Epílogo - Roxo

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Cinco e quarenta. É o horário em que acordo automaticamente todos os dias, não sei se é costume ou se é desejo de que meu dia seja um pouco mais longo e que eu possa aproveitá-lo melhor. Faço minha higiene matinal e às seis tomo um copo de suco e às vezes eu como ovos mexidos ou lámen. Às seis e quinze eu me preparo para sair de casa e desço até o final da rua no ponto 123. Pegava o ônibus das seis e meia, essa era minha rotina. Tudo era igual, exceto por ele... e seus cardigans. Cada dia era um diferente, dos mais discretos aos mais chamativos – mesmo que eu suspeitasse que sua intenção não era chamar atenção para si e sim por se sentir confortável daquela maneira.

Eu não sabia seu nome, sequer tinha ouvido sua voz, mas sempre chegava alguns minutos antes para que pudesse ver o escolhido do dia, isso me divertia por algum motivo. Mas hoje em especial, ele não havia aparecido ainda. Olho no relógio e marca seis e vinte e oito e nem sinal do garoto de olhos grandinhos e cabelos pretos. Poderia estar doente, ou de folga, não sei. Só que eu sempre o via aqui no ponto de segunda à sexta esperando o ônibus e hoje ele não estava aqui.

Levanto ao avistar o ônibus se aproximar. Observo algumas pessoas entrarem e aguardo minha vez. Passo o meu cartão de passagem e procuro um assento disponível, mas ao olhar para fora vejo alguém andando em passos apressados, quase correndo, para que alcançasse o ônibus a tempo. Era ele, com seu cardigan roxo. O motorista dar a partida e percebi que ele não gritaria para que parasse, então automaticamente minha boca se pronunciou.

– Motorista, alguém está vindo correndo, poderia aguardar? – falei alto para que me ouvisse e imediatamente parou olhando pelo retrovisor e vendo o homem ofegante entrar com as bochechas rosadas, não sei se por vergonha ou pelo frio. Ouvir quando ele agradeceu e passou pela catraca procurando um assento vazio que por sorte ou ironia do destino era ao meu lado.

Cutuquei minhas unhas tentando cortá-las, por nervosismo. Era a primeira vez que ele sentava ao meu lado e céus, como ele cheirava bem. Ele me olhou e por um segundo sentir o ar sair de meu corpo, ele sorriu tímido e eu poderia morrer em paz bem ali naquele banco enquanto admirava-o.

– Bom dia. – ele cumprimentou em um sussurro e eu pisquei atordoado por aquela voz meiga e fofa.

– Bom dia, eu sou Kim Taehyung, mas você pode me chamar de Tae. – disse mais rápido do que preferia e quis me socar ao vê-lo abaixar a cabeça constrangido. Droga, quem se apresenta dizendo o nome completo?

– Eu sou o Jeongguk, J-jeon Jeongguk. – sua voz saiu ainda mais baixo. Então esse era seu nome, Jeongguk. Combinava com ele.

– Gostei do seu cardigan Jeongguk, é uma cor muito bonita. – de onde eu tirei essa coragem para iniciar uma conversa? Era como se as palavras fluíssem da minha boca.

Observei quando Jeongguk puxou as mangas, escondendo suas mãos.

– O-obrigado. – engoliu em seco, claramente nervoso. – Roxo é minha cor favorita. – me olhou e eu sorrir, fazendo-o desviar o olhar.

– Combina com você. Espero que um dia você apareça usando um com minha cor favorita.

–  E qual é sua cor favorita?

–  No dia que você aparecer com ela, eu te direi. –  sorrir ao imaginá-lo usando um cardigan verde.

Depois disso ele ficou em silêncio e seguimos assim, até ele descer e acenar em despedida. Duas paradas seguintes, eu desci. Continuei meu trajeto por uma pequena trilha e cheguei ao meu lugar de paz. Respirei fundo e me sentei no chão, observando a cidade acordada. Tirei minha câmera da bolsa e fiquei ali por uma hora, era o meu momento de meditação. Fazia isso ao menos três vezes na semana, era meio solitário, mas também aliviante. Levantei, limpei a sujeira da calça e fui ao meu compromisso daquela manhã.

Te vejo no ponto 123 | Taekook Onde histórias criam vida. Descubra agora