Nascer de "Sol"

3 0 0
                                    

-Eu sei mãe, eu sei que talvez eu não consiga mas é a única saída que eu vejo. Aliás, me fari-
-Não.
-Que? É sério?
-Sim! Isso não te ajudaria em nada, filha. Trabalhar e estudar ao mesmo tempo não é nada bom, no máximo você ganharia frustração e um burnout. Confia em mim.
-Eu não estou de acordo com isso, mas vou tentar esquecer essa ideia.

Depois dessa conversa, fui direito para o meu quarto, deitei na cama e dei um longo e forte suspiro. Eu não conseguiria ir para a Áustria se não tivesse pelo menos 670€ de garantia para entregar aos assistentes da viagem (não me perguntem o motivo, nem eu entendo esses critérios). Acontece que eu já tinha tudo pronto, menos esses 670€. Era praticamente um passaporte e um sonho.

-Sol, tem uma amiga sua ligando pra mamãe!-Falou o meu irmão enquanto segurava um pincel todo sujo de tinta...pera aí...
SUJO DE TINTA ??????
-A MINHA PAREDE, VOCÊ TÁ SUJANDO A MINHA PAREDE MATHEUS!!! A MINHA PAREEEEEEEEDE- Gritei, berrei, cheguei a CHORAR! O meu quarto já era bagunçado por natureza, mas aquela parede.. ela estava em um estado deplorável.
-Desculpa! - Falou o meu irmão em descaso enquanto encolhia os ombros, dava meia volta, andava em direção à sala e agia como se não tivesse estragado toda a entrada do meu quarto.

Suspirei mais uma vez e fui atender o telefone. Era a Bianca, uma amiga minha desde o sétimo ano, éramos muito próximas, eu amava a amizade dela.
-Fala Bianca, não estou com paciência.
-Sol, vem hoje comigo tomar um sorvete no shopping? Eu te pago, por favorzinho!!!- Eu sabia que tinha algo por trás, toda vez que essa voz melancólica surge, há problema, ou melhor, há rapaz envolvido.
-Não. E outra, quem é o sortudo da vez?
-Pelo amor de Deus Sol, ninguém! Eu só quero passar um tempo com a minha amiga que eu mal vejo desde que começou com uma história de intercâmbio para um país de cangurus.
-QUE? "País de cangurus"?! Bianca é Áustria e não Austrália! E da mesma forma, a Austrália não deveria ser conhecida por simples CANGURUS. - Continuei - E pelo amor de Deus digo eu! Até parece que você não sabe o quanto eu batalhei para conseguir essa vaga e agora estou em risco de perdê-la por uma quantia que meus pais não têm no momento. Sabe o que eu acho? Nós mudamos muito, MUITO MESMO! Você se preocupa com qual menino vai sair hoje, e eu me preocupo com o amanhã, com o meu F U T U R O!!! Eu espero que um balde de tinta caia na sua cabeça. - Desliguei.

Talvez eu tenha pegado muito pesado com ela, mas a adolescência ferra com a cabeça de todos. Eu digo que só a conheço há 4 anos (agora estamos no décimo primeiro) mas na verdade, costumávamos ser amigas muito antes do sétimo, a diferença é que foi nessa altura que aqueles assuntos de "fulano quer pegar você, Bianca" começaram. 

Eu não me considero feia, para ser honesta, sou aceitável até. Acontece que eu perdi uma amizade pra um bando de moleques que só queriam se aproveitar do corpo da minha amiga, e essa, deixava. Eu não entendo, não entendo essa cultura de beijar e nunca mais se ver. VOCÊS TOCARAM UM NO LÁBIO DO OUTRO, A VOSSA INTIMIDADE!!! Não faz o menor sentido.

Sai do quarto, peguei na minha bolsinha (já antiga e que pedia socorro por se aposentar) e fui até a cozinha entregar o telefone à minha mãe.

-Eu vou no mercado.
-Comprar o que? - Perguntou a minha mãe.
-Alguma coisa que tire tinta de paredes e perguntar se aceitam currículos sem qualquer tipo de experiência. Tchau!
-Ué.. "tinta de paredes"?... agora você quer descolorir até a sua parede? E o currículo é pra que?? - Questionou a minha mãe, até que lhe caiu a ficha e ela pousou a faca que estava usando para cortar as cebolas apenas para me encarar e começar aquele grande discurso e conselho de mãe, que nunca falha mas eu sempre nego em ouvir - Mocinha, você disse que ia esquecer essa ideia. Eu acho melhor você parar por aí.
-Mãe eu tinha esquecido, mas depois de falar com uma pessoa, digamos que ela me fez voltar a lembrar o quão é bom andar atrás de emprego e não de rapazes!- Dizia eu enquanto andava em direção ao elevador.
-O que aconteCEU ENTRE VOCÊ E A BIANCA?- Minha mãe fazia um esforço enorme para que a sua voz acompanhasse os meus passos largos.
-NAADA MÃE, EU DEPOIS FALO. TE AMO.- Gritei da porta do elevador antes que esse fosse embora.

O Amor me amouOnde histórias criam vida. Descubra agora