17| Apenas nosso e de mais ninguém

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"O medo não me parece nada comparado com a simples menção de que a verei partir. Então fique, fique para sempre ao meu lado, por que não existe mundo sem você. Não é possível imaginar um mundo onde você não esteja, por que eu te amo Docinho e jamais deixarei de amar"

Zyan
10/outubro
2023

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Eu achei que nunca sentiria medo.

Achei que estava imune a dor e a sentimentos que antes, eu considerava triviais, tolos e até desnecessários, e mesmo com a ausência dele, eu não os sentia como uma pessoa normal, até vê-la arder em febre, até vê-la apagada, até perceber e temer o fato de que ela não acordava.

Até chorar quando os médicos disseram que talvez o bebê não resistisse a quentura que se fazia em seu corpo, até que eles disseram que talvez, ela também não sobrevivesse.

Nunca me senti tão angustiado e desesperado quando rosnei para a voz em minha cabeça e tudo o que eu senti foi o grande vazio, vazio que agora se acumulava em meu peito e me deixava respirar.

Era estranho e doentio, mais acima de tudo era bom.

E quando Abby parou de queimar em febre, quando seu corpo suado parou de se convulsionar e eu senti o vazio se intensificar, percebi que tinha acabado.
Tudo aquilo finalmente acabara, e eu só queria vê-la de olhos abertos. Só queria ver seu sorriso, ouvir sua voz, sentir seu toque e acalmar meu coração lhe dizendo, várias e várias vezes que ela estava bem, e agora, mesmo depois que os médicos disseram que ela estava ótima e que aquilo era um milagre, mesmo depois dos exames saírem e ela sorri calorosamente enquanto comia. Mesmo após tudo isso, eu ainda sentia medo.

O mesmo maldito medo que sufocava meu peito toda vez que ela fechava os olhos – mesmo que fosse por breves segundos – onde ela respirava fundo ou relaxava.

Eu tremia a cada vez que ela dormia e saltava quando ela acordava, era um ciclo grande e tenso, e mesmo após a "visita" de Tricy, as coisas não apreciam melhorar.

Não quando eu era quem ficava paranoico e deixava o fato de ter medo, afetar Abby.
Mais prometi a mim mesmo acalmar meus demônios e deixa-la dormir, por isso me deitei ao seu lado naquela noite e a abracei, beijei sua testa e a senti dormir enquanto se aconchegava ao meu corpo, ela estava tranquila e estava bem.

Aquilo deveria ser motivo suficiente para que eu dormisse.

Mais eu não dormir e só por precaução a deitei sobre meu peito e senti, contei e memorizei cada uma das suas respirações.


☠️

O médico não queria dar alta para Abby no dia seguinte, mais ela estava agitada, disse que estava bem, que nada lhe aconteceria ou ao bebê, ela parecia nervosa e ansiosa para sair do hospital, ficava roendo as unhas e sempre olhava pela janela, e quando perguntei o que estava acontecendo, ela disse que só queria saber se o tempo estava bom – mentiras e mais mentiras – porém eu não a questionaria, por que sabia que esse lugar a estava sufocando.

— Senhora Lysander. — o médico entrou na sala segurando uma prancheta e vários papéis em cima dela. O homem suspirou olhando para Abby que já estava arrumada com as roupas novas que eu lhe trouxe — Eu gostaria de fazer um último apelo para que a senhora ficasse em observação por mais alguns dias... a senhora teve quatro convulsões e a anemia ainda está presente em seus exames....

— Eu sei doutor, mais não posso ficar... — ela ajeitou o cabelo úmido para trás enquanto o médico lançava seu olhar para mim.

Dei de ombros quando disse: — A decisão é dela.

Profano PARTE 01  [DISPONÍVEL ATÉ DIA 15/08]Onde histórias criam vida. Descubra agora