Capítulo 2 - 1° noite de inverno

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Adrian e Leo se moviam com dificuldade entre as várias pessoas que aproveitavam a tarde na estalagem. O som do piso de madeira era abafado pelas músicas festivas, e o cheiro de porco recém-assado saindo da cozinha criava uma atmosfera acolhedora. Mas para Adrian, nada disso importava. Ele não ouvia a música ou sentia os cheiros, apenas o batimento do seu coração. A ansiedade pela possibilidade de obter alguma resposta mínima sobre seus sonhos recorrentes o distraía de tudo o mais.

Todos esses pensamentos corriam em sua mente, mas foram interrompidos por uma brisa que o fez olhar para o canto da estalagem. Lá estava o homem encapuzado, encarando cada movimento seu. Um arrepio súbito percorreu seu corpo, suas pernas travaram. Era como se uma presença maligna estivesse a menos de cinco metros de distância.

Adrian parou bruscamente, fazendo Leo, que estava atrás dele, quase tropeçar.

"O que houve, Adrian?" Leo perguntou, esforçando-se para se equilibrar.

"Aquele cara de capuz... Eu acho que já o vi antes," Adrian respondeu, os olhos fixos na figura nas sombras.

Leo percebeu a tensão no amigo: suas mãos tremiam e pequenas gotas de suor escorriam pelo rosto de Adrian. Preocupado, Leo sugeriu:

"Vamos esperar a noite. Esse cara de capuz vai embora e conseguiremos conversar com os outros sem problemas."

Adrian, ainda tenso e com os olhos fixos na silhueta que o encarava, concordou. "Vamos. Preciso arrumar umas coisas no estábulo."

Eles saíram juntos em direção aos estábulos, mas Adrian, apesar de seus esforços, não conseguia distrair sua mente das inquietações que o atormentavam.

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A verdade é que Adrian não tinha nada para fazer no estábulo; ele precisava se afastar. A presença daquele homem o faria ter pesadelos pelos próximos meses. A sensação de ser apenas uma presa, com aquele homem como seu caçador, era um medo que Adrian nunca imaginou enfrentar.

O sol começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. A brisa fresca da tarde trazia um leve aroma de feno, misturado com o cheiro da terra úmida.

Leo estava sentado próximo à parede lateral do celeiro, observando o amigo repetidamente, tentando distraí-lo do evento recente.

"Ai, Adrian, lembra quando soltamos os cavalos dos hóspedes sem querer?" Leo disse com um sorriso no rosto.

Adrian se esforçou para se lembrar, e as memórias vieram. "Haha, você queria muito ver o cavalo daquele vendedor. Você dizia: 'Não tem como um cavalo normal carregar esse tanto de peso, deve ser mágico,'" disse Adrian, zombando de Leo e imitando sua voz.

"Eu não falo assim, e outra, você também queria ver, não me impediu," Leo disse, levantando-se e colocando o braço ao redor do amigo.

"Não impedi porque sabia que você não iria me ouvir. Achei melhor ir com você e não te deixar tomar a bronca sozinho."

"Minha mãe acabou com a gente naquele dia. Juro que ainda tenho pesadelos com aquele sermão."

A mãe de Leo, Victoria, era a dona da estalagem, uma mulher simples, mas sistemática, que sempre tentava colocar Leo na linha. Ela era de estatura mediana, com cabelos castanhos sempre presos em um coque apertado, e olhos verdes que podiam ser tão acolhedores quanto severos.

"Realmente. Falando nisso, como ela está?"

"Ela está ótima. Não é uma simples queda de escada que vai impedir minha mãe de abrir a estalagem," Leo riu.

A mitologia de Karmus - A primeira chamaOnde histórias criam vida. Descubra agora