XL

65 4 0
                                    

Zac - dias atuais

Domingo

O despertador tocou e eu demorei para abrir os olhos.
Sentia o corpo todo moído em resultado do acúmulo das noites mal dormidas e das inúmeras horas sentado na mesma posição, jogando madrugada a dentro.

Meu celular continuava a gritar no meu ouvido e eu fui obrigado a esticar o braço até a mesinha de cabeceira para o silenciar.

Aproveitei para tirá-lo do carregador e dei uma passada rápida pelas notificações. E suspirei fundo quando vi q não tinha nenhuma mensagem dela. Nada.

Estavam fazendo 2 dias que havíamos nos visto pela última vez, no seu quarto de hotel.
Jules havia me pedido espaço e mesmo com o coração apertado eu lhe prometi que eu faria o que fosse necessário, e lhe daria o tempo e o espaço que ela precisasse.

Aquela conversa não tinha sido nada fácil para mim. Ouvir da boca dela que eu estava preso no passado foi um chacoalhão e tanto e confesso que eu fiquei bem desnorteado na hora.

Até aquele momento eu não havia percebido e nem sequer tinha parado pra pensar no quanto eu realmente sou apegado ao nosso passado. E me doeu muito ouvir da boca dela aquelas verdades.
Mas em minha defesa, aquela foi a época mais linda e mais feliz da minha vida, e é natural que eu insista em ser apegado às minhas memórias.

E confesso que eu realmente a via (e ainda a vejo) como a minha Jules de 21 anos atrás. Ela era uma garota meiga, linda e inocente de tudo e isso sempre despertou em mim um instinto natural de proteção.

E até aquela conversa dois dias atrás eu sequer havia notado q eu continuava agindo dessa maneira nos dias de hoje.
E pior ainda, eu nunca imaginei que eu poderia estar sufocando ela com esse comportamento.

É muito difícil para mim separar a Jules do passado da Juliet do presente, pq no final do dia elas ainda são a mesma pessoa.

Mas conforme ela ia colocando na mesa tudo que a machucava eu comecei a enxergar as coisas com outros olhos.
Porque uma coisa é vc saber q agiu por impulso e por egoísmo. Outra bem diferente é ouvir da boca da pessoa q vc machucou o quanto vc foi mesquinho, maldoso e infantil.

Cada frase dela me feria ainda mais o ego e foi ali, naquele momento, que eu percebi que ela estava certa.
Pq se o meu ego estava sofrendo e não o meu coração, isso queria dizer que eu não estava agindo por sentimento ou impulso como eu imaginei. Eu estava agindo por orgulho mesmo. E medo.

A cada golpe que ela dava no meu ego já machucado, as fichas iam caindo nos seus devidos lugares e aos poucos eu fui percebendo que eu havia mesmo usado ela como ferramenta na minha disputa com o Sam.

E aquilo fez eu me sentir um completo idiota.

Eu estava tão cego pelo ódio que eu guardei dele por todo esse tempo que eu simplesmente não enxerguei o óbvio a um palmo do meu nariz. E acabei machucando a pessoa mais importante pra mim nesse processo.

A minha prioridade desde o começo deveria ter sido ela, única e exclusivamente. Eu deveria ter lhe apoiado como ela fez comigo tantas outras vezes, e deveria ter protegido ela ao invés de expô-la de forma tão gratuita assim.
E eu falhei miseravelmente na minha missão.

Eu não queria levantar.
Se fosse um dia da semana qualquer eu com certeza não iria trabalhar. Não haveria nada de urgente na gravadora e eu poderia fazer a minha parte mais tarde, quando eu criasse coragem de levantar e existir.
Mas era domingo e mesmo querendo esquecer do mundo lá fora e dormir o dia todo, eu tinha o papel mais importante da minha vida para ser feito.

i wish that i was thereOnde histórias criam vida. Descubra agora