Helston 03 de Maio
12 dias para o meu aniversário
A chuva caia forte do lado de fora do carro, só me restava contar cada gota que deslizava em volta na janela ao meu lado. O cheiro de planta molhada, a brisa suave dentro do carro causada pelo ar, que embora não fosse o mesmo da chuva causava um aconchego. Raiotown. Meus pensamentos só girava em torno da nova cidade.
Nunca fui de gostar de mudanças, principalmente as que tinham que ser de cidade. Não havia amigos para deixar para trás, nem familiar, muito menos algum animal de estimação ou pessoa favorita. Mas eu gostava do que tinha aqui. Não minta Blair. Nunca fui feliz depois do que aconteceu no último outono, mas não tenho o que falar. Mudaria algo?
Carregar um peso nas costas se tornou um pesar menor com o tempo. O tempo cura tudo. Isso é a maior idiotice, o mínimo que acontece é a gente esquecer e quando damos de cara com nosso gatilho percebemos que nunca estamos com nossa cicatriz sem por cento fechada. Ela continua ali só esperando algo vir e corta-la novamente.
Uma batida forte na janela me faz sair do transe de meus pensamentos. De longe correndo em minha direção o garoto que acertou sua bola sem querer em meu carro faz um sinal em pedido de desculpas. Eu franzo o senho e respiro fundo balançando minha cabeça.
-Bom, dizem que viajar ajuda a esquecer os problemas- giro a chave e ligo o carro- Vamos ver se mudar some tudo de uma vez.
Eu almejava por coisas novas, pessoas, amigos, sair com alguém legal, ficar bêbada e curtir uma noite inteira. Minha alma precisava disso. Não estava a caminho apenas de uma cidade nova, mais sim uma vida nova.
Só naquele começo de verão já havia tentado escrever músicas por diversas vezes, mas sempre era a mesma coisa. Sentava na varanda com meu violão e ficava cantarolando algumas notas, porém nada concreto. Sentava no chão em meu quarto com minha guitarra e o mesmo bloqueio me perseguia.
Perseguição. Nossa como aquelas garotas de livros são sortudas, eu daria qualquer coisa para viver uma vida como as dos livros que leio. Garotas que sempre são as principais na história, tem sempre os meninos mais bonitos e loucos que nem um stalker colado nelas.
Sem contar a vibe de cada festa e o enredo de como tudo se encaixa. Na vida real garotas assim, solitárias afastadas de rede social e do mundo sempre ficam sozinhas não importa quem seja a pessoa.
Raiotown não era muito longe de onde eu morava, mais por ser tarde da noite acredito que fez o percurso ficar um pouco mais longa. Cansada do jeito que estava poderia não ter quem se importasse mais eu me importo se sofrer um acidente. Dirigi mais alguns km até um hotel de estrada mais próximo que achei.
Sempre vi em filmes esses lugares, nunca tive curiosidade nenhuma de se hospedar aqui. Local perigoso do caramba, se alguém entra aqui e me sequestra? como que eu fico?
Estacionei na vaga mais perto da estrada para facilitar em caso de eu precisar correr. Meu Deus Blair você está lendo livros demais. Embora se fosse um cara de 1,90 e tatuado igual dos livros eu não acharia ruim correr dele. Que que eu to pensando.
Antes de sair do carro pego minha mochila, abro e pego meu casaco rosa de dentro. Eu sei que não seria de muita ajuda o capuz dele mais sei lá fez sentido colocar. Vesti e sai correndo de dentro do carro até o hotel.