Verão - Lumity

04. Me leve para casa

Amity
Point of View

Estou à beira de uma crise de ansiedade, mas não é porque hoje é o dia do meu concerto, ou melhor, não é só por essa razão. É que convidei uma certa pessoa para o evento e tenho medo do que pode acontecer caso ela apareça. Mal consigo me arrumar imaginando os mais diversos cenários onde Luz chega como um cavaleiro numa armadura cintilante e diz que poderemos ficar juntas para sempre. Infelizmente não importa o quanto imagine como vai ser se ela for ao concerto porque a única certeza que tenho é que Luz não deveria estar tomando tanto espaço na minha cabeça, não quando estou namorando outro alguém.

— Ainda não colocou sua roupa para o concerto? — Escuto a voz de Edric perguntar e quando olho para a porta a vejo entreaberta e na fresta meus irmãos mais velhos estão me observando. — Amarelou maninha?

— Claro que não! — Respondo rapidamente. — Só…

Olho para Emira em busca de algum conforto e ela imediatamente entende.

— Cai fora Edric. — Ela diz para o irmão gêmeo.  — Eu e a Mittens precisamos conversar. Tipo um papo de garotas.

— Ah, é claro! Vocês e seus “papos de garota” só para me excluir. — E assim o rapaz vai embora frustrado arrancando uma risadinha nasal de Emira.

A garota de cabelo verde musgo adentra no cômodo e logo fecha a porta. Me sento na cama e ela se senta ao meu lado esperando o que vou falar.

— É ela de novo. — Digo cansada.

— Não tem como ser ela de novo se nunca deixou de ser ela. — Emira responde sagaz como sempre.

— Ao mesmo tempo que amo sua inteligência, também a odeio. — Admito.

— Só odeia porque sabe que o que disse é verdade. — Suas palavras me atingem em cheio outra vez. — Posso te fazer uma pergunta sincera?

— Claro. — Digo com certo temor.

— Sente alguma coisa pela Boscha? Alguma coisa de verdade? Positiva e apaixonante? — As perguntas soam como disparos, ela sabe as respostas, eu sei as respostas, é tudo muito doloroso.

— Só estou com ela por causa da mamãe e do…

— Não! — Acabo sendo interrompida. — Quando você realmente quer alguma coisa enfrenta nossos pais como se eles não fossem ninguém. Se está com a Boscha é porque minimamente quer. Então me diz, por que quer isso?

Fico em silêncio apenas processando cada palavra dita. Parece até mais difícil respirar. Emira não precisava estar tão certa dessa forma, ela não precisava esfregar a realidade na minha cara assim.

— Acho que estou confortável com ela. — Respondo baixinho quase que com vergonha. — É como um pedaço de vidro que acabou perfurando minha pele. Doeu no início, mas agora, tenho mais medo de retirá-lo do que lidar com o mal que está me fazendo. Pode doer, mas é conhecido e confiável.

— E eu acho que acabou de responder todas as suas dúvidas. — Emira diz. — Acredite, não vai conseguir parar de pensar em Luz. A Boscha pode ser confortável, mas é a Luz quem você realmente ama.

Olho consternada para minha irmã mais velha completamente sem palavras. Com Emira tudo sempre é direto ao ponto, um verdadeiro tapa de realidade.

— Isso… — Minha fala morre pois nem sei o que dizer. — Isso foi difícil de ouvir.

— Também não foi muito fácil de falar. — A mais velha admite colocando a mão no meu ombro dando um leve aperto em seguida. — Mas espero que tenha ajudado. Agora coloque aquele vestido para irmos logo para o anfiteatro e você arrasar no piano.