Entrevista de emprego

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Esses dias eu fui numa entrevista de emprego, fiquei me olhando no espelho antes de chegar lá e fiquei treinando meus trejeitos pra não parecer tão gay.

Do nada alguém assobia em tom de flerte pra mim.

— Amor... você tá chique, tenho certeza que vai ser admitido! — Kai me abraça por trás e encosta o queixo no meu ombro pra nos olhar no espelho.

— Obrigado Ning. Mas, assim... — Me afastei um pouco dele e tentei descansar meus braços de forma discreta. — Eu pareço um pouco... tipo, parece que eu sou da comunidade do arco-íris?

Ele riu.

— Ah... sei lá, pra mim tá ótimo, não sei se sou a pessoa certa pra falar isso porque te conheço desde o ensino médio, mas não se preocupa muito com isso, acho que você parece bem profissional com essa roupa.

Quando cheguei lá e fiquei aguardando na sala de espera, uma mulher saiu da sala meio abatida, provavelmente não foi aprovada... O nervosismo tomou conta de mim e eu respirei fundo, eu sou o próximo da lista.

Uma mulher me chamou com um semblante meio envergonhado e eu suponho que ela seja a dona do local.

Eu entro na sala, me sento na cadeira e ela começa a entrevista. Por algum motivo eu sinto que essa Haeun parece ser como eu, se é que me entende.

Me senti mais tranquilo e acabei "soltando a franga" mas ao mesmo tempo tentei manter um ar mais sério.

O desconforto que ela parecia sentir no início permaneceu, então quando entrevista acabou não pude evitar de perguntar se ela estava bem.

— Ah... é que, a moça de agora pouco deixou cair o RG no chão, quando eu fui pegar tinha um erro nele...

Espera... então a mulher de hoje mais cedo era trans?

— Como assim? Ela é trans?

A mulher esbugalhou levemente os olhos e engoliu seco enquanto acenava que sim com a cabeça.

— Que legal, eu sou da comunidade também! — Digo tirando a coragem do fundo do cu.

Ela sorriu.
Ufa, esse negócio de um gay reconhecer o outro é real mesmo.

— O problema é que ela ficou bem desconfortável, com medo de eu chamar ela por aquele nome, fora a vergonha que a moça também deve ter sentido...

— F... complicado... — Séloko foi quase.

— Então é isso, daqui a uma semana eu te darei um retorno pelo seu telefone. Boa sorte, senhor.

E depois de exatamente uma semana, fui admitido no pet shop como atendente. Meu deus esse deve ser o melhor emprego do mundo!!! Melhor que isso é viver trabalhando com cachorrinhos fofos, cortando o pelo deles, fazendo carinho... pena que já escolhi uma área que gosto mais, mas se eu pudesse...

Enfim, esse é o momento em que a vida adulta bate na porta e você pensa "meu deus, daqui a uns meses eu vou ter independência financeira." Isso é meio assustador, mas parece legal!
É só que as vezes olho pra minha carinha bonita e fico surpreso por aquele pré-adolescente meio bixa de antigamente não existe mais... tá bom que continuo bixa, e que meu rosto não é tão jovial assim mas é estranho me ver crescer tão rápido.

Enfim, só espero não sofrer na mão da minha patroa... O que é meio possível, já que ela se mostrou bem tranquila.

Quanto ao Hueningkai, o máximo que ele achou foi um trabalho de faxineiro numa escola. Tinha outros que já trabalhavam lá então seria minimamente mais fácil, mas estamos falando de crianças e adolescentes enfurnados num mesmo local, ou seja, por mais limpinho e caprichoso meu amor seja, ele ficaria acabado e nem daria pra estudar direito com aquela carga horária.

— Meu bem, quando você começa no trabalho? — Kai perguntou ao entrar no nosso quarto.

— Segunda feira, hoje é sexta então tenho uns três dias pra estudar a sós e ficar com vocês.

— Tá animado?

— Bem, eu tô um pouco preocupado porque queria que uma moça que foi fazer a entrevista comigo conseguisse o emprego também, mas não sei quantas vagas liberadas têm...

Meu namorado suspirou e chegou perto de mim, que estava deitado na cama lendo um livro sobre Biofísica que o Kamal havia me emprestado. Tenho muita dificuldade nessa matéria, já ele, adora ver isso.

— Entendo, a vida é assim mesmo... mas eu espero que ela consiga uma segunda vaga no pet shop.

— Sabe, ela parecia bem desmotivada quando cheguei, e saiu pior ainda quando terminou a entrevista dela. Parecia que tinha tentado fazer entrevista em vários lugares. Não é justo que pessoas como nós tenham tanta dificuldade pra achar emprego só por termos nascido assim. Que ódio.

— Como você sabe se a moça era LGBT mesmo, hein?

— A chefe sapatona que te falei viu o RG dela caindo no chão, e lá tinha um nome de homem, não o dela...

— Eita, que tenso... — Ele colocou a mão na cabeça e a deslizou até o pescoço, como se fosse aperta-lo. — Mas assim, eu acho que como a tal da Haeun parece mesmo ser legal, não acho que ela iria impedir essa mulher de ir trabalhar com vocês... a não ser que a sua vaga tenha sido a última que sobrou.

Jintao apareceu gentilmente com um sorriso de orelha a orelha.

— Caralho, você achou um emprego com pessoas legais! Tu tem noção que não precisa mais se esconder tanto???

— Meu deus... é mesmo! Preciso contar isso pra vovó, ela vai ficar tão feliz!!!

— Ai, é tão fofo o fato de que toda vez que acontece coisa nova a primeira coisa que você pensa é "preciso falar com a vovó".

— Um verdadeiro netinho perfeito.

— Perfeito pra essa vovó... — Eu completei orgulhoso.

— Pior que um dos apelidos que eu já dei pro Beomgyu foi "encanta-velha." Todas as senhorinhas da nossa cidade queriam ele como neto.

Jin deu uma puta gargalhada de estourar os ouvidos.

— Poxa Kai, tu quebrou com o clima gostoso!!! — Repreendi.

— Mas essa história é verdade???

— É sim, Jin. Elas ficavam me apresentando as netas delas, e quando descobriam que sou gay as velhinhas ficavam tristes, e ficavam "Poxa, que desperdício! Um mocinho tão lindo desses gosta de homens?" Eu ria bastante quando elas iam embora.

Adão e Ivo- Igor, sei lá! - BeomkaiOnde histórias criam vida. Descubra agora