LOML

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"Adelaide, eu te amo, fique ao meu lado."

Um homem não poderia destruir mais o orgulho de uma mulher como esse estorvo conseguiu. Homem despreparado, que com sua fraca mentalidade sentou-se em um trono e achou que todos ao seu redor deviam sua lealdade e vida, ao seu bel prazer, sem entregar nada em troca.

Como cheguei até aqui?

Quando soube de nosso casamento, não estava feliz. Meu objetivo nunca foi uma família feliz, tinha responsabilidade sérias com meu reino, seria a próxima monarca, mas tudo sempre ruí quando está na minha mão.

Mas apesar de tudo, antes de saber o tipo de homem que estava me casando, no longo caminho entre os reinos, pensei seriamente que poderíamos ser algo. Que haveria um homem valente, que pensava no bem estar de seu povo, talvez, em um sonho distante, ele poderia ter sido o meu algo, e teríamos sido bons governantes.

Karl apenas rugiu como um leão, sendo apenas um peão na mãos de nobres. Um garoto nunca crescido, que manteve uma coroa pesada em sua cabeça, da qual ele não entendia nem a serventia.

Amor? O que esse homem sabe sobre amor? Em um momento desses, sou cruel o suficiente para pensar que ele realmente mereceu nunca ser amado de forma decente. Fraco de espírito, mesquinho e incapaz de compreender as pessoas ao seu redor.

-Filho da puta. -Digo baixinho encarando a rua, nessa gigante janela. Permito-me xingá-lo depois de tudo, sem me importar em como ter uma imagem perfeita, estou só. E perdi o título.

Um palácio para mim, a imperatriz desse reino, que foi destronada por não ter a primeira noite com esse homem insignificante.

Como ele ousa pensar que poderíamos ter algo?

Ele deveria saber seu lugar, e contentar-se com sua amante desagradável que deveria lhe fazer companhia pelo resto de sua maldita vida. Deveria ter aproveitado o momento que falavam mal de mim por baixo dos lençóis que compartilhavam, a mesma cama que fez um filho com ela, e ainda teve a coragem de me julgar por não me deitar com esse tipo de homem, que olhou nos meus olhos e disse que essa criança não tinha importância, que seu sucessor seria o nosso filho.

Um homem que não ama nem mesmo sua prole. Que usa pessoas ao seu redor. Alguém que me envergonho de ter casado.

Pensei por tanto tempo que amor não era para mim, que tudo que precisava era estar segura. Sentar no trono e cuidar daqueles que devotam sua vida a monarquia. Proteger a todos de torres demoníacas, sou forte o suficiente para aguentar o impacto dessa vida. Sou perfeita para o papel. Fui criada e moldada para isso.

Como acabei aqui?

Um frasco de veneno que trouxe de minha terra natal. Nunca senti um horror como esse.

Sei que desde o momento que aceitei o casamento, e entrei naquele navio em busca de terras distintas, da qual nem ao menos sonhei na vida, sabia que era minha única chance, e se tudo fosse mal, assim como minha vida como princesa herdeira, o que me restaria era a morte.

Foi uma vida lendária, mas momentânea. Gostaria de poder esquecer todas as minhas responsabilidades, de agir como a mais forte, e ter um fardo tão pesado nos meus ombros. Queria apenas por um dia, ser uma mulher qualquer, que pudesse dar utilidade ao meu coração e meus desejos pessoais.

Porém, Adelaide, a princesa de Gotrov, não tem espaço para frivolidade, sou quem sou, e não tenho como mudar o que estou destinada a ser.

Abro a tampa, e encaro o conteúdo. Sei o que irá se suceder. É o fim.

Não importa o quanto de magia carregue, o quanto tenha de esperança e sonhos, com minha posição, preciso encarar que tenho de sair da minha vida com dignidade. Minha terra natal espera isso de mim.

Olhos azuis adentram sem pedir permissão na minha mente, e por alguns segundos me sinto tão culpada. Olhos que me encaram com uma tristeza indescritível.

Leonel, o marquês, meu assistente, e o que aceitou tantos rumores que mancharam sua honra de ser o meu amante. Deveria ser apenas uma peça na minha vida, no meu grande jogo de xadrez como soberana. Mas não consigo pensar em deixá-lo, em abandonar os momentos que tivemos.

Desde o primeiro momento, em que o conheci, e o vi ser o cavaleiro me escoltando na carruagem de chegada, e por ter me tratado com tanto cuidado.

O primeiro que abriu seus braços e quis me segurar enquanto caia do céu, mesmo que ele não soubesse o quanto iria se ferir, e ainda assim, não sabendo o quão poderosa sou, e que ficaria bem.

Essas tantas coisas não importavam para ele, o homem que estava disposto a me entregar tudo de si para salvar sua nação, aquele que realmente admiro, apesar de nunca ter rugido, seus passos confiantes provaram quem era o verdadeiro leão.

Minha vida foi um eterno preto e branco, estive me comportando como alguém perfeita, digna de confiança e amabilidade aqueles que me seguem, mas com ele pude ser egoísta e sentir as batidas do meu coração, que por muito achei que estivesse morto.

Desde que nasci, não importa o quanto vivi, sempre estive em um eterno inverno, minhas mãos geladas tocavam ao meu redor sem emoção. Acostumei a me sentir com frio, até que seu toque coloriu o meu mundo, e pude encarar seus olhos com emoção. Mãos quentes que parecem ter me trazido a vida, ele é minha brisa de primavera.

Encaro novamente o frasco de veneno.

-Eu ainda verei como um pesadelo aqueles olhos roxos do imperador até o dia em que eu morrer, e sempre será a maior perda da minha vida. Mas minha vida não termina hoje. -Jogo o frasco no lixo e começo a organizar minhas coisas, e ir embora.

Vou apresentar o abismo para aqueles que me colocaram lá, mas transformarei o mundo em um lugar colorido, um mundo melhor para Leonel poder viver. Um mundo onde eu possa viver, e ter vontades próprias. 

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