Seu eu pudesse

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Permanecendo sentada naquele sofá macio, ainda muito apática, não resistiu em fechar os olhos carregados de cansaço, e descansou um pouco.

Lentamente, começou a sentir um cheiro agradável vindo da cozinha, de alho e cebola sendo refogados, barulho de facas batendo contra uma taboa, tampa de panelas sendo abertas.

Adrien estava cozinhando para si.

Sorriu tranquila, como se aquela realidade fosse normal. Como se ele, fosse seu marido e estivesse cuidando de seu jantar depois de um longo dia de trabalho.

Só que não era nada disso. Adrien estava longe de ser um namorado, e ela, muito distante de ser uma mulher pela qual tinha um emprego normal.

Abrindo os olhos, sentindo o corpo inteiro doer e ainda imundo por tudo o que tinha ocorrido antes, quis tomar um banho. Precisava se lavar, se esquecer das mãos do homem nojento que havia marcado sua pele de tantas formas terríveis por dinheiro.

Por isso, "quebrando" a obediência de se manter quieta no sofá, retirou os pés da bacia de água, para se levantar tentando se equilibrar um pouco. Arrastou-se lentamente pelo pequeno corredor que estava a cozinha, onde viu da porta, Adrien virado de costas, com as mangas da camisa social suspensas, atento enquanto mexia a sopa na panela.

O chamou baixinho, ele então se virou na hora e seu rosto não poderia estar mais adorável e engraçado. Como estava usando óculos para cozinhar, as lentes haviam esbranquiçado pelo vapor da comida.

A mestiça acabou rindo e tossindo, recostando-se contra o batente na porta no momento que ele limpou as mãos, desligou o fogo e se aproximou, a segurando pelos braços para que pudesse se equilibrar melhor.

- O que foi? Esta sentindo alguma dor?

- Sim, um pouco... aqui nos meus pés.

- Te disse pra ficar lá no sofá, eu já estou terminando.

- Não, é que eu, eu preciso mesmo tomar um banho. Desculpe te incomodar.

- Não... – ele sorriu amável, fazendo uma carícia por onde a segurava. – Não incomoda, e eu imagino que esteja precisando mesmo. Vamos lá, que eu vou te levar ao banheiro.

A conduzindo gentilmente até o cômodo que ficava próximo, ascendeu as luzes antes que entrassem. Com isso, a levou até o meio do local, onde procurou mais uma toalha no armário branco que havia perto de uma parede.

Ela, o vendo de costas, deixou em silencio a pequena toalha que estava em seus ombros sobre a tampa da privada fechada e retirou a camiseta, junto ao short, ficando nua.

- Achei uma toalha limpa, ufa! Pensei que todas estavam-

No momento que se virou, a vendo totalmente sem roupas agora de pé e bem iluminada pela luz que vinha do teto, estagnou o corpo, sentindo a garganta secar.

Não poderia dizer que nunca tinha visto uma mulher nua antes, apesar de ser virgem. Até a própria mestiça ainda a pouco no sofá.

Só que a maneira pela qual ela estava se apresentando, parecendo tão linda e tão intocável, era inédito.

Sentiu o coração acelerar no peito. Uma nova sensação, uma nova emoção. Muito diferente de quanto estava em meio as suas preces, as coisas da Igreja, pelas quais julgavam ser mais importantes na sua vida, ver aquela mulher nua tão de perto mas tão longe, o fez tremer da cabeça aos pés, abaixar os olhos, estendendo a toalha na sua direção.

- É bom você entrar na água, está frio, pode se gripar.

Marinette vendo a toalha branca diante de si, a pegou passando os dedos pela mão dele, colocando a mesma toalha onde a outra estava. Se aproximou com o andar lento, colocando-se na sua frente e bem de perto, para que assim, diante do olhar atento e sério do loiro, o envolvesse pela nuca.

-Não quero que me julgue mal. – ela murmurou olhando em seus olhos lindos esverdeados.

- Não estou. – respondeu ele. – Eu só não quero que você se machuque.

Dando um sorriso fraco, junto a um suspiro, lamentou. – Mais do que já estou, é impossível. Por isso, já que não tenho nada a perder, só quero te abraçar mais uma vez.

A tendo tão próxima de si, Adrien apenas movia seus olhos que estudavam o rosto pequeno e molhado da mestiça.

Dona de olhos azuis tão lindos como o oceano, sua pele era branca, e seus cabelos pretos. As maçãs do rosto avermelhadas, tais como seus lábios da mesma cor atraente.

Era uma mulher perfeita. Por que se encontrava naquela vida? Por que estava fazendo aquilo?

Ela não merecia, podia ver dentro da sua alma, que ansiava desesperadamente para sair daquele pesadelo.

A compaixão que esses pensamentos carregaram seu coração, o fizeram segurá-la pela cintura a envolvendo pelas costas, a puxando mais para perto. A viu fechar os olhos e ficar na ponta dos pés, para colocar o rosto aterrado em seu pescoço.

Os dois se tomaram em um forte abraço, e pela sua pele, Adrien sentiu lágrimas quentes. Ele franziu seu cenho, acariciando seus cabelos com os dedos, puxando suavemente os fios dentre eles.

- Tudo vai ficar bem.

O choro de Marinette agora era mais alto, mais angustiante. Achou melhor acalmá-la a conduzindo até o chuveiro, a colocando de baixo da água pela qual foi abrindo devagar. Ficou na porta do box aberta, a segurando pelas duas mãos, enquanto a via ainda de olhos fechados, sentindo o doce toque da quentura branda do banho relaxando todo o seu corpo.

Com isso, ele deu um sorriso de lado, a vendo abrir os olhos e suspirar. Tocou seu rosto, fazendo um carinho.

- Pode chorar o quanto quiser Marinette, eu vou estar aqui contigo.

E ela não queria que fosse diferente, mais do que tudo, mais do que os problemas que poderia trazer à ele, o queria em sua vida, era que nunca mais fosse embora. Nunca mais.

O pegando pela mão o beijou, mantendo a mesma mão em seus lábios, já que sua boca, infelizmente não poderia receber o mesmo beijo.

"Que me dera, eu pudesse te beijar e te amar como eu quero..."

- ... obrigada, meu anjo.

"... mas só com isso, eu já me sinto especial para o teu coração."

Next time I'll fall in love with youOnde histórias criam vida. Descubra agora