1. Os Vagabonds

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Os vagabonds estavam descansando, para variar. Cd era o tipo de garota que dormia toda atirada na cama, e mesmo agora ela estava com um dos travesseiros por cima do braço e metade do edredom estirado pelo chão de madeira. Era uma menina de pele clarinha, cabelos loiros que desciam até o pescoço e franja que descia até os olhos, cujo azul lembrava diamantes.

E por mais que a dorminhoca estivesse em sono profundo, um vento forte se aproximava de seu quartinho aconchegante — e foi ficando mais e mais forte — até alguém puxar a maçaneta e, com um aspirador de pó em mãos, entrar no quarto: um jovem de pele clara mas não tanto quanto a da menina, e cabelos escuros e jogados para cima em um topete estiloso (ou assim ele diria), de nome Cris.

Contornou a cama da menina, limpando o chão, sem calçar nada nos pés, vestindo calças de moletom escuras e uma larga camiseta branca de mangas curtas, pois gostava da mobilidade que as roupas mais largas lhe concediam. Quando limpou um lado, voou por cima da cama e limpou o outro, e limpou por cima do armário de madeira e também por baixo da escrivaninha, mas a menina nem deu sinais de acordar. Cris a encarou, e deu um sorrisinho sacana. Então, passou a aspirar a bochecha dela, que acordou com um berro.

"Aaaaai! O que cê tá fazendo!?", disse, puxando o cano do aspirador.

Cris pôs a mão em frente a boca rindo baixinho e voou de costas para longe como se estivesse sendo puxado pela barriga, passando pela porta e indo embora.

"Seu sacana! Não pode nem mais dormir em paz!", reclamou aborrecida e com os braços cruzados.

A cabecinha de Cris apareceu no canto da porta. "Culpa sua de dormir até as duas da tar—" Levou uma travesseirada na cara. O travesseiro caiu no chão. "Haha", disse ele, ironicamente. "Muito engra—" Levou outra travesseirada na cara.

Cd se sentou e riu enquanto apontava o dedo para ele, e Cris jogou os dois travesseiros de volta em alta velocidade, derrubando ela de volta na cama, e então ele quem riu. E os dois jogaram travesseiros um no outro, se bateram com eles, caíram da cama, e ela o enrolou no cobertor e puxou, até que Nio (considerando que os quartos ficavam no terceiro andar) gritou do segundo:

"Cês vão almoçar ou não?"

Os dois olharam nos olhos um do outro. Ela largou o edredom e ambos se puseram em pé.

"Cara", disse Cris, "o Nio tá fazendo almoço às duas tarde por sua causa. Eu tô morrendo de fome!"

"Problema seu!", disse e virou o rosto, cruzando os braços. "Já falei que podem almoçar sem mim que eu esquento o que eu quero depois."

"É, mas cê sabe como o Nio é."

Ela coçou a cabeça. "Tá, tá, eu já tô descendo. Que saco, pode nem jogar videogame até tarde mais."

"Claro que não. Assim cê vai ficar com seus horários completamente desregulados. E também vai acabar ficando febril sem pegar vitamina C, coisa que cê tá precisando, ô vampira."

"Não enche o meu saco", disse ela, com olheiras enormes e só um pouquinho mais acordada graças ao susto recente. "Enfim; vai, vai", completou, espantando-o com a mão. "Eu desço daqui a pouquinho."

Nio gritou lá de baixo, "vai ficar frio!"

Cris deu um meio sorriso, então, mantendo-se estático como uma estátua, seu corpo subiu ao ar e moveu-se como que arrastado pelo nada e voou para fora do cômodo.

Ao vê-lo sair, Cd vestiu-se de forma mais adequada, se é que podemos chamar um largo blusão velho cinzento e calças jeans justas com rasgos nos joelhos de 'adequado', então pôs chinelos brancos de uma só tira.

The Vagabonds: Clima CarmesimOnde histórias criam vida. Descubra agora