Um bom tempo havia passado debaixo da terra. Tempo o suficiente para que Einar e Holger ficassem gelados e preocupados, mas nenhum deles tinha a intenção de falar sobre isso. Os únicos ruídos eram os filetes d'água que pingavam, a única visão, pontinhos verdes luminosos nas paredes e no chão da caverna. Apesar disso, para surpresa geral, Ingrid parou e alertou o grupo:
"Psiu! Estão ouvindo isso?"
"O quê?" — sussurrou Jorun.
"Gente! Gente conversando."
"Gente, aqui dentro?" — murmurou Holger — "Ou é o príncipe ou é algum draugr."
"Não diga isso!" — resmungou Jorun mais alto.
"Quer que eu diga o quê? Eu me recuso a chamar aqueles estranhos de gente."
"Silêncio, vocês dois!" — grunhiu Ingrid no escuro — "Fiquem quietos aí. Vou dar uma olhada e já volto."
As asas do elmo cobriam os cogumelos brilhantes, conforme a caçadora passava adiante. Assim que seu vulto desapareceu no túnel, Einar tocou o ombro de Holger.
"Que foi? Está com medo também?"
"Está sem armadura, chefe? Eu pisei em um buraco bem aqui. Tome cuidado."
"Eu não sou uma aberração da natureza como a nossa ferreira. Vai me dizer que consegue mergulhar com 12 kg de aço na corcunda?"
"Quietos, vocês dois!" — avisou Jorun — "Eu também estou escutando alguma coisa..."
Palavras ininteligíveis foram ouvidas na escuridão.
Antes que pudessem entender algo, o rosto esverdeado de Ingrid voltou a aparecer.
"São estranhos" — explicou ela — "Quatro deles. Estão falando na língua dos tróis, ao que parece."
"Não é melhor pegar outro túnel?" — questionou Einar.
"Não! Temos que abatê-los em silêncio. Depois daquela curva, vocês vão sentir um cheiro de fumaça e avistar uma luzinha vermelha no canto. Não tem como errar o caminho."
Então o grupo sacou suas armas e seguiu o curso indicado. Segundos mais tarde, já estavam na entrada da câmara dos estranhos. Havia uma fogueira com um grande caldeirão. Pareciam bastante animados com o que borbulhava lá dentro.
"Escutem" — sussurrou Ingrid — "Cada um de vocês precisa ir perto de um deles. Vou mandar uma flecha naquele de costa larga para chamar a atenção. Daí, vocês correm para silenciar os outros."
"Vou pegar o barbudo feioso" — avisou Holger.
"Minha armadura vai fazer barulho" — explicou Jorun — "Vou ficar aqui e arremessar meu machado naquele mais alto, fica fácil de acertar."
"Vou me esgueirar até o que sobrou" — explicou Einar "Consigo rachá-lo em dois rapidamente."
"Está certo" — confirmou Ingrid —, "não deixem que gritem. Einar e Holger, podem ir."
Os dois valentões obedeceram e logo seus vultos escorregaram pelas paredes rochosas. Jorun levantou sua machadinha na altura do ombro, aguardando o sinal da irmã.
"Agora!" — disparou Ingrid.
Um, dois, três, quatro flechas zuniram no escuro. Cada uma delas atingiu um alvo diferente, mas o resultado para cada um deles foi igual: quatro estranhos caídos no chão e silenciados para todo o sempre.
"Que merda foi essa, Ingrid?" — queixou-se Holger.
Einar abaixou seu machado sem falar nada.
"Por que nos fez perder esse tempo?" — reclamou Jorun — "Não disse que suas flechas estavam acabando?"
VOCÊ ESTÁ LENDO
Möjrakitan - A Saga das Três Irmãs
FantasyNo coração da Suécia, envolta pela imensidão dos bosques nórdicos, três irmãs órfãs cresceram sob os olhares atentos do povo de Örebro, que as acolheu. Halthora, Ingrid e Jorun foram encontradas à beira do bosque, criadas por diferentes famílias daq...