Chove chove chuva

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Quarta feira, chuva na janela, gato miando querendo entrar. Eu avisto tudo do lado de dentro do balcão da botica onde trabalhado. Botica. Nome antigo né? Mas é o nome do local, dizem que aproxima mais o cliente do farmacêutico, que é o que sou.
Ultimamente só tenho vivido aqui, sorrisos pra cá, risadas pra lá. Tudo pra agradar o cliente. Por dentro eu só queria ser como a chuva me derretendo sob poças na rua.

Chego em casa, o barulho das chaves batendo na mesa é avassalador. Um silêncio tão gritante mas tão reconfortante, mas ao mesmo tempo reflete como ando sozinha.
Não quero reclamar da minha vida, afinal tenho conquistado tudo o que quero e estou na reta final pra vaga que desejo. Mas sinto falta de uma adrenalina.

Vou encontrar minhas amigas e logo que chego já as ouço falando sobre nosso antigo clã
— lia não deveria ter feito isso com Talita – exclama nivia — mas ela é imatura vai arrastar quem puder com.... ANTONELLA!! — todos param pra olhar pra mim, o que me deixa um pouco sem graça — finalmente deu o ar da graça.
Ela está certa, faz semanas se não meses que não apareço nos encontros, em minha defesa sinto que ninguém liga pro que digo.
– eu prometi então aqui estou — digo ofegante
— sentimos tanto a sua falta amiga — diz Helena, a mais doce

Conversa vai conversa vem e caímos no mesmo buraco: casamento
Não não, não sobre querer casar, sobre já estar casado, o que eu odeio já que não entendo nada sobre.

— meu esposo não quer que eu continue trabalhando, ele diz que é besteira e prefere que eu descanse em casa — diz Helena meio para baixo
— amiga você é dona de você mesma lutou pra chegar onde está hoje — digo revoltada sabendo o quanto ela foi guerreira
— não diga besteira Antonella, você não sabe o que é prioridade ainda, mas entendemos você — erika me corta um pouco esnobe — Helena acho ótimo você tentar o jeito do seu marido, pelo menos ele vai ficar feliz.

Fiquei em silêncio, não queria acrescentar mais nada para não me chamaram de feminista de festa. Mas quase que não me aguentava, eu nunca largaria minhas conquistas por amor a ninguém, só eu sei o que passei pra chegar aonde quero chegar.

Chego em casa e mais uma vez sou recebida pelo silêncio. Dessa vez ele me abraça e é preenchido por rangidos de choro. Estou cansada, não tenho com quem contar. A chuva continua escorrendo na janela e as lágrimas no meu rosto. Não sei do que sinto falta, mas algo está faltando. Ajoelho pra orar e pego no sono no tapete. Chorar e orar são os melhores remédios para dormir.

Alguns dias se passaram e eu continuo na mesma, apenas trabalhando e dando meu melhor. Minha chefe sempre passa por mim checando o meu desenvolvimento e me dá dois tapinhas nas costas.
— bom dia chefe
— bom dia Dra. — exclama minha chefe radija. — passe na minha sala antes do seu almoço, tenho algo para conversar com você.

Estremeci, será que tinha feito algo de errado? Será que a promoção vinha agora!! Mas tá muito cedo, e meus tapinhas? O que será que houve?!
Mantenho a calma e aceno que sim com a cabeça, radija odeia chilique.

Nesse meio tempo eu só pensava no que iríamos conversar já que não conversávamos muito. A rádio corredor estava falando demais mas ninguém me dizia nada, no fundo eles não confiam em mim, sabem que faria de tudo pela minha promoção, o que não sabem é que nunca fui x9.

Deu a hora do meu almoço então subi para conversar com minha chefe:

— antonella, como você sabe estamos passando por muitas mudanças aqui na botica, e você é uma funcionária muito especial — disse radija olhando nos meus olhos, aonde ela quer chegar? — você é atenciosa e sabemos ambas que quer o cargo interno — Nesse momento estremeci, sabia que algo estranho vinha por aí — por conta dos furtos e alguns outros problemas no meio de loja — meu coração palpitava tão alto que eu mal conseguia a ouvir, será que iriam me mandar embora pelos problemas! — decidimos contratar um supervisor, na verdade transferir um.
Pausa. Por que ela está me contando isso? O que tenho haver com quem entra e sai? Meu trabalho não é gerencial.
— ah entendi chefe, muito boa decisão, mas perdoe meu jeito, mas aonde me encaixo nisso?
— é simples, se você conseguir fazer dele um mini você, a vaga que tanto quer é sua!
ELA SÓ PODE ESTAR MALUCA!!!
Como pode me dizer algo assim? E se ele não estiver afim, e se ele não gostar de trabalhar? Eu nem sei quem é ele, eu já odeio ele, eu nao quero saber eu vou pedir demiss...—falando nele pode entrar marcos, vou te apresentar a Antonella, nossa Farmaceutica.
Quando olho para o lado, um homem, moreno de 1,80 de cheiro amadeirado, com um terno onde a gravata tinha o nó tão perfeito que era de se chamar a atenção.
Ele me estende a mão e seus dedos tinham o toque macio. Seus braços fortes com veias a mostra e anéis em seu dedos dava a sensação de que ele era misterioso. Mas quando levantei o rosto ele sorriu pra mim, e sim, que maldito sorriso. Seus dentes acertados lábios carnudos, barba bem feita. O cheiro do sabonete ainda passeava pela sala juntamente com o perfume do seu pós barba.
— prazer Antonella, sou Marcus, seu novo supervisor.

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⏰ Last updated: Jun 20 ⏰

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Paixão invertida de uma mente vazia Where stories live. Discover now