Os dias na minha casa são sempre bem tranquilos, e hoje não estava sendo diferente.
O dia amanheceu ensolarado e quente - Na medida do possível considerando que estamos no inverno-. O cheiro de café se dissolvia no ar.
Depois de uma longa discussão com o meu subconsciente reclamando: -𝐕𝐚𝐦𝐨𝐬 𝐥𝐞𝐯𝐚𝐧𝐭𝐚𝐫, 𝐪𝐮𝐞𝐫𝐞𝐦𝐨𝐬 𝐜𝐨𝐦𝐢𝐝𝐚!.-
- Eu posso dormir mais um pouco.- Respondi enquanto cobria o rosto com o travesseiro. Após ter sido vencido pela fome, desci as escadas do quarto-sótão.Chegando na cozinha já era possível sentir o cheiro de panquecas fresquinhas e da calda de caramelo.
Félix estáva parado em frente ao fogão enquanto esquentava o caramelo: -Bom dia Lexie- cumprimentou, com um sorriso no rosto, fazendo um sinal para que eu fosse até ele.Me arrastei até Félix, esfregando os olhos e deslizando os pés pelo piso frio.
-Já disse para usar sapatos aqui, o chão não tem carpete como no seu quarto. - avisou, deixando a panela e chegando perto para inspecionar meu rosto.-'Já disse pra usar sapatos e blá blá blá...'- imitei, fazendo um gesto que com as mãos representava alguém falando.
-Está debochando de mim?Crianças debochadas não ganham panquecas. - brincou, erguendo um prato com panquecas á minha frente.
- 𝐕𝐚𝐦𝐨𝐬 𝐦𝐨𝐫𝐫𝐞𝐫 𝐝𝐞 𝐟𝐨𝐦𝐞- lamentou meu cérebro.
-Tanto faz, eu não vou morrer de fome mesmo. - retruquei, contradizendo o que meu subconsciente havia dito.
Sentei em uma das cadeiras vazias da mesa e apoiei os pés sobre a mesma.-Acho que estou criando um pirralho rebelde. - suspirou Félix, me entregando um prato com uma pilha de panquecas cobertas com calda de caramelo.
-Com certeza. -Concordei, abaixando os pés e puxando o prato pra perto.
Estava sentado na mesa, degustando as panquecas na companhia de Félix, conversávamos tranquilamente, até tocar em um assunto desagradável.
-Olha Lexie...saiba que eu pensei por muito tempo antes de decidir...- disse com certo receio.
-Decidir o que? - interrompi, questionando-o.
Apertei a barra da camisa com as mãos tremulas enquanto listava mentalmente os motivos para a preocupação de Félix.
-𝐄𝐥𝐞 𝐩𝐨𝐝𝐞 𝐭𝐞𝐫 𝐝𝐞𝐜𝐢𝐝𝐢𝐝𝐨 𝐦𝐮𝐝𝐚𝐫 𝐝𝐞 𝐞𝐦𝐩𝐫𝐞𝐠𝐨.
-𝐓𝐚𝐥𝐯𝐞𝐳 𝐭𝐞𝐧𝐡𝐚𝐦𝐨𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐦𝐮𝐝𝐚𝐫 𝐝𝐞 𝐜𝐚𝐬𝐚.
Meu cérebro buscava se acalmar destacando as ideias menos preocupantes.-Alexie Jason... -. Tinha algo de errado, sempre que usam meu nome completo é porquê vou ter sérios problemas. -Eu te matriculei em outra escola. - completou secamente.
Minha experiência com internatos e escolas não era nada boa, normalmente eu teria protestado conta isso mas o tom rispido e sério com o qual Félix terminara a frase me fez ficar calado.
Baixei o olhar fitando minhas mãos nervosas, que coçavam as faixas que envolviam meus pulsos.
-Então o que acha? -perguntou, se levantando.Meu cérebro não queria mais perguntas, queria respostas para as dúvidas que haviam se acomodado.
-𝐄𝐥𝐞 𝐧𝐞𝐦 𝐧𝐨𝐬 𝐩𝐞𝐫𝐠𝐮𝐧𝐭𝐨𝐮 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐢𝐬𝐬𝐨!
-Eu...
-𝐏𝐨𝐫𝐪𝐮𝐞 𝐞𝐥𝐞 𝐞𝐬𝐭𝐚́ 𝐬𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐭𝐚̃𝐨 𝐜𝐫𝐮𝐞𝐥?
-Eu...
-(Ele só quer o nosso bem...)
-𝐕𝐚̃𝐨 𝑚𝑒 𝐦𝐚𝐜𝐡𝐮𝐜𝐚𝐫 𝐝𝐞 𝐧𝐨𝐯𝐨?...As perguntas em minha mente cessaram.
-Eu... Acho que tudo bem, sei lá. - disse por fim.
-Vamos, eu tenho certeza que vai ser melhor pra você...- encorajou, se aproximando e tocando meu ombro. -é bem diferente do internato e... -
-Você não ouviu? Eu já falei que tudo bem. - interrompi, me levantando e afastando a mão que antes acariciava meus ombros.
-Lexie... Eu só quero o que é melhor pra você, um amigo meu é diretor desta escola e aceitou receber você.- conta, com um tom esperançoso.
-Que belo presente- digo sarcástico.
-Alexie.. Uma escola vai ser bom, tanto para aprender magias quanto para aprender outras coisas. - Tipo ler sem fazer letras flutuarem. - pontuou ele.Fazia algum tempo que contara pro Félix o meu "problema" com as letras, nunca imaginei que ele usaria a informação dessa forma.
Minha cabeça estava á mil por hora, e isso só pirou depois de ouvir Félix listando o que sua "Escolinha das Coisinhas Toscas"
Poderia mudar na minha vida.
-𝐄𝐥𝐞 𝐝𝐞𝐯𝐞𝐫𝐢𝐚 𝐭𝐞𝐫 𝐩𝐞𝐫𝐠𝐮𝐧𝐭𝐚𝐝𝐨! 𝐂𝐨𝐦𝐨 𝐬𝐞 𝐚𝐭𝐫𝐞𝐯𝐞 𝐚 𝐟𝐚𝐳𝐞𝐫 𝐢𝐬𝐬𝐨 𝑐𝑜𝑚𝑖𝑔𝑜!? 𝐏𝐨𝐫 𝐪𝐮𝐞 𝐧𝐚̃𝐨 𝑝𝑜𝑠𝑠𝑜 𝐯𝐢𝐯𝐞𝐫 𝐭𝐫𝐚𝐧𝐪𝐮𝐢𝐥𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐧𝐨 𝑚𝑒𝑢 𝐪𝐮𝐚𝐫𝐭𝐨-𝐬𝐨́𝐭𝐚̃𝐨!?
Em minha mente borbulhavam reclamações, protestos e inúmeras maneiras de ser expulso de uma escola mágica. A única coisa que conseguia sentir era raiva, raiva por ter confiado no Félix e por ter que fazer algo que não queria. Mas acima de toda essa raiva, existia um medo... Um medo que fazia meu corpo pesar, que fazia minhas mãos tremerem nos bolsos da calça, eu tinha medo que alguém me machucasse...Eu queria voltar para o quarto-sótão e ficar deitado na cama rabiscando um papel até ele se dissolver. Mas meus membros não concordavam comigo, eu estava parado como uma estátua, ouvindo lascas do que Félix falava.
Senti meu lábios tremendo e minha respiração acelerada.-𝑃𝑎𝑖... - chamei com a voz trêmula.
Eu raramente chamava o Félix de pai, só quando sentia que era necessário.
Félix se calou assim que viu meus olhos marejados.
Do mesmo jeito que só o chamo de pai quando é necessário, só choro quando não aguento esquecer o que me machuca.Ele foi até mim e segurou meu rosto. Seu olhar era de arrependimento, igual quando um cachorro mastiga o tênis favorito do dono e depois se sente culpado.
Seu olhar mudou somente quando eu perguntei: -Pai... você vai me abandonar naquele lugar... V-você deixar eles me machucarem pai? - choraminguei.
Eu sabia que isso o chatearia, mas não podia evitar de sentir medo de tudo aquilo.O olhar de Félix agora era como um mar de tristezas profundas que lentamente se dissolvia nas ondas de arrependimento.
Ele baixou o olhar e disse com as íris sintilantes: -Nada neste mundo vai te machucar enquanto eu estiver aqui...𝑴𝒆𝒖 𝒇𝒊𝒍𝒉𝒐.Me sentira 𝒑𝒓𝒐𝒕𝒆𝒈𝒊𝒅𝒐, e pela primeira em muito tempo, senti a ansiedade deixar meu corpo ao menos uma vez. Senti que conseguiria inspirar sem que meu pulmão se apressasse para mandar o ar embora.
Era uma sensação muito rara vindo de mim, - quer dizer...- é raro o meu cérebro não estar a mil por hora.
- 𝐎 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐨𝐜𝐞̂ 𝐟𝐚𝐫𝐢𝐚 𝐬𝐞 𝐭𝐢𝐯𝐞𝐬𝐬𝐞 𝐪𝐮𝐞 𝐫𝐞𝐬𝐩𝐢𝐫𝐚𝐫, 𝐦𝐚𝐬𝐭𝐢𝐠𝐚𝐫, 𝐝𝐢𝐠𝐞𝐫𝐢𝐫 𝐞 𝐬𝐞 𝐦𝐨𝐯𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐚𝐫 𝐚𝐨 𝐦𝐞𝐬𝐦𝐨 𝐭𝐞𝐦𝐩𝐨!? 𝐒𝐞𝐫𝐚́ 𝐪𝐮𝐞 𝐞𝐬𝐭𝐚𝐫𝐢𝐚 𝐞𝐦 𝐦𝐞𝐥𝐡𝐨𝐫 𝐞𝐬𝐭𝐚𝐝𝐨? - gritou o fundo do meu inconsciente.- Sinto muito por te precionar com esse negócio de escola... - começou Félix, me soltando do abraço.
Confesso que fiquei levemente triste em ter que o soltar.
- Eu realmente queria que você voltasse a estudar Alexie, seria bom para o seu desenvolvimento.- completou.
- Des... En...
- Desenvolvimento? - Félix me olhava curioso.
- É! 𝑫𝒆𝒔𝒗𝒐𝒍𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐! - Conclui, estralando os dedos.
- Alexie, a escola. - Suspirou.
- O que você acha da escola?-
- Eu posso tentar... -
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☆ᴀʟᴇ́ᴍ ᴅᴏ ᴍᴇᴜ ᴜɴɪᴠᴇʀsᴏ☆
Viễn tưởngᴜᴍᴀ ʜɪsᴛᴏ́ʀɪᴀ sᴏʙʀᴇ ᴜᴍ ᴊᴏᴠᴇᴍ ʙʀᴜxᴏ ᴏ̨ᴜᴇ, ᴀᴘᴏ́s ᴛᴇʀ sɪᴅᴏ ʀᴇsɢᴀᴛᴀᴅᴏ ᴅᴇ ᴜᴍ ɪɴᴛᴇʀɴᴀᴛᴏ ᴇ ᴀᴅᴏᴛᴀᴅᴏ ᴘᴏʀ ᴜᴍ ғᴇɪᴛɪᴄᴇɪʀᴏ, ᴘʀᴇᴄɪsᴀ ᴀᴘʀᴇɴᴅᴇʀ ᴀ ʟɪᴅᴀʀ ᴄᴏᴍ ᴀs ғᴀsᴇs ᴅᴀ ᴠɪᴅᴀ ᴇᴍ ᴜᴍᴀ ɴᴏᴠᴀ ᴇsᴄᴏʟᴀ. sᴇʀᴀ́ ǫᴜᴇ ᴇ́ ғᴀ́ᴄɪʟ ᴀᴘʀᴇɴᴅᴇʀ ᴄᴏɪsᴀs ᴇɴᴏ̨ᴜᴀɴᴛᴏ ᴀs ʟᴇᴛʀᴀs ғʟᴜᴛᴜᴀᴍ ᴇ ᴍᴜᴅᴀᴍ...