Ele não merece ser salvo. Não merece perdão.
Ele arruinou sua família.
Ele me fez sofrer.
Ele tem que ser condenado.
O som do martelo reverbera; ele cai.
Seus pais choram descompassadamente.
Sua esposa não se surpreende, mas lembra da filha e chora...
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De um cientista renomado com uma esposa carinhosa e uma filha pequena a um detento que perdeu tudo o que considerava prioridade, essa era minha atual situação.
Cheio de demônios... Eu perdi tudo o que um dia tive.
Agora vejo o dia e a noite por uma pequena janela. Passo o dia no pátio, sob a vigilância dos guardas, e com a vista dos ninhos na antena da subestação próxima à prisão. A comida é salgada ou sem gosto algum, e às vezes é difícil identificar a mistura. Antes, a comida feita por minha esposa era quente e cheia de carinho, exceto quando estávamos brigados – o que acontecia na maior parte dos dias. Meus dias aqui são preenchidos com a leitura de livros velhos, a maioria com reflexões sobre Deus e esperança. Podemos escrever cartas também, mas a maioria das que enviei não foram respondidas, então escrevo-as para mim mesmo. Assim como esta...
Tudo que fiz para chegar aqui me causa repulsa. Eu cansei de mim, cansei de ser um erro...
Sei que esta carta não chegará a ninguém, mas perdoem minha alma.
Perdoe-me, esposa, por não ser o marido cristão que você merecia.
Perdoe-me, filha, por te deixar sem auxílio e sem uma figura paterna.
Perdoem-me, mãe e pai, por não ouvi-los.
6 anos atrás
Três brigas em uma semana. Já não aguentava mais dormir na casa da minha mãe. Sempre brigávamos por causa do meu grande afeto pelo álcool e futebol. Sei que a maioria dos casais briga, mas nós tínhamos jeitos muito diferentes de pensar, e isso trazia dificuldades até na educação da nossa filha.
– Jess, você precisa entender que foram apenas três latas. Eu não tive culpa que meu celular descarregou e não pude atender suas ligações.
Ela já estava furiosa, bufando enquanto arrumava o cabelo de Alice.
– Olha, Dean, eu não aguento mais suas desculpas, muito menos aquelas que você nem se lembra. Vou entrar com o divórcio e não quero nada de você – cuspiu as palavras com ira nos olhos. – Apenas pague o que tem que pagar, o que não vai ser difícil já que você tem tanto dinheiro para bebida. E por favor, me deixe em paz. Estou esgotada. Vou morar em um apê perto, então pode buscar sua filha quando não estiver bêbado pelos cantos.
Aquilo foi como uma faca afiada no meu estômago. Sempre tive a impressão de que este momento estava próximo, mas nunca que realmente aconteceria. Eu sempre quis ter essa família. Por que fiz tudo isso para perdê-la?
Os próximos dias foram um inferno...
Atualmente
Acordei com os gritos dos policiais, como todos os dias. A manhã era fria, como todas as outras. Fomos colocados para tomar café com todos os detentos que não fizeram algazarra nas últimas semanas.
– Pelo menos hoje a comida tem gosto, né Dean?
Oliver manteve uma risada anasalada atrás da pergunta maliciosa. Ele é meu parceiro de cela e está aqui há mais de oito anos. Não é uma boa pessoa, mas é um companheiro aqui dentro. Ele me contou sua história quando cheguei. Era casado e começou a desconfiar do marido porque ele chegava tarde em casa e mantinha uma senha no celular. Decidiu averiguar e descobriu que realmente estava sendo traído. Tudo o que aconteceu depois foi sangue no olho. Chegou à casa do amante com uma arma e atirou na perna, mas depois de ver as mensagens no celular, atirou no peito. Ele amava o marido e sua cabeça não pensou bem. O amor faz coisas que nossa mente não compreende...
Enquanto Oliver continuava a falar, minha mente vagava. Eu tentava ignorar os olhares curiosos dos outros detentos e me concentrar na lembrança do último encontro com minha filha. Ela chorava, e eu não sabia como confortá-la. A culpa me consumia, corroendo cada fibra do meu ser.
Após o café da manhã, fomos conduzidos de volta às celas. Passei o resto do dia lendo e escrevendo, tentando desesperadamente encontrar algum alívio na repetição monótona das atividades diárias.
À tarde, fomos levados ao pátio. A luz do sol era ofuscante, um contraste cruel com a escuridão que sentia por dentro. Oliver se aproximou novamente, dessa vez com uma expressão mais séria.
– Dean, já pensou no que vai fazer quando sair daqui? – Ele perguntou, inesperadamente.
Olhei para ele, confuso. – Sair daqui? Como se isso fosse possível...
– Todos temos que pensar nisso, amigo. Acredite ou não, você vai sair um dia.
Eu ri amargamente. – E fazer o quê? Não tenho mais nada.
Oliver deu um sorriso enigmático. – Todos temos uma segunda chance, Dean. Mesmo que não pareça.
Naquela noite, tive um sonho estranho. Sonhei que estava saindo da cadeia, o portão se fechando atrás de mim. Oliver estava lá, acenando. Meus pais me esperavam com um olhar grave e me mandaram para o sítio de um tio que eu nunca conheci.
O sítio era vasto e isolado, e eu me senti um estrangeiro na própria família. Quando cheguei, uma senhora me recebeu, já sabendo quem eu era. Ela me instruiu a procurar meu tio além do primeiro morro.
Subi o morro e, ao descer do outro lado, encontrei meu tio abrindo a barriga de uma vaca morta, de onde saiu um bezerro morto. A visão foi aterrorizante, e uma dor lancinante tomou conta da minha cabeça. Cai no chão, gritando.
Acordei suando frio na cela, meu coração batendo descontroladamente. Oliver me observava do beliche de cima.
– Tudo bem, Dean? – Ele perguntou, com uma preocupação genuína.
– Acho que tive um pesadelo – respondi, a voz tremendo.
Oliver assentiu. – Pesadelos são comuns aqui. Mas às vezes, eles querem nos dizer algo.
Fiquei calado, refletindo sobre suas palavras. E se aquele sonho fosse mais do que um simples pesadelo? E se fosse uma mensagem?
No dia seguinte, enquanto estava no pátio, avistei um pássaro pousado na antena. Algo sobre aquele pássaro me deixou inquieto, uma sensação de deja vu. Seria apenas minha mente pregando peças em mim novamente? Ou haveria algo mais, algo que eu precisava descobrir?
Os dias na prisão continuavam, mas a visão daquele sítio e do tio que eu nunca conheci não saía da minha cabeça. Cada vez mais, eu me perguntava: o que era real? E o que minha mente tentava me mostrar?