Amantes velhos e estranhos novos

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Poppy
Blossom Grove, Geórgia Dias de hoje
Aos dezessete anos de idade
— Ele está voltando.
Três palavras. Três palavras que fizeram minha vida entrar em parafuso. Três palavras que me apavoraram.
Ele está voltando.
Olhei para Jorie, minha amiga mais próxima, apertando os livros contra o peito. Meu coração disparou feito um canhão, e o nervosismo tomou conta de mim.
— O que você disse? — sussurrei, ignorando os estudantes em torno de nós no corredor, todos apressados para a aula seguinte.
Jorie colocou a mão em meu braço.
— Poppy, você está bem?
— Sim — respondi fracamente.
— Tem certeza? Você ficou pálida. Não parece bem.
Fiz que sim com a cabeça, tentando ser convincente, e perguntei: — Quem... quem te disse que ele estava voltando?
— Judson e Deacon — ela respondeu. — Eu estava agora na aula e eles

diziam que o sr. Kristiansen será enviado de volta para cá pela empresa em que trabalha. — Ela encolheu os ombros. — Dessa vez para sempre.
Engoli em seco.
— Para a mesma casa?
Jorie se retraiu, mas assentiu com a cabeça.
— Sinto muito, Pops.
Fechei os olhos e inspirei para me acalmar. Ele estaria novamente na casa ao lado... o quarto dele novamente de frente para o meu.
— Poppy? — perguntou Jorie, e abri meus olhos. O olhar dela estava repleto de compaixão. — Você tem certeza de que está bem? Você mesma voltou há apenas duas semanas. E sei o que ver o Rune vai causar...
Forcei um sorriso.
— Eu vou ficar bem, Jor. Eu já não o conheço mais. Dois anos é um longo tempo, e nesse período eu não falei mais com ele uma única vez.
Jorie franziu o cenho.
— Pop...
— Eu vou ficar bem — insisti, levantando a mão. — Preciso ir para a aula.
Eu estava me afastando de Jorie quando uma questão estalou em minha cabeça. Olhei por cima do ombro para minha amiga, a única amiga com quem eu tinha mantido contato nos últimos dois anos. Enquanto todos pensavam que minha família tinha saído da cidade para cuidar da tia doente de minha mãe... Só Jorie sabia a verdade.
— Quando? — reuni coragem para perguntar.
O rosto de Jorie suavizou-se quando ela percebeu o que eu queria dizer.
— Hoje à noite, Pops. Ele chega hoje à noite. Judson e Deacon estão avisando todos para ir ao campo à noite para dar as boas-vindas a ele. Todo mundo vai.
Senti suas palavras como um punhal atravessando meu coração. Eu não tinha sido convidada. Mas, também, eu não seria. Eu tinha ido embora de Blossom Grove sem uma palavra. Quando voltei para a escola, sem estar no braço de Rune, eu me tornei a garota que sempre deveria ter sido: invisível para a galera popular. A menina esquisita que usava laços no cabelo e tocava violoncelo.
Ninguém – exceto Jorie e Ruby – se importou por eu ter ido embora. — Poppy? — Jorie chamou novamente.

Pisquei até voltar à realidade e percebi que os corredores estavam quase vazios.
— É melhor você ir para a aula, Jor.
Ela deu um passo em minha direção.
— Você vai ficar bem, Pops? Estou preocupada com você. Dei um riso sem humor.
— Já passei por coisas piores.
Baixei a cabeça e me apressei para a aula antes que eu pudesse ver a compaixão e a pena no rosto de Jorie. Entrei na aula de matemática e deslizei em minha cadeira assim que o professor começou a lição.
Se alguém depois me perguntasse sobre o que a aula havia sido, eu não seria capaz de dizer. Por cinquenta minutos, eu só conseguia pensar na última vez em que havia visto Rune. A última vez em que ele tinha me tomado nos braços. A última vez em que encostara os lábios nos meus. Como fizemos amor, e o olhar em seu lindo rosto quando ele foi levado de minha vida.
Inutilmente, eu me perguntava como ele estaria agora. Ele sempre tinha sido alto, com ombros largos, corpo bem-talhado. Mas, no que dizia respeito a outros aspectos, dois anos era um longo tempo para uma pessoa mudar na nossa idade. Eu sabia disso melhor que ninguém.
Eu me perguntava se os olhos de Rune ainda eram tão azuis que pareciam de cristal sob o sol forte. Eu me perguntava se ele ainda usava cabelo comprido e se ainda o puxava para trás a cada poucos minutos – aquele movimento irresistível que deixava as garotas enlouquecidas.
E, por um instante, eu me permiti imaginar se ele ainda pensava em mim, a garota da casa ao lado. Se algum dia se perguntou o que eu estava fazendo em um momento particular no tempo. Se algum dia pensou naquela noite. Na nossa noite. A noite mais maravilhosa da minha vida.
Então pensamentos sombrios me atingiram forte e rápido. A questão que me deixou fisicamente doente... ele teria beijado outra pessoa nos últimos dois anos? Ele teria dado a alguém os seus lábios, quando ele os prometera para mim para sempre?
Ou pior: ele teria feito amor com outra garota?
O sinal estridente da escola me arrancou dos meus pensamentos. Eu me levantei da minha mesa e fui para o corredor. Estava grata por ser o fim do dia escolar.
Eu estava cansada e sentia dores. Porém, mais que isso, meu coração doía. Porque eu sabia que Rune estaria de volta à casa ao lado a partir daquela noite, à

escola no dia seguinte, e eu não poderia falar com ele. Eu não poderia tocá-lo nem lhe sorrir, como eu sonhava em fazer desde o dia em que não liguei de volta para ele.

Mil beijos de garoto Onde histórias criam vida. Descubra agora