𝐀𝐓𝐎 𝐈

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você diz que eu te destruí?

palavras sem sentido,
eu quebrei a barreira da santidade que envolvia seus desejos,
eu massacrei a vulnerabilidade com que te prenderam

diga-me, como a escuridão se alimenta de uma alma imaculada?
se eu fosse aceitar acusações fúteis de destruir o divino,
nada me agradaria mais — mas acusações infundadas são tão irritantes quanto a ingenuidade

manchar-te é arruinar-te; então que os deuses sejam culpados por conceder tal maldade à tua existência,
pois não sou nada além de um visionário oportunista com anseios egoístas
que se aproveitou de um coração frágil e o rompeu de seu vazio,
para que eu pudesse apresentá-lo como uma oferta ao traiçoeiro cosmos e exigir vingança pelo que ele me deu

a culpa é minha pela crueldade deles?
foram eles que me fizeram assim, e serão eles que assistirão enquanto eu incendio a criação deles

diga-me agora, querida
sua aparência irrepreensível lhe trouxe algo além de desespero?
ou o sofrimento foi um castigo pelos pecados de seus pais?

a virtude não tem valor em um mundo que consome a pureza,
e você pode me acusar por saber que, para ser o monarca dos condenados, preciso ser três vezes mais insensível

eu arranquei o fio da iniquidade que estava costurado em meu espírito,
e usei um fuso de ossos
para me fazer um manto da obscuridade e uma coroa da minha miséria

eu o visto com orgulho
e você?

— tom, um manto de obscuridade e uma coroa de miséria.

(trecho de meu livro de poesias que acrescentei aqui sem motivo algum)

𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍 𝐃𝐄𝐕𝐈𝐋𝐒 | 𝐓𝐎𝐌 𝐑𝐈𝐃𝐃𝐋𝐄 {+𝟏𝟖}Onde histórias criam vida. Descubra agora