A Revelação do Invasor

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Richard tem o sorriso mais mórbido e perturbador que já vi, apesar de nunca tê-lo visto sorrir para mim quando me via. Cara a cara, fico igual uma ovelha acuada por um lobo de dentes afiados. Aqueles olhos, azuis elétricos, são sinistros. Ele não tem cabelo, um completo calvo. E o macacão azul marinho, ele ainda está vestindo. Enfim, essa é uma figura que de agora até o fim nunca vou me esquecer.

- Tão lindo igual a sua mãe - diz ele com sua voz fria e profunda.

- Sai daqui - reúno mais firmeza em minha voz. - Se você tocar em mim, o David não vai ter piedade de você.

- Ah o seu papai. Já saquei. Ele não vai mesmo deixar barato para mim. Mas não se preocupe. Eu não vim fazer nada... Ainda.

- Que história é essa? - reajo, incrédulo. - Você invadiu a minha casa com quais intenções?

- Eu quero ser seu amigo, Kyle.

O choque e a estranheza me pegam de cheio.

- Que porra de amigo? Você é louco? Como posso ser seu amigo? Nunca.

- Tem certeza? - ele arreganha os dentes e aquele sorriso fica muito mais bizarro. - A gente vai se divertir muito.

- Para. Por favor. Vai embora. Me deixa em paz - por que a polícia tá demorando tanto?

- Deixa eu cuidar de você. Eu garanto que faço isso melhor que David. Um enteado merece um padrasto que lhe dê o mundo.

Por um instante, franzo a testa, tentando processar aquelas falas. O que ele disse é muito esquisito e gera desconfianças. Ele não pode estar sendo sincero. Isso é um joguinho doentio dele, que está fazendo de tudo para entrar na minha cabeça e foder com tudo. Não quero ter que ouvir isso. Mas...

- Do que você tá falando?

- Sua mãe podia ter lhe contado, mas não tem problema. Eu tô aqui para isso. Sempre soube que era eu desde o início.

Fico calado e a espera do que sinto ser uma grande revelação vindo à mim.

- Sua mãe e eu estamos juntos.

- Não - nem fodendo.

- É sim, meu pequeno.

- Não! Não! Não!

Ele puxa o celular de um dos bolsos do macacão e desliza o dedo pela tela, até que ouço, ou melhor, reconheço ser a voz doce e delicada de Megan Garnier, minha mãe.

- Olha. Não quero mais fazer isso. Vê se me entende. Eu não tô apaixonada por você. As coisas que rolaram entre mim e você foram só passageiras. Você tem a Sarah. Eu tenho o David. Por favor. Vamos parar por aqui.

- E tem mais - diz Richard, desligando o aparelho. - Sabia que ela está esperando um filho meu?

Não dá. É demais para mim. Uma mistura de frustração, ódio e revolta brota aos montes em meu ser. As lágrimas escorrem ininterruptamente de meus olhos. É como se uma parte da realidade fosse falsa e a outra metade só existiu na minha cabeça. Sinto-me sem chão.

- Você tá inventando tudo isso! Não é real! Vai embora!

- É sim, meu bom garoto. A sua mãe está mentindo para David, você e até para ela mesma. Não devia acreditar em tudo o que ela diz.

- Por que tá fazendo isso?

- Você merece ouvir a verdade. Eu gosto de você, Kyle. Queria eu ser o homem que casou com ela. Eu nunca tive filhos. E você é um que eu sempre quis ter.

Ele para de falar. Ouvimos os dois o eco das sirenes vindo de longe. É a polícia de Lake City. Os colegas do meu padrasto. Eles estão vindo. Para o que? Me salvar. Do que? Nada. Absolutamente nada. Eles não tem nada que conserte o imenso estrago irreparável que agora habita dentro de mim.

- Estarei por perto, meu menino. Espero que ainda possamos nos dar bem. Se cuida, Kyle.

Richard se vai. Ele desce as escadas correndo. Saio de baixo da cama e ando até a janela. As cores azul e vermelho brilham na rua. Os vizinhos saem de suas casas para verem o que está acontecendo. Dois policiais descem da viatura estacionada perto da calçada e se aproximam de casa. Saio do quarto e desço até o hall.

Abro a porta e encontro a Sra. Vaughan com eles. Ando até ela e rapidamente a abraço. Ela retribuiu, passando os braços em minhas costas. Desmorono com choro e soluços.

Richard escapou pelos fundos de casa.

- Calma, meu rapaz. Você foi corajoso. Já acabou. Está seguro agora.

- Foi horrível. Ele podia ter feito alguma coisa. Mas não. Ele... Ele disse que...

- O que ele disse? - pergunta Sarah, enxugando minhas lágrimas com os polegares.

Olho para ela, pensando se devo ou não contar-lhe tudo que seu marido me falou. Ela não faz ideia de que foi traída, enganada e feita de trouxa por Richard, enquanto minha mãe participou disso tudo interpretando a amante. Além do mais, a Sra. Vaughan estava me ajudando à se salvar. Então, ela merece sim saber.

- Eu vou lhe contar tudo.

Padrasto Selvagem (Conto Gay) - Macho Sujo SafadoOnde histórias criam vida. Descubra agora