1.(Lilith)

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— Por favor... não faça isso. Estou implorando, não faça isso! — A voz dele tremia, cada palavra carregada de desespero e medo. Seus olhos, arregalados e cheios de lágrimas, suplicavam para que eu parasse. — Olhe para mim!

Eu o encarei com um ódio fervente brilhando nos meus olhos, sentindo a fúria pulsar em cada fibra do meu ser. Sacudi a cabeça, tentando afastar as memórias dolorosas que me assombravam, e voltei meu olhar para o outro garoto, que estava imóvel, paralisado de terror.

— Se você fizer isso... — ele continuou, a voz quase um sussurro, sufocada pelo pânico. — Se você fizer isso, eu nunca vou te perdoar. Por favor, baixe a arma.

Minhas mãos tremiam, o peso da arma sentindo-se insuportável em meus dedos. As palavras dele ecoavam na minha mente, misturando-se com a cacofonia de dor e traição que me consumia. Cada palavra dele era como uma lâmina afiada, cortando através da raiva que me cegava.

Ele deu um passo hesitante na minha direção, seus olhos suplicantes fixos nos meus.

— Não precisa ser assim... — sua voz era baixa, quase quebrada. — Há outra maneira. Podemos encontrar uma saída. Mas se você fizer isso, se ceder a essa raiva, tudo o que restará será arrependimento e desolação. Eu sei que você está machucada, mas por favor... por favor, baixe a arma.

Senti uma lágrima quente escorrer pelo meu rosto, criando uma rachadura em minha outrora irruível postura de ferro, a qual era sustentada por pilares de ódio aparentemente infindo. Mesmo assim, fui capaz de sentir - apenas um breve momento - um doloroso conflito entre emoções dicotômicas, levando-me aos resquícios de minha prévia humanidade, a qual eu pensava ter perdido, de modo que esta fosse capaz de brilhar através da escuridão, assim como a luz farol em meio a um mar noturno e tempestuoso.
 No entanto, a dor e o ódio falaram mais alto, e o vórtice emocional no qual eu me encotrava puxou-me para o abismo, afundando a minha fraca embarcação e esvaindo a luz do farol. Eu já havia me corrompido pelo abismo faz muito tempo, e não poderia deixar tudo aquilo para trás.

Então, o som seco do gatilho sendo acionado ecoou pelo ar. A bala atravessou o peito do garoto ao seu lado, e seus olhos se arregalaram em um último momento de incredulidade antes de ele desabar no chão, sem vida.

Eu me virei para ele, a raiva e o desespero fervendo dentro de mim. — Eu avisei — murmurei, a voz embargada.

Sem hesitar, apontei a arma para ele e disparei. O tiro acertou seu braço, e um grito de dor escapou de seus lábios enquanto ele caía no chão, segurando o ferimento. Tremendo, larguei a arma, que caiu com um som surdo no chão. Dei passos trôpegos para trás, o horror do que eu havia feito começando a me envolver. As lágrimas agora corriam livremente pelo meu rosto, e sem olhar para trás, virei-me e corri. Corri para longe da escuridão, do sangue e da traição, tentando escapar dos fantasmas que agora me assombrariam para sempre.

Enquanto eu corria, meu coração batendo descontroladamente, esbarrei em algo duro e sólido. O impacto me jogou ao chão, e a dor irrompeu pelo meu corpo. Olhei para cima, e o horror se espalhou pelo meu rosto.

— Olha o que temos aqui, uma garota linda e inofensiva — uma voz grave e cruel ecoou pela escuridão, seguida por risadas frias e cortantes. Senti um calafrio percorrer minha espinha.

Tentei me levantar, mas minhas pernas estavam fracas, e o pânico me paralisou. Meus olhos arregalados procuravam uma rota de fuga, mas já era tarde demais. Mãos fortes me agarraram, me puxando para a escuridão.

— Me soltem! — gritei, a voz embargada pelo terror. Tentei me debater, lutar contra as mãos que me seguravam, mas elas eram implacáveis, apertando meus braços com uma força esmagadora. — Me soltem!

Minha luta foi em vão. As risadas ecoavam ao meu redor, cruelmente divertidas com o meu desespero. As sombras se fecharam sobre mim, e a última coisa que ouvi antes de ser arrastada foi o som das risadas, um prenúncio do terror que estava por vir.

Eu fui pega...

MortífagoOnde histórias criam vida. Descubra agora