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Há um certo tempo atrás,antes das duas guerras,viveu uma garota chamada Sophie .
Sophie era uma jovem de 17 anos, longos cabelos castanhos e ondulados,e olhos grandes e verdes como a grama. Era meiga e dócil, filha de Leônidas Salvatore,um rico e grande empresário,e Maria Salvatore, uma mulher refinada e elegante.
Ela vivia solitária e trancada dentro de casa, seus únicos contatos eram com os criados e suas duas primas, Elena e Marie.
Mas elas não eram as melhores companhias,por isso Sophie vivia constantemente aérea.
-Você viu Robert?-dizia Marie a Elena-Ele estava tão lindo naqueles trajes.
Marie era uma jovem elegante, pouco mais velha que Sophie, de cachos dourados e olhos castanhos,alta e de nariz empinado. Ja Elena,era sua sombra,tinha a mesma idade de Sophie,mas sempre dizia ter mais, seu rosto ainda tinha traços infantis,era morena e tinha cabelos lisos e esvoaçantes, e seus olhos cor de âmbar exprimiam audácia.
As três estavam em um canto da sala de estar tomando o habitual chá da tarde. Maria e suas duas irmãs, estavam conversando e rindo no outro canto da sala.
-É uma pena que esteja noivo-disse Elena com um tom falso de tristeza na voz.
Sophie que estava ao lado da janela,apenas observava a tarde colorida que fazia do lado de fora.
-Ah,mas isso não é problema pra mim-Rebateu Marie maliciosamente. - Ouvi dizer que a noiva dele,pobre July, está doente. Seria uma pena se morresse e ele ficasse viúvo antes do casamento.
Sophie estremeceu com o comentário mas apenas ficou calada. Durante anos sua mãe a repreendera por brigar com Marie e Elena 'sem motivos'. Porém ,ela tinha motivos. Suas primas sempre a trataram mal, como se nada no mundo fosse inferior a Sophie. Naquele dia, Sophie estava bastante irritadiça. Sua mãe havia lhe obrigado a ir tomar chá com suas primas como uma "pessoa normal"ao invés de ficar em seu quarto lendo livros.
Olhando pela janela, o céu azul iluminado pelo por do sol, que o deixava com um tom laranja e vermelho, sobrevoava o planalto verde que cercava os muros da mansão Salvatore. Sophie imaginava como seria a vida das garotas da sua idade com uma vida social normal. Elas se casavam, tinham amigas de verdade,e frequentavam restaurantes. Sophie mal se lembrava da ultima vez que saira de casa. Seu pai sempre a proibia, ele dizia que ela não deveria frequentar restaurantes e teatros como as outras garotas, tudo que ela quisesse teria em casa. Ela amava o pai, porém,mal o via. Naquela tarde,ele havia viajado a negócios para uma cidade distante,e voltaria em duas semanas.
Sophie observou enquanto algumas poucas nuvens passavam ao longe no céu,eram negras e com um formato estranho...por um momento Sophie achou que via um dragão voando pelo céu e se aproximando de sua casa,com alguém montado em cima...
-Sophie!-Exclamou Marie- Você acaba se perder um grande acontecimento!
Elena ria como uma louca, e do outro lado do cômodo, Maria , Geane e Helen -as duas irmãs de Maria e mães de Marie e Elena consecutivamente- tentavam em vão manter a compostura ao mesmo tempo que explodiam em risadas.
-Do que estão rindo?-perguntou Sophie confusa.
Marie olhou pra ela com arrogância.
-É claro que não sabe. Estava aí sonhando com fadas e príncipes encantados.-disse.
- Sonhadora patética.-disse Elena rindo ainda mais.
Sophie sentiu seu coração acelerar com a raiva.
-Vocês podem,por favor, me dizer o que...
Mas ela viu, do outro lado da sala de estar, perto da lareira, Joane , sua criada, e uma de suas únicas amigas, no chão, limpando cacos de vidro,com o rosto vermelho. Joane era jovem,estava trabalhando na mansão Salvatore há apenas dois anos e trabalhava especialmente para Sophie.
-Que falta de educação quebrar pratos na frente de visitas-dizia Geane rindo e balançando a cabeça.-Você deveria demiti-la irmã,uma incompetente dessas.
-Infelizmente ela ainda presta para Sophie, se não a jogava no lixo.
As risadas aumentaram
Quando Sophie chegou por trás da poltrona de sua mãe viu que Joane estava com as mãos sangrando,os cabelos negros caiam sobre a pele pálida e envergonhada que estava quase chorando.
Quando levantou o rosto e viu Sophie, Joane ficou ainda pior.
-Me desculpe senhorita...-murmurou.
-Sophie,querida-disse Maria ao notar a filha atrás de si- diga a essa inútil para não sujar meu tapete de sangue?Seria uma calamidade ter que troca-los por...
-Cale-se mamãe!-gritou Sophie,e todos pararam de rir e olharam para ela surpresos.
Maria havia trocado a expressão de Divertimento por um olhar de fúria voltando-se para Sophie.
O clima ficou tenso e Sophie sentiu que era sua deixa para dizer algo ou desaparecer dali.
Ela olhou para a janela novamente e viu mais uma vez a sombra de um dragão,só podia estar pirando.
-Bom,vocês não têm o direto de falar assim com ela. Quem pensam que são?!-Advertiu Sophie.
Maria se levantou.
-Sophie saia imediatamente.-disse com um tom áspero controlado na voz.
Sophie olhou para a mãe.
-Não. Não vou mais tolerar a sua falta de respeito e arrogância!
-Sophie Saia! -Brandiu a mãe- Ou você quer limpar o chão junto com a empregada? Garota ridícula,mal posso olhar para você um dia sem ter nojo.
Elena e Marie soltaram risadinhas.
Sophie sentiu seu coração apertar e explodir.
Ela correu para Joane .
-Levante-se Joane! - ordenou Sophie-Você vai comigo para meu quarto. Não ficaremos nesse covil de cobras por nem mais um minuto!
Ela só teve tempo de ver algo a atingindo,até que estava no chão.
A sala escureceu e por um segundo Sophie achou que tinha desmaiado. Porém,um segundo depois algo iluminou a sala. Um trovão alto e furioso. Como Sophie.
Ela se levantou e olhou pela janela. Estava chovendo. Todas encaravam a janela , através da qual se viam raios caindo como loucos onde antes havia sol.
As luzes se apagaram e Marie e Elena gritaram assustadas.
Sophie levantou e encarou o olhar assustado da mãe e depois se voltou para a empregada ao lado.
-Vou ter que repetir Joane? Vamos.
Foi tudo o que ela disse enquanto saia da sala de estar escura e tensa rumo as corredores igualmente escuros, Joane atrás dela.
Sophie não sabia o que havia acontecido após o tapa de sua mãe, de onde surgira aquela tempestade momentânea, mas aquilo a deixou como uma sensação estranha,de força e coragem. Ela ja não seria mais aquela garotinha assustada e reprimida.

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