• 𝐿𝑒𝑎 𝑆𝑚𝑖𝑡ℎ •

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Assim que saio daquela sala e caminho em passos rápidos mas dificultosos, percebo que o lugar realmente era abandonado pelas diversas madeiras caídas de algumas estruturas do teto, o concreto saído das paredes, as pichações.

O homem se mantinha em silêncio desde que havíamos saído daquela sala, permanecia me segurando com uma força sem exagero.

O mais velho estava sempre olhando para os lados e quando era possível ouvir algum barulho, ele parava e segurava a arma que havia sacado da cintura com mais firmeza.

Eu sentia o meu corpo suando frio pela perda de sangue que eu estava tendo, mesmo que com um lenço amarrado no ferimento. Doía demais e o esforço ao qual eu colocava para conseguir acompanhar a velocidade em que o homem me puxava parecia contrair a ferida ainda mais.

__Estamos chegando perto da saída, aguente firme. -Sua voz soa baixa para mim, talvez até um pouco distante.

Juntos viramos e caminhamos por um corredor que levava há um grande e extenso espaço com uma grande porta de metal de correr.

Um alívio se instala em meu interior instantaneamente ao perceber que era a saída.

Com a ajuda constante do homem ao meu lado, chegamos perto da porta e ele se afasta me fazendo apoiar minha mão no pilar ao nosso lado.

__Assim que eu abrir essa porta teremos que correr, Lea. Isso está enferrujado e fará um grande barulho. -Sua mão vai de encontro ao capuz o retirando, me permitindo ver o seu rosto. Cabelos e barba grisalha, a tatuagem em seu pescoço era provavelmente o símbolo de alguma coisa. Seu olhar me lembrava alguém.

__Farei o possível. -Solto um longo suspiro e me preparo mentalmente.

E assim ele faz, segura na abertura da porta e a empurra nos trilhos. Um grande barulho ecoa no espaço vazio pelo enferrujamento.

Novamente sou segurada da mesma forma que minutos atrás por ele, mas dessa vez começamos a correr pelo gramado molhado e alto o mais rápido que conseguíamos pelo pequeno caminho até um cercado. Ou melhor, eu conseguia.

Tiros são disparados há alguns metros atrás de nós, a adrenalina aumenta em nossas veias e o meu coração acelera. Eu precisava continuar, não podia pensar na dor dilacerante em que eu sentia agora.

Meu peito doía pelas bruscas puxadas de ar, mas eu não parava de correr junto com o homem ao meu lado que não permitia que eu ficasse para trás.

Vejo uma Porsche vinho blindada há alguns centímetros de nós e não demora para que cheguemos até ela. Dou a volta rapidamente enquanto o mais velho apertava um botão destravando as portas do veículo.

Abro a porta do passageiro mas paro quando o grisalho é segurado contra a lataria do carro. Por sorte ele consegue desarmar os dois homens que me sequestraram, mas por algum motivo ambos focaram em agredir apenas o mais velho.

__Seu velho desgraçado! Desde quando se importa com os outros?! -um soco é desferido no estômago do grisalho enquanto o outro o segurava, impedindo seus movimentos de defesa.

Ver aquilo faz com que meu sangue ferva em minhas veias. Corro até eles ignorando completamente meu ferimento e deposito um chute na costela de um dos homens e rapidamente alcanço a adaga que o grisalho estava no quadril acertando a garganta do outro que o segurava, sem esperar sequer um segundo para qualquer ação do desgraçado.

Assim que ele está livre, retira a adaga da garganta do homem caído no gramado já sem vida e vai até o outro que estava caído no chão com a mão no lugar em que havia sido golpeado.

O mais velho sem esperar rasga a jugular dele sem piedade ou hesitação. Era como se fosse algo comum para ele.

__Vamos. -mesmo com as emoções acontecidas, ele não demonstrava qualquer tipo de emoção. Se mantinha sempre neutro.

Apenas concordo com a minha cabeça e novamente contorno o veículo, dessa vez entrando dentro. Encosto a minha cabeça no banco fechando os meus olhos e aperto o lenço no meu ferimento.

A porta do lado do motorista é batida e logo sinto que o carro estava em movimento pelo balançar suave.

__Quem é você? -pergunto após alguns minutos de um silêncio incômodo. Abro os meus olhos e viro meu rosto em sua direção. Eu precisava me manter acordada de alguma forma ou desmaiaria.

__John! -responde sem tirar o olhar da estrada.

__John... -e como se fosse um soco dado na minha mente, eu me lembro desse nome.- John Miller?

__Se o que você está buscando saber é se sou o pai do Noel...sim, sou eu!

__Porquê você me ajudou?

__Noel sofreu o suficiente para sentir o gosto de perder alguém novamente. -suas respostas eram vagas e sem emoções.

__Pensei que não se importasse com o Noel. -continuo o observando.

__Você como uma psicóloga deveria saber que se as pessoas quiserem, elas mudam. O que não se pode mudar é o passado.

Apesar de rasas, era possível notar uma sinceridade em suas palavras. Era muito bom que ele estivesse buscando mudar como pessoa, principalmente com atitudes. Mesmo que o meu namorado provavelmente não aceite o fato do próprio pai, ao qual ele tanto repulsa ter me salvado, acredito que os dois possam se entender com um pouquinho de esforço dos dois lados.

Eu acreditava na mudança das pessoas. Nunca seríamos capazes de mudar os nossos atos do passado, mas sempre poderíamos construir um futuro próximo melhor para nós mesmos.

E vendo o homem ao meu lado que tanto marcou o meu namorado na pele e na mente, agora com um olhar vazio e sem brilho, eu acreditava ainda mais.

Ou talvez eu apenas estivesse delirando. Viro o meu rosto para o outro lado e fico observando a estrada com ruas molhadas, carros passando.

Eu só preciso do aconchego e calor do meu namorado nesse momento.

𝑆𝑒𝑗𝑎 𝑚𝑖𝑛ℎ𝑎, 𝑎𝑚𝑜𝑟!Onde histórias criam vida. Descubra agora