"Cada respiração é fraca quando não se tem certeza de que ele quer estar ali."
NÃO O VEJO há uma semana.
É quase como se essa casa fosse minha, como se eu estivesse aqui sozinha – Verstappen saia daqui antes mesmo que eu me levantasse, e passava pela porta da frente logo após o meu adormecer. É solitário, e ao mesmo tempo incômodo. Eu não quero estar aqui; não na casa dele, não no mundo dele. Tenho saudade do meu mundo, dos móveis simples da minha casa em Los Angeles e da paisagem árida dali, e mesmo que aos poucos eu venha me acostumando com o ar litorâneo de Monte-Carlo que gruda na pele e deixe tudo com um gosto meio salgado, poderia dizer que gostava de me sentir de volta à minha infância e às minhas férias de meio de ano que tanto amava.
Mas deixei de ser criança há muito tempo.
Tento não revirar os olhos enquanto me encosto no estofado da cadeira do escritório do Verstappen. Posso ouvir a voz de Ronald dizer frases e mais frases que adentram meus ouvidos e saem sem causar nenhum dano, e começo a observar as prateleiras das estantes repletas de livros que o piloto mantinha por aqui, e que se tornara de meu conhecimento durante a minha primeira noite de núpcias que nunca vivi – foi interessante encontrar um ambiente tão aconchegante e acolhedor como uma biblioteca em uma propriedade onde tudo parecia frio ao toque, até mesmo o seu próprio morador.
Acho que já decorei a posição de alguns livros apenas pelo modo como já observei essa biblioteca mais de um milhão de vezes e, mesmo assim, toda a magnificência do lugar não consegue abafar o tom monótono da voz do estilista-chefe do primeiro desfile de inverno da Chanel de 2023 e mordo o lábio inferior ao afastar o papel de rascunho que passei a madrugada rabiscando – como uma perfeita estúpida, aparentemente – de um desenho de roupa que havia feito, apenas para ouvir um discurso pouco inovador de Ronald a negar todas as minhas ideias de alterações em sua coleção "milimetricamente desenhada" – palavras dele, não minhas – usando o mesmo tom de voz de quem explica para uma criança porque o céu é azul, e não verde.
Que droga.
— Mas, se você tiver alguma outra ideia de design, pode me mandar por e-mail, querida. — E sorri, ajeitando os seus óculos nos quais posso ver o meu próprio reflexo na tela de seu computador, e sinto os meus dedos formigarem para que eu desligue aquela chamada de vídeo de uma vez por todas e pule todo esse discurso que já ouvi e decorei. Ele não era o primeiro a me dizer aquilo, afinal. — De qualquer forma, desenhei a sua roupa para o nosso desfile na Áustria pensando em seus gostos. Confie em mim, você irá gostar.
Assinto devagar, desviando os olhos da tela de meu notebook para as estantes de madeira outra vez. Que merda, é sempre isso: passo noites acordada até altas horas da madrugada para desenhar sugestões de vestidos, sobretudos, saias, calças e seja lá mais o que for, apenas para ver todas as minhas ideias e experiência de carreira como modelo ser descartada como se eu não estivesse vivendo essa mesma rotina há seis anos. É quase como se a minha opinião tivesse o mesmo valor de uma roupa na baixa estação – apenas uma peça antiga e sem valor comercial.
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RUINED KINGDOM || Max Verstappen
Fanfiction❝Sei que me odeia e, honestamente, não me importo. Você só seria mais uma na multidão em frente ao pódio cujo primeiro lugar sempre será meu.❞ Max Verstappen destruira sua própria reputação, e ele sabia muito bem disso. Noites em clubes noturnos, fo...