"𝒗𝒐𝒄𝒆̂ 𝒎𝒆 𝒇𝒂𝒛 𝒇𝒆𝒍𝒊𝒛... 𝒎𝒂𝒔 𝒆𝒖 𝒏𝒂̃𝒐 𝒎𝒆𝒓𝒆𝒄̧𝒐 𝒆𝒔𝒔𝒂 𝒇𝒆𝒍𝒊𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆."
Zoe Fischer é uma garota com um passado perturbador, trágico e cruel. As angústias antes sentidas já não oferecem tanta importância a essa garota...
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Os olhos dele estão arregalados.
Ele acabou de me reconhecer.
Se lembrou de que eu sou a garota que estava parada em cima daquele parapeito ontem à noite.
Não consigo acreditar que ele está aqui. Costumava ouvir o ditado de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Mas pelo visto ele cai sim.
Porque esse maldito raio está bem aqui, junto com seus amigos babacas tomando um chá gelado. Despreocupado com a vida perfeita que provavelmente tem. Enquanto eu só queria acabar com a vida de merda que eu tenho.
Acabei de deixar os pedidos na mesa dos rapazes, e aposto que esse homem de topete deve ser o mais canallha dos três. Ele já foi descarado o suficiente para me fazer duas cantadas até agora, e juro que se fizer outra, vou virar uma xícara com café quente em cima do colo dele.
—Bom apetite. — Tento suavizar meu tom de voz ao dizer isso, mas é uma tarefa complicada.
Saio de perto da mesa sem olhar para trás.
Respiro fundo sentindo minha cabeça começar a doer. E conheço bem essa dor. Olho para o relógio na parede e vejo que são nove da manhã. É o horário que meu corpo implora por nicotina. Todos os dias de manhã e três vezes à noite. São os horários que decorei. Mas é claro, sem contar o uso excessivo de outros tipos de drogas que fazem com que meu cérebro relaxe totalmente por no mínimo umas três horas antes de tudo voltar a ser um inferno.
—Sam... — Murmuro limpando a garganta e já começando a sentir minhas mãos tremerem. — Preciso de uma pausa.
Samantha já se acostumou com minhas pausas nesse horário. Desde que comecei a trabalhar aqui, deixei claro que esse é um momento importante para mim. Minha colega não sabe nada sobre minha vida a não ser o que eu permito que saiba, mas é difícil esconder o que faço quando todas as vezes que volto para dentro da lanchonete, estou cheirando a fumaça.
—Claro, mas não se esqueça de mascar seu chiclete. Da última vez a Sra. Rickman sentiu o cheiro e reclamou. — Ela aconselha estendendo o braço para segurar o avental que acabei de tirar do meu corpo.
Estalo a língua.
—Essa mulher implica com tudo. — Digo me referindo a cliente que Sam mencionou.
Ela solta um risinho.
—Tem razão, o marido dela não deve fazer um trabalho bem feito. — Ela ergue as sobrancelhas sugestivamente.
Solto um riso nasalado e assinto rapidamente em concordância antes de entrar na cozinha. Atravesso a porta bang-bang e dou um aceno rápido na direção de Joe antes de correr para a porta dos fundos.
Me direciono para trás da caçamba de lixo do lugar e começo a vasculhar os bolsos da minha calça jeans em busca do meu maço de cigarros.
Minhas mãos estão mais agitadas do que um liquidificador e meu coração galopa numa velocidade alucinante. Sou dependente de nicotina desde os meus quinze anos, e nunca deixei que meu corpo entrasse em combustão por conta disso. Mas hoje, pela primeira vez, estou sentindo que posso começar a ter um ataque de pânico se não acender essa porra de uma vez.
