Capítulo 5 - Fogo e Polvora

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No dia seguinte, despertei com uma mistura de curiosidade e apreensão. A noite havia sido estranhamente tranquila dentro do castelo de Kirian, apesar dos pensamentos tumultuados que me assombraram enquanto tentava dormir. Levantei-me da cama confortável, ainda vestindo as roupas que Kirian havia providenciado, e me dirigi à janela. O sol começava a iluminar os picos das montanhas ao redor do castelo, banhando o cenário em tons dourados. Era uma visão magnífica, contrastando com a atmosfera sombria que envolvia o castelo durante a noite. Kirian, como se soubesse que eu estava acordada, apareceu à porta do quarto, sua expressão habitualmente imperturbável. 

— Bom dia, Callia. Espero que tenha descansado bem — Disse ele com uma cortesia formal, mas percebi um leve brilho de interesse em seus olhos negros. 

— Sim, obrigada. E você? Dormiu bem? — Perguntei, tentando sondar se ele compartilhava dos mesmos sentimentos intrincados que eu. Kirian deu um leve sorriso, quase imperceptível. 

— Vampiros não dormem, Callia. Nós apenas descansamos. — A resposta direta e desprovida de emoção me fez perceber o abismo entre nós. Enquanto eu estava mergulhada em emoções conflitantes e descobertas, ele permanecia distante e inabalável, como se fosse feito das pedras que compunham o próprio castelo. No entanto, algo em seu olhar me fez pensar que havia mais por trás da máscara que ele usava tão habilmente. Decidindo não pressionar mais por enquanto, eu me dirigi ao banheiro para me preparar para o dia. Os eventos da noite anterior ainda rodopiavam em minha mente: a revelação sobre os vampiros, o convite do Conde, minha fuga na tempestade e o encontro com os Expectros do Medo. Tudo isso parecia um conto de fadas sombrio que eu nunca imaginei viver.

Ao descer para o salão principal, encontrei o café da manhã sendo servido. Kirian estava lá, discutindo assuntos com seus servos, mas me ofereceu um aceno gentil para me juntar a ele à mesa. Enquanto comíamos, eu sentia os olhos dos servos sobre mim, curiosos e talvez desconfiados da presença de uma estranha no castelo. Após o café, Kirian sugeriu um passeio pelos jardins do castelo. Ele queria me mostrar os arredores e, talvez, me manter ocupada enquanto ele lidava com seus afazeres. À medida que caminhávamos entre as árvores centenárias e os canteiros de flores exuberantes, eu sentia uma mistura de admiração pela beleza do lugar e a tensão da presença de Kirian ao meu lado.

— Este lugar é incrivelmente belo, Conde Vlad. Como você o mantém assim isolado nas montanhas? — Perguntei, tentando entender mais sobre ele e o castelo. — Ele olhou para mim por um momento, como se ponderasse a resposta. 

— Meu dever é manter a tradição e a segurança deste lugar, Callia. O isolamento é uma parte necessária disso. — Sua resposta evasiva não me satisfez completamente, mas eu não queria pressioná-lo demais. O caminho nos levou a uma clareira coberta de grama verdejante, onde uma fonte antiga jorrava água cristalina. Sentamo-nos em um banco de pedra próximo, aproveitando a tranquilidade momentânea.

— Você não sente nada, Kirian? — Perguntei subitamente, sem poder conter mais minha curiosidade. — Sobre o que aconteceu, sobre mim? — Ele virou-se para me encarar, seus olhos buscando os meus com intensidade. Por um instante, pensei ter visto um lampejo de emoção em sua expressão controlada.

— Callia, eu sou um vampiro. As emoções humanas são um luxo que eu não posso me permitir... Lembre-se disso, eu não sou alguém com coração puro ou bondoso, dentro de minha mente sorumbática e obscura, perpetua apenas o sadismo e o caos. Eu sou frio, por dentro e por fora, em mim não habita a compaixão, nem o amor. — Respondeu ele calmamente, mas sua voz carregava um peso que eu não podia ignorar. Um silêncio tenso pairou entre nós, carregado com o peso das palavras não ditas. Eu senti um nó se formar em minha garganta, misturando-se com uma inexplicável sensação de tristeza. Era claro que Kirian não sentia da mesma maneira que eu, mas isso não impediu que eu desejasse que as coisas fossem diferentes. Acho que na verdade, nem mesmo eu entendia os sentimentos que eu tinha por ele, talvez fosse apenas desejo pela tensão que ele me trazia. O surgimentos dessas emoções foram tão repentinas e espontâneas, que é difícil dizer ao certo o momento em que elas apareceram.

Sombras da Noite: Laços de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora