Extra VI

4 1 2
                                    

POV Kukorawa Keiko

Prós e contras de ter uma irmã gêmea:

Prós:

1. Faltar aula (alguma vez isso já aconteceu?)

Contras: 

2. Ter que fazer as mesmas coisas que a sua gêmea faz - sem reclamar -

E assim começa a minha vida, mais especificamente, a vida que divido com a minha irmã. 

Ter uma irmã gêmea é ótimo. Crescemos no mesmo momento e apesar das brigas na infância, em algum momento da nossa vida nos tornamos inseparáveis. Mas às vezes, irmãos gêmeos tendem a ser colocados na mesma caixinha e isso nem sempre é bom. Ainda mais quando a caixinha em questão não lhe cabe.

Mamãe nos vestia idênticas, replicava penteados, unificava nossos gostos e até aí, normal. E por ser a mais velha - minutos contam -, cresci com um senso de proteção a Kaori que precocemente começou a me dar trabalho. Ela sempre foi extrovertida ao extremo e de algum modo, aprendi a ser como ela. As amigas dela - que viraram minhas amigas - se aproximavam de mim esperando que eu fosse tão sorridente quanto Kaori, tão comunicativa, engraçada... E até aí, continuava tudo bem.

Mas nem só de amigas vive uma garota na adolescência.

Logo, começaram a chegar os garotos e dada a personalidade da minha gêmea, eles chegavam aos montes. Kaori nunca me excluiu de nada, nem das suas paqueras. Segundo ela, era "divertido" descolar encontros para mim com conhecidos dos "amigos" dela, mesmo que para mim fosse um terror. E logo no primeiro, ou no segundo encontro, eles percebiam que a fonte que havia agraciado Kaori, não havia sido tão legal comigo.

Diferente de Kaori, nunca consegui ser comunicativa, não com garotos. E isso era um problema para a irmã da garota mais legal do colégio. Por isso, tentei me aproximar de conhecidos nossos, sorri, tentei me apaixonar. Mas não deu. Não consegui sentir nada por eles.

 Como falar isso para a irmã que espera que eu trilhe o mesmo caminho que ela? Não que Kaori me forçasse, longe disso. Ela apenas queria que eu a seguisse na trilha da felicidade, que para a irmã, significava estar apaixonada por alguém. Também não entremos no fato de quase 100% das tentativas amorosas da irmã terminarem em fracasso, por quê esse POV é meu.

Voltando ao assunto, comecei a me sentir ansiosa por estar sobrando. Sophie já estava a bastante tempo com Kentin e, embora eu os ache o casal mais fofo do mundo, não consigo olhar para Kentin e ver nele o tipo de garoto que eu queria ter. Por que eu não queria ter um garoto? Quando começo a pensar nessa possibilidade, fico assustada.

E todos os meus sentimentos se transformaram em uma bola de neve quando naquele palco, deixei o meu coração saltitar. Quem era aquela garota de cabelos vermelhos e por quê ela havia me deixado tão atraída? A garota deslizava pelo palco, balançava o pandeiro e voltava para o microfone para ecoar aquela voz hipnótica e doce. Com as bochechas avermelhadas, tossi, torcendo para que ninguém tivesse percebido.

"Pensa que eu não te vi interessada?"

Ichikawa Sophie e sua habilidade de adivinhar exatamente o que eu estava sentindo. Ela estava um pouco diferente, isso era fato, talvez estivesse mais atenta a nós. Não que a Sophie do passado não ligasse para a gente, o que eu quero dizer é que antes do acidente, ela estava mais preocupada em atrair olhares e parecer inalcançável. Agora, tê-la mais próxima me faz sentir a leveza que provém dela.

Mas não era da minha linda amiga que eu estava falando. Era de outra garota linda.

Observei aquela garota pelo resto da noite e não, não tive coragem para avançar. Kaori estaria indignada se soubesse que uma Kurokawa não foi atrás do quer. Até porque, eu não sabia o que queria com aquela garota. Ou só não queria aceitar, confusa demais para aceitar o fardo pesado que significava gostar de alguém.

A garota de nome Ayane se tornou cada vez mais próxima quando o grupo de amigos do Aono se juntou ao nosso, e apesar de mais pessoas significarem mais interações, não posso dizer que aquela não foi uma ótima ideia.

E com o passar dos dias, os meus sentimentos também foram mudando.

— Ayane-san! Perdão, demorei muito?

— Nadinha, nem percebi. — A garota abanava as mãos, apontando para o lado oposto. — Bora?

Eu não sei em qual momento comecei a conversar com Ayane fora do nosso grupo habitual, e quando vi, já estava marcando um encontro para o próximo final de semana. E quando o final de semana em questão chegou, surtei.

— Eu não sabia que você gostava das Top Generation. O som delas é muito maneiro, né?

Concordei com a cabeça, percebendo que eu a estava encarando de um jeito bobo. Por coincidência eu já tinha escutado umas duas músicas dessa banda, então quando surgiu o convite, pude falar que era quase perita nelas - mesmo não sendo. -

O show foi maneiro, como Ayane havia dito, mas mais maneiro foi a oportunidade de vê-la tão solta como naquela vez. Seu corpo se movimentava livremente, acompanhado a batida das músicas dançantes.

— Então você é a mais velha? Ahá! Quando eu perguntei pro Sou ele não soube responder, mas eu tinha certeza que você era a gêmea mais velha.

— Ah, não dá pra perceber tanto... — Ri, balançando a cabeça em negação. — Assim como todas as coisas que na prática me diferenciam da Kaori. Não dá pra perceber.

— Eu discordo. — Ayane me olhava com uma sobrancelha erguida, iluminada pela luz da lua. Eu já disse que ela era linda hoje? — Eu jamais confundiria você com a sua irmã.

— Não sei não... — Insisti. — Eu sempre sou abordada com um "Oi, Kaori!" As pessoas nem pensam na possibilidade de não ser a Kaori. Talvez, você nem perceberia caso ela viesse, e não eu.

— Se a sua irmã viesse no seu lugar, eu ficaria bastante chateada. — Ayane torceu o nariz. — A Kaori é uma gracinha, mas eu prefiro você. Sabe, no dia do Show de Talentos da sua escola, eu perguntei de você para o Sou. Se vocês fossem tão indistinguíveis como você diz, não faria diferença explicitar qual das duas era o meu interesse, né? Eu sinto raiva de mim até hoje por ter esquecido o nosso mini encontro no CXC. Seu rosto definitivamente não é algo que eu queira esquecer.

Pisquei trezentas vezes ao fim das palavras de Ayane. Aquelas palavras bobas não possuíam significado nenhum, certo? Então, por que o meu coração estava agindo de um jeito tão estranho?

— Credo, pareci muito melosa falando dessa forma. Nem parece a desapegada que sou. — Rindo, Ayane apertava a minha bochecha com um sorriso divertido nos lábios. — Mas pensa nisso, tá?

Assenti, alisando a minha bochecha no local apertado até voltar para casa. Agradeci as deusas do Top Generation por me proporcionar esse... Encontro? E entrei saltitando em casa, sendo interceptada pela Kaori. Mas aqueles momentos eram só meus, proporcionados pela garota de cabelos de fogo que me via de um jeito que sempre esperei ser olhada.

Minha Nova Vida Sendo a EstrangeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora