Prólogo

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AISHA

Acordei com a dor insuportável na minha perna. Devo ter desmaiado de dor ao cair no poço e quebrar o membro esquerdo normalmente usado para andar.

Que sorte a minha!

Você não deve estar entendendo nada, não é? Ah, com quem estou falando? Devo ter ficado louca, completamente louca!

Pensando bem, uma recaptulação dos eventos passados não faria mal algum, não vou sair daqui tão cedo mesmo.


FAZENDA DA FAMÍLIA CARMEZIM, APROXIMADAMENTE OITO HORAS DA MANHÃ

Acordei com a luz do Sol no meu rosto, vovó deve ter aberto a janela. Ela só faz isso em dias especiais, como em feriados e...

5 DE ACTO!

HOJE É DIA 5 ACTO!

É MEU ANIVERSÁRIO!

FINALMENTE TENHO 16 ANOS!

Bem, não é pelo meu aniversário que estou animada. É pela comida. Meus avós sempre fazem minhas comidas favoritas no meu aniversário, é isso que faz esse dia ser completamente maravilhoso.
Passar o dia com eles, as minhas pessoas favoritas neste mundo inteiro, com as minhas comidas favoritas e comemorando enquanto fazemos as minhas coisas favoritas faz esse dia ser o melhor do ano para mim.

Pulei da cama em uma velocidade absurda, colocando os chinelos e indo até o meu velho guarda-roupa de madeira para procurar, adivinhem; roupas! 5 pontinhos para quem acertou.

Escolhi uma regata branca que logo vai estar toda manchada, uma calça verde musgo, meu fiel cinto de infinitas utilidades e algumas bolsas e minhas botas pretas.

Amarrei o meu não tão longo cabelo ruivo em um rabo de cavalo, observando as ondulações que desciam como uma cascata por um tempo antes de sair do quarto e ir em direção as escadas.

Desci as escadas e fui até a cozinha, onde um grande tactueno me esperava na mesa.

--Bone xágios, kahi'ala. (Bom dia, vovó)-- falei para a mulher de cachos grisalhos.

--Bone xágios, Ais. Noke és wo pangué, wov'ko di acto. (Bom dia, Ais. Hoje é seu aniversário, cinco de abril/acto.)

--Eis tactueno és yashi' mik? (Esse tactueno é para mim?)

--És, mik ak'ko femila. (É, minha doce menina.)

--Acgot'cho, kahi'ala. (Obrigada, vovó.)

--Diongot'cho, mccheil. Trueveb'k i katchi're. (De nada, criança. Coma e comemore.)

A obedeci sem pensar duas vezes, lavando a louça usada e indo ajudar kohi'aguto (vovô) na fazenda logo depois.

Minhas tarefas de hoje eram cuidar dos animais e depois passar a tarde comemorando com meus avós, então comecei logo.

Alimentei, limpei, tratei, conversei...

Mas você quer saber como eu caí no poço, não? Por que estou agindo como se tivesse companhia? Estou realmente ficando louca. Maluca. Lelé da cuca. Mentecapta. Insana. Doida. Pertubada. Orate. Psicótica. Biruta. Lunática. Zureta. Varrida...
Perdi o foco, desculpa.

Eu estava vivendo normalmente, eram por volta de umas duas horas da tarde e eu tinha acabado de terminar meus afazeres na fazenda, estava voltando para casa para começar a comemorar meu aniversário.
Foi quando eu vi vovô vindo até mim, correndo o máximo que suas perninhas idosas conseguiam. Ele gritou, me mandando fugir, e então, alguma coisa atravessou o coração dele
Eu me desesperei, saí correndo pomar adentro, atravessei a mini-floresta que chamamos de pomar/quintal. Corri o máximo que pude. O máximo que pude, mas cometi a burrada de olhar para trás e caí nesse poço maldito.
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Já no presente, juntei forças e me sentei. Analisei a minha situação e percebi que estou completamente deplorável.
Uma perna quebrada, dentro de um poço, não sabendo se quem o o que matou meu avô ainda está lá fora, apenas esperando para me matar como fez com ele....

É um péssimo jeito de se comemorar um aniversário. Principalmente se esse é o seu próprio aniversário.

Meu avô... mi kohi'aguto...

O homem que cuidou de mim desde sempre, me criou, me ensinou tudo o que eu sei...

Ele...

Não pode ser...

Respirei fundo, tentando limpar as lágrimas (lê-se cachoeiras) que caiam na minha pele naturalmente pálida e cheia de sardas. Agora não era hora para lamentos. Não era uma boa hora para sofrimento. Eu deveria sair dali, garantir que estava segura e só então poderia me entregar ao luto.

Tirei o cinto, o mordendo e colocando o osso em seu devido lugar, fazendo uma tala improvisada com um galho qualquer que caiu dentro do poço abandonado e o meu precioso cinto logo depois.

Ignorando a dor, me levantei, rasgando uma tira generosa da minha calça e rasgando a tira ao meio. Amarrei uma tira na outra, tirando uma das minhas botas e amarrando a mega-tira no calçado.

Mirei com calma, ainda ignorando a dor na minha perna, e acertando o velho balde, o fazendo descer.

Que estranho, não tinha nenhum balde aqui antes. Não que eu esteja reclamando, claro.

O balde desceu, e com ele uma grossa corda. Só agora eu percebi que o outro lado da corda estava logo ali, perto de mim. Se ela fosse viva provavelmente estaria rindo da minha cara de otária.

Tirei o balde da corda, a encaixando no meu pé direito e começando a subir, e subir, e subir...

De repente percebi que eu não estava mais na fazenda.
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Glossário
Tactueno = espécie de pão feito com frutas vermelhas frescas e geleia
Acto = Abril
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Dedicatória e notas da autora

Dedico esse capítulo para o meu primo, meu cúmplice de idéias malucas e séries desconhecidas.

Passar por tudo isso no própio aniversário é tenso, viu? Ainda bem que eu não tenho dó dos meus personagens🤷‍♀️

Esse foi o primeiro capítulo, de acordo com meu primo e co-autor ficou bom, então espero que tenham gostado. Sintam-se a vontade para votar e comentar. Até a próxima👋💕

VOX FLAMMAEOnde histórias criam vida. Descubra agora