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2014

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2014

A brisa fria que atinge meu rosto me causa um arrepio, meus cabelos longos estão desgrenhados pela ventania que os embaraçou. Não sei como está meu rosto, mas tenho certeza de que meu nariz está vermelho, pois sinto a ardência em minhas narinas quando respiro o ar gelado.

Olho para baixo, e daqui consigo ver como os carros parecem ridiculamente minúsculos passando apressados de um lado para o outro.

Faz anos que não entro em um carro.

Estou vestindo um moletom cinza surrado e uma calça igualmente desgastada. Os tênis de corrida que cobrem meus pés não conseguem esquentar meus dedos, pois a cada passo miúdo que dou em direção da beirada do parapeito, percebo que meus pés estão dormentes. Talvez esse sintoma seja por conta do frio. Ou porque estou prestes a me jogar desse prédio.

A minha vida não passa de uma tortura. Há vinte minutos, o efeito da cocaína deixou meu corpo, e talvez isso seja um dos pontos que me fazem sentir uma mínima apreensão em pular de um terraço. Mas quando contorno a situação e me lembro de todos os motivos que me trouxeram até aqui, o frio na barriga se dissipa, e isso é bom, porque não pretendo voltar para casa essa noite.

Moro com minha tia, Suzanne, e o babaca de seu marido, Lionel. Meus pais morreram quando eu tinha... 12 ou 14, foda-se, não me lembro, não tive memórias afetivas com aqueles dois. A única coisa de que não deixo de agradecer a eles, foi o fato de terem posto Sophie no mundo. Minha irmã caçula. Ela talvez seria o único motivo que me faria ficar... mas isso já não é mais possível.

À essa hora, Suzanne provavelmente deve estar dormindo depois de passar horas fofocando com os vizinhos e se empanturrando com batatas chips gordurosas. Enquanto Lionel, suponho, deve estar sentado na frente da televisão, se masturbando, sem se preocupar se alguém pode estar o observando no ato, ou sem se importar se o motivo de sua excitação é ver sua própria sobrinha dormindo.

Te encontro no inferno, Lionel.

Busco por ar, minha boca está seca, assim como minha garganta. Minhas mãos estão tremendo quando as enfio no bolso direito do moletom e puxo meu celular para fora. Estou com pouca bateria, apenas o suficiente caso eu queira ligar para alguém. Ou alguém se preocupe em ligar para mim.

Mas não existe ninguém que dê a mínima.

Então o lanço para frente com força. Observo o aparelho voar metros para frente e depois despencar até o chão. Mantenho uma expressão apática enquanto vejo o eletrônico sumir por entre as luzes da avenida agitada.

Dou mais um passo para frente, até que as pontas dos meus pés estejam sem base alguma. Ergo os braços automaticamente buscando por equilíbrio. Engulo em seco e continuo encarando a altura entre mim e o solo. É alto, bem alto.

Respiro fundo.

Essa é a última vez que tenho a chance de olhar para a única coisa de que gosto nesse mundo, além de skittles, o céu. Então olho para cima e meus olhos cansados tentam assimilar as estrelas que estão escondidas por trás das nuvens.

sua mente obscura - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora