Without Me da Halsey

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Eu não gosto muito de escrever tanta rivalidade feminina escancarada, mas nessa fic Freen e Becky se odeiam mesmo. Eu quis colocar esse contraponto porque eu acho muito incrível essas histórias de atores que faziam um casal e se odiavam na vida real. Tipo o Dirty Dancing que eles se odiavam muito e o casal é um dos maiores da cultura porque eles fizeram um papel muito bom. 

A vida de Freen e Becky

    Estamos nos preparando para mais um capítulo da novela. Rebecca está aqui comigo para o meu eterno desespero, porque temos que gravar as imagens também para colocar na internet um pouco da nossa interação em estúdio. Os fãs gostam de ver uns momentinhos. 
     É só ver como as pessoas amaram ver a Letícia Colin e a Sophie Charlotte cantando em Todas As Flores. Porque nossa novela é de áudio, mas as pessoas querem ver como nós duas interagimos. Elas querem um pouco do que seria ver uma novela.
     Sinto que gostaria de me jogar de um precipício a estar aqui. É como aqueles memes que dizem... Você prefere viver um relacionamento aberto ou virar um orangotango que dança break dance. E tem um vídeo de um orangotango dançando break dance. Aí você prefere ser o orangotango dançando o tal do break dance.
    Imagine agora o vídeo daquele homem se jogando no lago congelado lá de cima que eles usam pra falar que amam o frio e não o calor... Essa sou eu pulando do meu precipício pra morrer congelada lá embaixo. Porque eu preferia isso a estar aqui. Ou ser aquele meme do homem comendo gelo num lago congelado.
     Não sei se deu pra entender minhas referências ao que eu estou sentindo, mas vamos fingir que eu expliquei bem. Porque eu estou numa fria, eu sei que estou numa congelante! 
     Eu sou aquele vilão do Batman que é o senhor do gelo, sei lá que nome ele tem, mas eu lembro dele no filme do Batman que tem tetas e tem a Batgirl, que eu amava ver quando criança porque ela era a única heroína que existia pra eu falar que era nas lutinhas com os meninos. Por isso, eu tenho uma memória afetiva enorme, mesmo ele sendo tão ruim.
    Eu olho para ela ali, com seu fone no ouvido e olhando para o roteiro. A gente tem que fazer aquele papel de sorridentes ou de uma boa convivência, ainda mais depois das fofocas da galinha cacarequenta da Mel Diaz.
      O treinamento antes da gravação dura um tempo. E ela está com as mãos no roteiro, os fones grandes de ouvido, além do rosto pouco maquiado. O microfone preto bem na frente. Uma visão do inferno!
    Os cabelos estão amarrados em um coque. Ela olha concentrada para o papel. Consigo ver a orelha com três furos, mesmo tampada com os fones, porque ela tem isso. E o brinco que está ali é de prata porque eu também sei. Bem bonito, até, mas merecia estar na orelha de alguém bem melhor que ela. E nem venha me perguntar como eu sei dos brincos dela, seria complicado explicar. Acho que é porque fico olhando muito a orelha dela, sei lá. Nem eu sei.
    E é estranho, acho que ela come as unhas porque são pequenas. Não do tipo que são bem pequenas que ficam na metade e no sabuco, só pequenas. Mas estão com um esmalte preto que se destacam nos dedos brancos das mãos dela. Também há anéis em seus dedos. Anéis de prata. Não possuem pedras, mas possuem detalhes. Além da pulseira em sua mão. Também de prata. Acho que ela gosta de prata.
    Ela não usa óculos para ler. Até nisso, ela nasceu com sorte! Eu uso óculos. Vida de cega. Sabe como é... A gente precisa usar, senão dá dor de cabeça. É muita leitura de roteiro e releitura de roteiro. Mas nada me dá mais dor de cabeça do que estar aqui nesse lugar em companhia dessa mulher intragável, lendo e relendo roteiros, e mais roteiros. 
    Saudades do Ícaro porque ele rende pauta. Pelo menos, eu não preciso ficar convivendo com a Rebecca. Convivo com outras pessoas. Até com a Nam é mais satisfatório gravar sozinha, mesmo que ela seja um tanto exigente. Afinal, ela é a diretora. Ela tem que ser assim mesmo. É o trabalho dela exigir e o meu de acatar a exigência. Ela é a minha chefe. Ela é quem comanda. E o lugar do ator é de atuar e não de dirigir. O dela é de me dirigir da melhor forma para o público gostar mais.
    Por falar em atuar... Vou ter que ser uma atriz muito foda pra conseguir fazer uma voz de apaixonada por essa mulher quando chegar a hora. Eu tenho é nojo. Vontade pura de vomitar. Não suporto ela. O que me faz fazer com gosto as partes em que a Pilanthita fica desejando roubar ela. 
     Sabe o que é você ter ranço de alguém? Até a respiração te incomoda. A presença te afasta. É um asco terrível! Um, ah, quero morrer aqui! Que horror! Por que Deus fez essa pessoa? Seria melhor nem ter inventado!
     Imagine só ter que passar horas em um estúdio, gravando e treinando juntas pelo tom perfeito de cada cena. Porque uma novela que só se usa o auditivo é diferente da visual. Tem que ter a entonação correta, ter todos aqueles trejeitos na voz. Tanto que a dublagem é complicada. Nem todos os atores de novela ou filmes conseguem fazer uma dublagem boa. Sério, a dublagem brasileira deveria ser bem mais valorizada.
     Mas, de qualquer forma, eu estou olhando para Rebecca Armstrong. Eu odeio essa mulher. Ela xingou minha mãe por causa de macho e ainda se acha no direito de ficar ali com sorrisinhos pelo canto da boca só porque eu levei a maior bronca porque pareceu que eu comecei tudo. Além de que ela é a amiguinha da diretora. Óbvio que eu levaria nas costas e ela sairia impune.
    Eu sinto raiva. Um ódio frio. Aquele tipo de frieza que poderia te fazer até matar alguém. Mas eu não vou matar ninguém. Deveria, mas não vou. Eu tenho uma carreira e tenho boletos pra pagar. Preciso trabalhar. Não quero deixar de trabalhar com o que eu amo por causa de mulher louca.
     Acho que preciso sair um pouco e arejar, dar um pouco, comer um pouco, mas o trabalho tem me tomado muito o tempo. Eu também estou me preparando para a próxima novela das nove. E sabe como é uma novela das nove... Né? Muito trabalho!
     Há o laboratório que dura um mês ou um mês e meio, até dois se deixarem. Você grava muito por meses a fio. Grava até estar exausta, mas vale todo o preço. É a novela das nove! 
     Mas entendo que muita gente esteja trocando isso pela Netflix, HBO e a caralha a quatro. Dura menos tempo e ganha mais dinheiro. Só que eu gosto de trabalhar para o povão. Você sai na rua e as pessoas de todos os meios sabem quem é você. Algo que stream nenhum dá porque ele alcança só uma parte da população, a que tem dinheiro. Não é como chegar na casa da Dona Maria Joana da Silva de sessenta anos de um bairro humilde no interior do Amazonas. Isso só a TV aberta dá.
    — Muito bem, já terminamos por hoje. — Nam avisa e já dou aquela suspirada de alívio.
    — Ricardo, você tá indo pra casa? — Becky fala para o produtor e me seguro para não revirar os olhos. Deve estar dando em cima dele.
    — Hoje vou ficar mais tempo, Becky. Você vai? — Ele dá de ombros.
    — Hum, eu tô indo para o pagode. Dançar um pouco, sabe? — Becky faz uma cara de sapeca e solto o meu fone em cima da mesa.
    — Pagode é bom. — Ele fala e começo a sair do estúdio o mais rápido possível porque não quero ouvir essas lorotas.
    — Pagode é vida, meu amor! — Ela fala lá atrás. 
    Reviro os meus olhos porque ninguém está vendo. Eu posso fazer isso longe das pessoas, não posso fazer perto. Minha fama não tá lá das melhores e as pessoas não vão gostar de mim pelo que eu sou, Taylor Swift. Rebecca me colocou numa situação bem difícil. Qualquer coisa, parecerá que eu sou imatura e encrenqueira.
    Eu odeio essa praga! Como podem gostar tanto dela? Ela é louca, sonsa, mal amada, xinga a mãe dos outros. Minha mãe morreu quando eu tinha dois anos. Ela morreu de câncer. Todo mundo sabe minha história de vida e ela acha que pode xingar minha mãe assim. Não pode! Eu não deixo!
     Não acho justo a Rebecca ser tão querida, se ela é uma pessoa tão má a ponto de desrespeitar a morte de uma mulher assim. Sei lá... Você já sentiu isso? De que pessoas ruins são mais queridas que a gente que não mexe com ninguém? Parece que, por mais que elas sejam más, ainda vão ter tudo de bom, enquanto a gente só vai se ferrar nessa vida. Não é justo, isso! É foda, ferra com nosso emocional!
    Mas enfim... Vou até meu camarim e fecho a porta. Dou aquela respirada profunda e solto o ar bem lentamente. Um dia a menos, finalmente! Uma cena a menos. Um capítulo a menos. Logo estarei longe daqui. Não vou precisar ficar tão perto de Rebecca Armstrong. Vou agradecer quando isso acabar.
    Chego perto da minha mesa e noto que tem um papel em cima dela. Dou de ombros porque deve ser da camareira. Ela costuma deixar um bilhete para avisar que esteve aqui e limpou para eu não pensar que alguém entrou.
    Vou e dou uma maquiada no rosto. Acho que vou ligar pra Faye e ver se ela quer ir para a praia amanhã. Estou precisando tomar um sol e sentir uma areia quente debaixo do meu pé. Depois, me jogar um pouco no mar. Sentir a água salgada no corpo e me sentir limpa de tudo. Como se Iemanjá me limpasse toda. Acho que preciso de uma abraço de Iemanjá porque os dias estão difíceis.
    — Praga, quer ir pra praia cedo? — Pergunto pra Faye por áudio.
    — Praia? Opa! — Faye parece animada.
    — Firmeza, te busco às sete. — Ela concorda e eu saio do Whatsapp.
    Pego minha bolsa e saio andando pelos Estúdios Globo. Acho bem legal que muita gente anda naqueles carrinhos para ir aonde é longe. Eu já andei algumas vezes. Muitas, na verdade. Sempre é a melhor forma e é de boas. É um ostume que adoro. E agora que está tarde, vou ver se tem algum para me levar perto do estacionamento.
    Saio andando e fico feliz que o carrinho tá ali. Você pode dirigir, mas o costume é ter um motorista nos carrinhos porque tem que evitar algum acidente, né? Até porque tem atores que vêm trabalhar cheirados ou bêbados. É normal, até, mesmo que se fale pouco sobre isso. Mas a Globo não vai deixar ator em descontrole destruir o carrinho ou causar um acidente. O estacionamento fica lá na puta que pariu. Qual puta? Não sei. Mas perdão à puta por xingar ela.
    — Oi, seu Antônio. Tudo bem? — Cumprimento o senhor que dirige o carrinho. — Poderia me levar no...
    — Caralho, viado! Ainda bem que tem carrinho aqui! E aí, seu Antônio! Feliz em ver o senhor de novo! Muita correria com seu carrinho? — Ela aparece toda serelepe e eu penso... Minha Iemanjá, jogue um tsunami aqui e leva esse baiacu embora, por favor!
     — Boa noite, dona Rebecca. Correndo bastante. Sabe como é... E a senhora? — O homem sorri para ela como se eles fossem melhores amigos há anos. Eu digo que todo mundo gosta dessa criatura deplorável! Aff! Eu mereço!
     — Pois é, seu Antônio, mó correria! A gente tem que fazer os corre, né? E a sua esposa? E os filhos? Tudo na tranquila? — Ela continua rindo e eu olhando com cara de bosta mesmo. 
     — Tudo tranquilo. Vai pra onde? — Ele pergunta pra ela.
     — Ah, o mesmo lugar de sempre! Tu sabe onde é! — Rebecca se senta na frente antes de eu me sentar e eu lanço aquele olhar de que queria que ela explodisse igualzinho no The Boys e voasse sangue pra todos os lados. Morra, desgraça!

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