realmente tentou algumas vezes nos dias que se sucederam. E então tentou beijá-lo novamente, "3 é o número da sorte", pensou enquanto espremia os olhos e colava as mãos nas laterais do corpo como um sargento-medroso. Mas enquanto August fazia movimentos circulares dentro da sua boca, ela apenas conseguia pensar em como aquilo estava sendo um desastre.
Então, quando ela foi ao Festival CineVerde, de filmes ao ar livre, no parque, disfarçada com um chapéu rosa de cawboy, um óculos e um bigodinho com Eva Howey e outros colegas do colégio, ela sentiu uma onda de calor percorrer seu corpo como se fosse 3 horas da tarde de um verão ensolarado, daqueles que você está tão suado e agitado devido ao calor que só deseja chegar em casa para se deliciar com uma ducha gelada.
Eles assistiam de dentro do carro de James – um garoto de cabelos pretos, olhos pequenos e que, embora usasse minoxidil para que a barba crescesse, tinha cinco ou seis fios de pelo na cara – um filme de comédia que Nadine não se lembrava do nome naquele momento.
O cheiro de pipoca pairava no ar e as risadas ecoavam no espaço confinado, iluminado belo brilho emitido pela grande tela. O grupo de amigos, confortavelmente amontoados, riem descontroladamente de uma cena especialmente esquisita e mal atuada. O som das risadas preenchem o carro e todos se entreolham, compartilhando o momento de alegria. Mas Eva Howey, sentada no banco da frente, esgueirando-se para trás, com um sorriso largo, mantém o olhar fixo em Nadine. A conexão silenciosa entre as duas contrasta com a animação do restante do grupo, criando um momento íntimo e isolado dentro do caos alegre do carro. Mas o momento é abruptamente interrompido quando Maurício diz que precisa ir ao banheiro e abre a porta do carro. Jules diz que também precisa ir e James sussurra que precisa comprar cigarro.
— Vocês duas esperam aí? – Maurício disse batendo a porta do carro, temendo que alguém olhasse feio pelo barulho.
Nadine demorou um pouco para entender o que estavam dizendo, mas assentiu com um aceno de cabeça. Eva fez o mesmo.
A garota continuou inclinada para trás e Nadine sorriu de forma tímida, mas encorajadora. Eva observa atentamente cada detalhe de seu rosto iluminado pela tela, alheia ao tumulto de risadas que vinha dos carros ao redor. Ela se aproxima um pouco mais, delicadamente, e toca no rosto de Nadine retirando o bigode e depois o óculos que ela usava. Nadine não diz nada e se inclina também, as garotas se entreolham com a respiração mais pesada que o normal e seus lábios se tocam.
Eva não fazia movimentos circulares dentro da sua boca, na verdade, ela beijava imensamente bem e Nadine não sentiu vontade de se separar da garota.
No entanto, em meio ao beijo, luzes fortes se acendem próximas aos rostos das duas e ao se afastarem percebem o tumulto de fotográfos que havia ao redor do carro. Nadine olhou para fora em desespero e atirou o chapéu em cima da câmera de um dos paparazzis, em seguida abriu a porta do lado contrário e fugiu às pressas enquanto vinham atrás dela e se escondeu dentro do banheiro de uma lanchonete próxima até a gerente expulsar os curiosos do estabelecimento e convencê-la a levá-la de volta para casa em segurança em seu carro.
Mas algo que ela não podia acreditar, era que uma foto sua beijando alguém(lê-se pessoa do mesmo sexo) estaria no dia seguinte na capa de alguns dos jornais mais vendidas do mundo.
— Parabéns, você conseguiu chamar à atenção da família e do mundo todo também. – Sua irmã, Lydia, lhe atirou o jornal meio amassado e um tanto sujo de migalhas de biscoito em cima da sua mesa de estudos, onde ela naquele momento, escrevia um resumo de um artigo para a escola. — E você já está no Twitter também, e no Instagram, no Facebook e até no Twreads.
Nem precisou abrir o jornal para confirmar o que a irmã estava dizendo. A manchete "Princesa é flagada beijando garota desconhecida" a pegou como um soco no estômago. O subtítulo incitava "Princesa de Ferindor não gerará sucessores? Futuro do reino se torna incerto."
Quando ela viu a foto e o que estavam escrevendo e especulando sobre ela, sentiu que poderia morrer e, talvez, até morresse mesmo.
