Capítulo 13

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Ando pelo corredor para alcançar o último cômodo, mas me desequilibro e quase caio ao me virar para abrir uma porta que não existia mais. Quer dizer, ela ainda estava lá, mas não no lugar em que devia. A mesma porta que antes era capaz de me proteger de uma realidade ridícula, agora estava estirada no chão. Com tudo em volta detonado, exatamente como eu havia visto antes.

Dessa vez, porém, já havia amanhecido e os feixes de sol que entravam pela janela eram tão fortes, tão brilhantes que doíam meus olhos e quase não conseguia enxergar quem estava ali, em meio a todo o entulho. Enquanto meus olhos piscavam ao se acostumar com a luz, a imagem de uma jovem negra de cabelo comprido e vermelho, se revelava diante de mim.

— Oi? — paraliso na entrada.

Quando a moça se vira, posso ver seu rosto incrivelmente conhecido e bonito. Os olhos grandes como os de um bebê, o nariz achatado e a boca carnuda. Aquela era a Kya. Bem no meio do meu quarto — ou o que sobrou dele.

Não podia acreditar nos meus próprios olhos, a vendo com o mesmo visual do pôster que ela tentava montar, ajoelhada no chão, como um quebra cabeça.

Ela sorri pra mim e o meu corpo gela. E, então, volta a encarar o seu mosaico.

— Alguém estava com muita raiva...

Eu não entendia o porquê, mas ela estava rindo.

— Eu juro que não fui eu! — me apresso a me defender.

Quer dizer, ela é minha artista favorita, viva ou morta. Não querer que ela me odeie é definitivamente uma das minhas prioridades.

— É claro que não foi, sua boba. Você juntou o dinheiro da merenda que sua avó te deu por uma semana pra comprar esse pedaço de papel.

Franzo o cenho.

— Kya... Como você...?

Ela riu outra vez, balançando a cabeça.

— Já era. Basta um momento e puf!. Não tem mais volta. Mesmo que a gente insista, mesmo que a gente queira com todo nosso coração. Mas tudo é feito para isso, né? Acabar um dia.

Abaixo os olhos.

— Eu sinto muito por ter deixado isso acontecer.

— Com um pôster? — ela sorriu e se virou para mim. — Era só uma imagem de mim, garota. Não sou eu. Eu sou eu. Não preciso me enxergar através de nada. E, você, Lola?

As batidas na porta me fazem acordar do sonho confuso

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As batidas na porta me fazem acordar do sonho confuso. Me sinto frustrada assim que retomo minha consciência, me sentando na cama e percebendo que não estava com Kya. Uma falta me pesa o peito, assim como uma inquietação. Esfrego o rosto e suspiro. Minha respiração havia voltado ao normal.

Cada SegundoOnde histórias criam vida. Descubra agora