Capítulo 18 / Presente

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As luzes já estavam todas apagadas, porém, o empadão do hotel servido mais cedo fez com que Vitória fosse até a cozinha tomar um pouco de água. Antes de chegar na cozinha ela viu Larissa dormindo no sofá. Ela estava coberta de suor e fazia expressões de medo angústia. Vitória não queira acordar sua amiga, mas se viu obrigada quando a respiração dela começou a ficar pesada e arrastada.

Preocupada, Vitória tentou acordá-la suavemente:

— Lari, acorda. É só um pesadelo — murmurou, sacudindo-a levemente.

Quando isso não funcionou, Vitória insistiu, agora com mais firmeza:

— Vamos, Larissa, acorda! Já é tarde.

Larissa finalmente despertou com um sobressalto, respirando pesadamente.

— Ufffff... foi um pesadelo terrível — disse, ainda se recuperando.

Vitória a confortou, dizendo que tudo ficaria bem. Mas Larissa balançou a cabeça, visivelmente abalada.

— Vitória, eu... — Larissa começou, mas sua voz falhou, carregada de uma tensão que Vitória sentiu imediatamente. — Eu precisava te contar uma coisa. Um segredo que eu estava guardando há meses e que não conseguia mais carregar.

Vitória, ao ouvir a seriedade nas palavras de Larissa, se aproximou rapidamente. Sentou-se ao lado da amiga no sofá, preocupada e atenta.

— Lari, você sabe que pode me contar qualquer coisa — respondeu, segurando gentilmente a mão dela.

Larissa respirou fundo, como se estivesse tentando reunir toda a coragem necessária para falar.

— Antes de nos conhecermos, eu estava noiva de um rapaz chamado Júlio. Ele frequentava a mesma igreja que eu.

Vitória ficou surpresa, sem saber que Larissa tinha tido um relacionamento tão sério.

— Noiva? Eu não sabia disso... O que aconteceu com ele?

Larissa abaixou os olhos, a dor visível em seu rosto.

— Descobri que ele estava me traindo. — Ela fez uma pausa, as palavras pesando como pedras. — Vi mensagens dele com outra mulher. Quando o confrontei, ele jurou que era uma armação de uma amiga de escola, que era obcecada por ele. Mas eu não podia acreditar. Não depois de tudo o que eu vi.

Vitória apertou a mão de Larissa com mais força, tentando oferecer conforto em meio àquela confusão de emoções.

— Isso deve ter sido devastador, Lari. Como você lidou com isso?

Larissa levantou os olhos, agora brilhando com lágrimas que não conseguia mais conter.

— Eu terminei tudo. Achei que era o certo. Mas... — Ela fez uma pausa, com a voz tremendo. — Algumas semanas depois, descobri que estava grávida de oito semanas dele.

— Grávida? — Vitória perguntou, chocada. — E você não contou a ninguém?

Larissa balançou a cabeça, os olhos fixos no chão, a culpa pesando em cada palavra.

— Não. Eu estava com tanto medo. Da minha família, a pressão... Eu me sentia sufocada. Não sabia o que fazer. — Sua voz quebrou, as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Pensei em... abortar. Fui à farmácia, fiz pesquisas, até comprei algumas coisas. Mas na última hora... eu não consegui. Era errado, eu sabia. E Deus... Ele nunca me perdoaria por isso.

Vitória segurou a respiração, o coração apertado pela confissão de Larissa. Era quase insuportável imaginar a dor pela qual sua amiga havia passado.

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