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Seu olhar ficou confuso, e sabia que levaria uma bronca por um motivo bem óbvio assim que seu nariz entrou em contato com minha blusa.

E como previu, ela estava brava, tanto que saiu dos meus braços no mesmo minuto e cruzou os próprios.

— Você andou fumando novamente?

— Foi só um.

— Enid, eu não gosto disso — Reprimiu os próprios lábios e concordou — Eu entendo que quer buscar alguns escapes dessa merda toda, mas cigarros?

— Prefere os cortes?

O riso saiu da minha garganta de forma involuntária, o que fez o choramingando de cachorro ir junto quando levou um tapa bem-dado no braço.

— Sem gracinha.

— Desculpa — Levantou as mãos em rendição e levou as mesmas até sua cintura, puxando seu corpo para perto — Prometo evitar os cigarros.

— E os cortes?

— Wednesday, você sabe que isso é um pouco mais complicado — Olhou em volta, a estranha paz ainda estava no peito — Igual na madrugada, eu não percebi o que fiz, só fui ver quando a Cheryl já estava do meu lado.

— Baranski está a caminho — Aquilo não era para ter sido surpresa — Talvez amanhã à tarde ela esteja aqui, foi a previsão que ela me deu.

— Tudo bem, vou me preparar para esse encontro.

— Se ela teve resultado comigo, terá com você.

— O problema é que sou psicóloga, eu sei qual é meu problema e sei o caminho que tenho que seguir para resolver — Deu um suspiro e se afastou, indo em direção a cama e se sentando no colchão — E isso é um limbo maçante, querer ajuda, mas não conseguir ter.

— Cara mia, talvez você só precise ser a Enid — Suas mãos vieram para meus ombros, resultado dos seus pés leves e sorrateiros na qual eu não tinha notado sua aproximação — Apenas você.

— Wednesday, você tem noção se eu contar tudo, absolutamente tudo, desde as mortes até as aparições, podem me laudar como insana e me internarem? — Recorreu o escape em seus olhos e inspirou fundo — Seria o que eu faria no lugar dos terapeutas, é por isso que não consigo ser a Enid, eu sei como psicólogos agem, sei como são.

— Não vão te internar, Enid.

— Wed, você não sabe, mesmo que eu pense em certas horas que é uma opção.

Processou tudo o que passou em oito meses, e o que estava prestes a enfrentar do outro lado da rua. A sanidade mental era apenas fumaça em certas horas.

Olhou seus atos quando sentiu sua movimentação, segurou sua cintura quando a mesma se sentou em meu colo. Seu braço direito estava ao redor dos meus ombros, minha testa encostou na sua têmpora brevemente antes de tornar a olhá-la, antes dela voltar a me olhar, me estudar.

— Acho que ninguém seria maluco o suficiente de internar a melhor psicologa do país — Ela me arrancou uma risada, seu sorriso sutil indicava que aquele tinha sido o objetivo dela — E outra, mesmo você não gostando de mim sendo a heroína no cavalo branco, eu nunca ia deixar isso acontecer.

A veracidade da sua fala, acometia a alma, quase como se fizesse meu coração sorrir. Porque era verdade, poderia se fingir forte e falar que não precisava de um herói, mas Wednesday era minha heroína.

Franziu a sobrancelha quando ela fez um semblante duvidoso, me analisando os olhos, cada centímetro do meu rosto.

— O que foi?

SilenceOnde histórias criam vida. Descubra agora