Verônica desperta aos poucos, recobrando sua consciência que atina para o cheiro doce de seu quarto.
Abre os olhos piscando algumas vezes para se acostumar com a luz até fitar a loira que se movia entre o banheiro de sua suite e a necessaire posta sobre uma poltrona.
Os cabelos presos em um rabo de cavalo impecável. As roupas sociais. Camisa cor de vinho e calça preta. E um sorriso iluminado que vestiu seu rosto assim que percebeu que a escrivã havia acordado e a observava.
- Aonde você vai? - Pergunta em um bocejo enquanto se espreguiçava.
- Bom dia, preguicinha - Anita Se aproxima da cama, se abaixando para saudar Verônica com um beijinho de esquimó - Toma café comigo? - Pergunta, depositando vários selinhos nos lábios carnudas de sua escrivã que se sentia no céu.
Um mês foi levado pelo tempo, Verônica dormir na casa de Anita ou vice-versa passou a ser algo corriqueiro.
Verônica encara o relógio na mesinha de cabeceira e depois volta a encarar sua delegada, franzindo o cenho.
- São sete da manhã.
- E eu tenho uma reunião - Se levanta, não dando margem para indagações - Te espero lá embaixo.
"Mas que porra" pensa frustrada. Só queria dormir até mais tarde e ficar ali na companhia da mulher que vinha bagunçando tudo em si e adentrava cada vez mais sua vida e seu coração. Descobria aos poucos uma infinidade de informações que se tatuavam em seu ser, como o fato de que Anita sempre era a primeira a acordar, parecia ser inimiga do sono.
No andar debaixo Anita preparava o café da manhã para duas. Feliz.
Também vinha sendo carimbada por aquele sentimento e quanto mais latentes descobria ser os seus sentimentos, mais tinha certeza que jamais poderia se revelar totalmente a Verônica. Tinha medo de perdê-la. De perder o companheirismo, a companhia, as risadas, as birras, as noites e dias infinitamente mais felizes por causa dela.
- Quem marca reunião num domingo de manhã? - Pergunta com um bico contrariado.
Anita ri puxando Verônica pela cintura, enquanto repousava no balcão. E a escrivã a envolvia pelo pescoço.
- Carvana insistiu que eu fosse encontrar alguns contatos com ele... Criar conexões que possam ser importantes... Esse tipo de reunião acontece num domingo - Revira os grandes olhos claros fingindo desdém, mas seu interior se remexia por mentir para Verônica.
- Você está fazendo contatos com quem? Com a máfia Russa?
- Acha que eu tenho cara de Mafiosa?
- Sim! - Responde sem pestanejar - Minha delegada mafiosa.
Anita sente o calor aquecer o peito e o estômago se remexer em agonia com a brincadeira velada de verdades. Um sentimento misto o qual sempre tentava bloquear a parte que lhe afligia, focando apenas nas coisas boas.
- Repete? - Cola suas testas.
- Delegada mafiosa.
- A outra parte.
- Minha? - Sorri sem jeito - Sim, você é minha delegada, só minha. Ouviu?!
A loira sentia que poderia explodir de felicidade, apesar daquele sentimento lhe ser estranho, era muito, muito bom.
- Captado, minha escrivã - Roça seus lábios e então trocam um beijo voluptuoso.
(...)
Anita estaciona frente a mansão, a felicidade de horas atrás dando lugar ao asco e culpa como nunca havia sentido.
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Senses - Veronita
RomanceDizem que entre o ódio e o amor há um fio de conversação. Ambos são intensos e afetam os sentidos, mas quando esse diálogo acontece entre a boca e o coração, tem-se o desejo desenfreado. Verônica e Anita ainda não sabiam, mas colocariam essa teoria...