Tudo o que nunca fomos 𑁯 𝐉𝐍𝐊 + 𝐊𝐓𝐇

Capítulo 23

(É recomendado ler este capítulo escutando a música acima.)

੭࣪ 23
Jennie

MEU PAI VIVIA ESCUTANDO MÚSICA E EU ADORAVA CADA NOTA, CADA REFRÃO, CADA acorde. Quando eu voltava do colégio para casa caminhando com Blair e via nosso telhado a distância, sempre imaginava aquele espaço como quatro paredes mágicas que guardavam dentro delas melodias e cores, emoções e vida.

Minha música favorita quando criança era "Yellow submarine", eu podia cantá-la com meus pais por horas, toda suja de tinta no estúdio do meu pai ou abraçada com minha mãe no sofá, que era tão velho que a gente quase se fundia a ele quando se sentava. E essa música ficou comigo conforme fui crescendo. O ritmo infantil, as notas confusas, a letra tão imprevisível que falava da cidade onde nasci, de um homem que navegava pelo mar e contava como era a vida na terra dos submarinos.

Uma semana depois do meu aniversário de dezesseis anos, Taehyung chegou lá em casa, ficou na sala conversando um pouco com meu pai e depois bateu na porta do meu quarto. Estava brava com ele, porque eu era uma pirralha e minha principal preocupação eram coisas como o fato de ele não ter ido à minha festa de aniversário porque fora a um show com uns amigos em Melbourne e passara o fim de semana inteiro por lá.

Olhei para ele com a cara fechada e coloquei o pincel cheio de tinta no estojo aberto em cima da mesa.

— Ei, que cara é essa?

— Não sei do que está falando.

Taehyung sorriu de lado, com aquele sorriso que me fazia tremer os joelhos. E eu o odiava por ele provocar isso em mim sem saber, por ele continuar me tratando como criança, sendo que eu me sentia muito mais crescida diante dele, porque ele já tinha partido meu coração várias vezes...

— O que é isso? - Apontei para a sacola na mão dele.

— Isso? — Ele me olhou divertido. — Isso é o presente que você não vai ganhar se não desfizer essa ruga aqui...

— Ele se inclinou na minha direção e eu parei de respirar na hora em que alisou minha testa com o polegar. Depois me passou a sacola. — Feliz aniversário, Jennie.

Estava tão emocionada que levei meio segundo para esquecer a raiva. Rasguei o papel de presente e abri a caixinha com impaciência. Era uma caneta para desenho fina e flexível, de uma marca famosa que custava uma fortuna; ele sabia que eu tinha começado a usar essas canetas para me aperfeiçoar em outras técnicas.

— Você comprou para mim? - Minha voz estremeceu.

— Para você continuar criando coisas mágicas.

— Taehyung... - Estava com um nó na garganta.

— Espero que um dia você me dedique algum quadro. Um dia, quando você for famosa, estiver enchendo galerias de arte e já nem se lembrar mais daquele idiota que não foi à sua festa de aniversário.

Meus olhos estavam embaçados e não consegui ver bem a expressão dele, mas, com o coração batendo acelerado no peito, ouvi a melodia infantil, as notas rodopiando na minha cabeça, o som do mar acompanhando os acordes iniciais...

Ele não tinha a menor ideia das palavras que estavam entaladas na minha garganta, querendo sair.

Palavras que quase queimavam.

Deslizavam.

"Eu te amo, Taehyung."

Mas, quando abri a boca, apenas falei:

— Todos nós vivemos em um submarino amarelo.

Taehyung franziu a testa.

— Tá falando da música?

Neguei com a cabeça, deixando-o confuso.

— Obrigada por isso. Obrigada por tudo.

𖹭

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