Lindo, tocante, gentil

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Sentar-se em uma igreja, para assistir uma missa, não seria uma coisa que estaria em seus planos logo pela manhã de um sábado qualquer.

Visto que geralmente nessa hora estaria dormindo ou na cama de um motel ao lado de um cliente, ou na sua própria casa, cansada depois de uma noitada em alguma boate dessas... a vida parecia realmente, ter tomado um rumo distinto.

Tudo era tão diferente!

O sol que vinha pelos vitrais, iluminando as pessoas ao redor. Famílias, senhores ao lado de suas esposas, de crianças sorridentes, bebês de colo.

Estudava a realidade que a cercava, sentindo-se um nada, descolada, mesmo que estivesse vestida como uma pessoa pertencente aquele grupo.

Dentro do seu coração, a face da verdade lhe dizia: você sabe que não faz parte desse mundo. Não adianta correr, não adianta fugir. Estará marcado para sempre no seu passado.

Agora, imagine só, se alguém descobrir? O que irá acontecer com a reputação do homem que você ama?

Por Deus, se Ele estivesse lá para ouvi-la. A garganta dolorosamente seca fisgou, junto ao seu olhar que no momento se focava na cruz fincada na parede. Atentou-se depois, ao terço em suas mãos pequenas.

Aquelas mesmas mãos, indignas, que não deveriam estar segurando algo tão sagrado.

As mãos sujas de sexo, que masturbaram vários tipos de pênis, que tocavam vários corpos de vários homens... não poderia estar tocando, um terço puro.

Fechou os olhos, engolindo o choro, todo o seu pesar.

Adrien que estava ao seu lado, meditando, percebeu seu mover inquieto e direcionou sua atenção para si a vendo tensa com os ombros abaixados e o semblante franzido.

- Marinette...? - ele perguntou inclinado o rosto para o seu. - Esta tudo bem?

Não podendo olhar para ele, confirmou, mas era obvio que estava mentindo.

-Você esta se sentindo mal... por estar aqui?

A mestiça tentou mover a boca, deixando apenas um pouco de ar sair com um sim fraco. Adrien não se convenceu, se aproximando mais junto às suas mãos unidas.

- Quero que me ouça com cuidado. Não se sinta obrigada a estar aqui. Apesar de eu acreditar que Deus está muito contente de te ver na casa Dele. Ele, não espera que seus filhos venham para cá sofrer.

Então, virando o rosto finalmente para vê-lo, Marinette remoeu os lábios, fraquejando seu sorrir.

-... eu não acredito que Ele esteja feliz que eu esteja aqui..

- Não, não diga isso. - a tocando em seu ombro, suspirou.

- Os meus pecados, os meus temores... não podem ser apagados do meu coração Adrien. Toda vez te vejo envolta desse ambiente, eu percebo, que estou em outro muito distinto, divido por um abismo enorme.

A missa ao fundo já estava prestes a começar. No fundo, Adrien sentiu vontade de tirá-la dali para que conversassem, mas preferiu que seria melhor assistir até o final do rito, para que a própria Marinette se acalmasse, nem que para isso, ele segurasse sua mão o tempo todo.

- Pode fazer uma coisa, por mim?

Ela confirmou em silencio.

- Por agora, durante a missa, esqueça de tudo. Esqueça do seu nome, esqueça do meu nome e só pense nas nossas mãos unidas e em Deus. Lembre que Jesus, mesmo sendo o Senhor, nasceu em um lugar pobre, e que Ele só andava com pessoas que se diziam indignas de estarem em sua presença.

-Adrien...

- Nem você, e nem eu somos dignos Mari, mas mesmo assim estamos aqui, juntos, juntos com o nosso pai. Tenha isso na sua mente agora, ta bom?

Mais uma vez, não podendo resistir ao sorriso de Adrien junto ao seu pedido tão lindo, tocante e gentil, tal como eram os toques suaves dos dedos dele unidos aos seus, se permitiu permanecer ali.

Sentados lado a lado, ouvindo das palavras do padre, o cheiro do incenso, as orações pelas quais não sabia rezar, as canções que não sabia cantar, o amor, que nunca foi apresentado.

Sentindo toda vez que se falava da paixão de Cristo, Adrien apertava sua mão, como se dissesse em silencio:

"Ele também morreu por você, e renasceu por você."

O viu se levantar para receber a comunhão. Na hora que o padre levantou a hóstia, Adrien ajoelhou e a recebeu em suas mãos. Uma cena tão linda, tão linda, que uma lágrima escorreu pelo olhar azul de Marinette, pela qual segurou o terço.

Ela não fazia ideia a menor ideia do que era aquele sentimento, não poderia dizer que estava se apegando as coisas que a cercavam. Ainda não. Era tudo muito distante. Mas uma coisa, tinha certeza.

De que gostaria ir com Adrien sempre na missa e vê-lo demonstrar a adoração que sentia por Deus da sua forma única.

Esse mesmo amor, que desejava ter também para si. Não disputado com o Altíssimo, porque não teria a menor condição de vencê-lo. Não queria vencer.

Olhando para a cruz focando o olhar no rosto de Cristo, deu um pequeno sorriso enquanto que Adrien rezava ajoelhado ao seu lado, passando uma das mãos sobre seus ombros.

O mesmo sorriu sem se virar, e quando terminou suas preces sentando-se ao seu lado, fechou os olhos no momento que Marinette lhe deu um beijo na testa.

- Eu te amo. - ela se confessou sem fazer som, unicamente, movendo os lábios.

Adrien sentiu seu coração se aquecer ainda mais, já emocionado pelas suas próprias orações. Apertando sua mão a dela, junto ao terço, confirmou seus sentimentos.

Mesmo que não estivesse entendo, o que realmente, eles significavam.

- Também te amo, Marinette.

Next time I'll fall in love with youOnde histórias criam vida. Descubra agora