death anniversary

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Segunda-feira, até que enfim. Chan passou o fim de semana na casa da família Sei e eu passei o fim de semana trancada em meu quarto, mas, felizmente, eu tinha um trabalho para entregar, então não liguei muito. Mesmo assim, é sempre bom poder sair do quarto quando quiser.

Desci pela planta na parede mais uma vez, porque Chan e Yumi deviam estar tomando café na sala de refeições, eu acho. Bom, pelo menos não me destrancaram ainda, então imagino que seja isso.

Virei a esquina para pegar a condução, pois hoje minha aula seria fora da faculdade e se eu não me apressar vou perder o horário do metrô.

Assim que coloco o pé na esquina, vejo alguém parado na porta da casa da família Seo. Não pode ser, eu conheço aquela silhueta. Ele não estava lá dentro? Merda!

- Bom dia! - Ele diz ao me ver, com um sorriso lindo no rosto, mas eu estou determinada a ignorá-lo e passo reto sem olhar em sua direção. - Melissa, calma aí! - Ele me alcança.

- Oi. - Digo sem olhar para ele.

- Ei, você não quer uma carona até o centro cultural? Eu e Yumi estamos indo agora. - Por quê ele está sendo legal?

- Não, obrigada. - Continuo andando sem olhar para ele. Qual é a dele? Quer me enlouquecer? Achei que ele estivesse chateado comigo.

- CHAN! - Grita Yumi na porta da casa da família. Graças a Deus, mais um segundo e eu não me aguentaria sem olhar para ele.

Segui andando enquanto ele voltava para perto dela. Logo eles passaram por mim no caro de Chan.

Juro que não entendo ele, eu podia jurar que ele estaria zangado comigo, mas ele parece estar ainda mais determinado a falar comigo. Será que ele é o tipo de macho que não desencana até conseguir o que quer? Não, sem chances, eu jamais suportaria ser amiga dele. Eu quase o beijei em uma interação, imagina só se interagisse com ele todos os dias, sem contar que ficaria umas 500 vezes mais difícil esconder o meu parentesco com os Seo. Sem chances!

A condução estava lotada como de costume e ainda tive que correr um pouco para pegar um café e não chegar atrasada à exposição.

Eu já falei que a minha sorte é bichada? Se eu não mencionei, aqui vai a menção, afinal os dois únicos lugares vazios eram: o mais próximo ao lado de Chan, nenhuma possibilidade de eu ficar ali, e o mais distante, no fundo da sala, ao lado de Changbin. Tá legal, dos males o menor.

Me desloco devagar entre as fileiras lotadas até alcançar o funda da sala e me sento ao lado de meu irmão. Sentei-me em silêncio. Ele me olha com indiferença e não diz nada.

A aula começa e dentre as milhões de abstrações nas quais se perde o expositor, eu começo a rabiscar algo no canto da folha do meu caderno. Não sei o que é até chegar à metade do desenho, percebo que estou desenhando os lábios de Chan, seu sorriso. Assim que a ficha cai, risco o papel várias vezes para apagar o desenho.

- Deveria prestar atenção na aula. - Diz Changbin ao meu lado com o olhar entendiado.

- Você também deveria. - Ele dá um sorriso com o canto dos lábios.

- Touché. - Por um instante ele fica em silêncio, sério . - Por onde saiu hoje? - Vendo oeu silêncio ele continua. - Chamei você hoje de manhã, quando destranquei a porta, mas percebendo o silêncio, abri a porta e você não estava.

- Me teleportei. - Disse. Sabia que se eu constasse para ele, ele poderia contar à Yumi e ao Sr. Seo, seria o fim da minha saída de emergência.

- Sei que saiu pelo janela. - Ele diz sem me olhar. - Está aberta. - Ele percebeu quando meu olhar me traiu. Sorria de uma forma irritante. - Não vou dizer nada. Apesar de parecer, eu não te odeio. Não sou seu maior fã, mas não te odeio.

- Eu...obrigada. - Era a primeira vez que conversávamos sem a família por perto.

- Não gostei da sua chegada, significava que meu pai era uma pessoa diferente da que pensei que fosse, mas você foi o último desejo da minha mãe e eu a amava muito. Se ela não estava com raiva de você, mesmo sendo você a concretização da falência do casamento dela e da infidelidade do meu pai, por quê eu odiaria. - Ele me olha pela primeira vez desde o início desse diálogo.

- Não sei o que dizer. - Digo, realmente sem saber o que dizer. Não esperava por aquilo.

- Quer ir comigo ao túmulo dela? Hoje é aniversário da morte dela, faz um ano que ela se foi. - Ele estava sério. Apenas concordei com um aceno de cabeça.

Após o fim da aula ele saiu um pouco antes e eu logo depois, nos encontramos no estacionamento.

O caminho foi silencioso. Eu olhava para a janela todo o tempo sem coragem de olhar para ele, até chegarmos ao local. Era um campo florido aos fundos de uma casa que eu já havia visto em fotos na casa de Changbin

Changbin ficou um tempo no túmulo da mãe e depois de andarmos um pouco, nos sentamos embaixo de uma árvore em silêncio.

- Ela não te odiava, sabia? Nem você e nem a sua mãe. - Ele me olha com seriedade, mas eu não disse nada. - Ela sabia da índole de meu pai, me confessou que sabia de outras traições, mas que não fez nada por mim e pela Yumi. Em seu leito me disse que se arrependia de não ter acolhido você, você não tinha culpa dos erros do nosso pai.

- Ela parecia uma mãe incrível. Fez o que tinha que fazer por vocês. - Olhei-o nos olhos pela primeira vez desde que chegamos.

- Ela era. Era linda, era doce, inteligente, muito forte. Você tem o mesmo sorriso enigmático que ela tinha. - Ele sorri.

- Eu...sinto muito pela perda dela. Acho que nunca te falei nada sobre isso. - Sorri de volta.

- Tudo bem, foi melhor assim. Ela estava sofrendo muito, mesmo que não fosse admitir jamais. - Ele se levanta. - Sinto muito pela forma como Yumi te trata. Ela não quer ser destronada como princesa do papai e também morre de ciúmes de Chan. - Geleia ao ouvir o nome de Chan.

- Não sou ameaça ao reinado dela. Ele não é meu pai, nunca foi e, mesmo que tenhamos mesmo sangue, nunca vai ser. - Levantei-me e o segui em direção ao carro. - E quanto a Chan, não somos nem amigos.

- Mas por ele seriam, ou até mais que isso. - Minha pose de indiferença vacila. - Eu já vi os olhares de vocês. Ele fica hipnotizado sempre que vamos jantar em família e você, é só olhar bem que é fácil perceber que você gosta dele e que não suporta isso. - Engulo a seco.

- Como...? - Não sabia como me defender.

- Relaxa, a Yumi não percebeu ainda que o namorado dela tem uma queda por ti, ainda.

Voltamos em silêncio, é muito para eu processar de uma vez só, mas esse assunto teria de esperar, pois eu tinha que entregar uma resenha crítica sobre a exposição e eu não havia prestado atenção do meio para o final.

my fated oneOnde histórias criam vida. Descubra agora