Capítulo 3 - Conhecendo o Interior.

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  Seu corpo estava leve... Como se flutuasse.

  Seus pensamentos eram como o vento, passavam suavemente e traziam certo alívio.
  Uma brisa profunda entrava em suas narinas, trazendo memórias de um tempo distante.
  Entretanto, essa sensação de estar voando deu lugar a um certo desconforto.
  Pedras ásperas cortavam calmamente seus braços, seu corpo começou a se mexer vagarosamente. Ele tentava levantar, mas, a princípio, foi difícil.
  Seus olhos se abriram com dificuldade e, semicerrados, contemplaram o céu... Estava amanhecendo, ou anoitecendo... ele não sabia ao certo.
  Desconfortável com a aspereza do chão, ele se sentou com calma. Sua visão estava embaçada.
  Ele tocava em seu corpo, tentando sentí-lo, ver se ainda estava alí.

Estava.

  Nicholas então, puxou levemente a gola da camisa e olhou sua tatuagem favorita, a Estrela.

Ainda estava lá.

  Ele respirou aliviado, estava tudo certo.
  Então, decidiu olhar aonde estava.
  Ao levantar os olhos, ele teve uma visão assustadora.

Estava em um cemitério, sozinho.

  Antúrio levantou rapidamente, dando passos para trás, porém, ele não podia escapar, haviam túmulos e cruzes por todas as partes.
Ele levou as mãos a cabeça:
       - Eu morri?! - gritou em desespero. - Onde eu estou??!!
Sua respiração era curta e rápida, seu coração mantinha batidas descompassadas e desritmadas. Até que seus olhos o levaram a observar com atenção uma das lápides
Percebeu que não havia nada escrito nela.

Ele franziu a testa.

Ao olhar atentamente para as outras também, pôde ver que todas estavam vazias de palavras.
Aquilo era estranho.
      "Estou sonhando?" - ele pensou.
  Seu coração acelerava a cada segundo.
  O silêncio naquele lugar era alto demais.
Internamente, ele desejou algum barulho.

  O silêncio pode ser amedrontador, às vezes.

Ele respirou fundo.
    "Estou sonhando" - repetiu.
E esse pensamento o confortou.
Até que ele escutou uma voz infantil:
     - Ainda bem que tu sonhas.
  Ele virou rapidamente para olhar de onde aquela voz teria vindo. Ele viu uma criança, um menino, parado na frente dele.
  A voz do garoto era suave, produzindo ecos sem sentido. Ele possuía olhos grandes e fundos, como se guardassem milhares de segredos, a pequena boca da criança estava seca e rachada. Ele mantinha o olhar fixo.
  Os olhos de Nicholas arregalaram. Ele só queria sair dali.
      - Que-quem é você? - ele gaguejava
      - Eu que pergunto... Quem é você? - respondeu a criança. - Como pôde ter esquecido de mim?
Antúrio engoliu em seco, e então, observou melhor a criança.
E percebeu que o menino era o próprio Nicholas, só que no passado.
      - Ahh! Eu com certeza estou sonhando! Isso não é possível - ele dizia, com uma gota de suor escorrendo da testa.
      - Você esqueceu de nós...
      - Nós?? - ele franziu a testa, olhando em volta, apenas para confirmar.
      - A floresta dos homens esquecida... - a criança dizia com o olhar perdido.
      - Olha, garoto... Se você continuar falando assim, eu não vou entender nada...
      - Volte para o seu Interior, Nicholas... Não deixe que a gente morra... Volte para seu Interior. - a criança estendeu a mão para ele, como se quisesse alcançá-lo.
  Nicholas, com a mão trêmula, esticou o braço, pensando em tocar no menino.
  Contudo, antes que eles pudessem se encostar, a mão do garoto começou a se desfazer em cinzas.
Nicholas perdeu o ar e deu um passo rápido para trás.
        - Mas que porra é essa!? - ele exclamou
O menino começava, pouco a pouco, a se transformar em cinzas, enquanto repetia:
       - Volte para o seu Interior!
  Antúrio desesperou-se, virou de costas e saiu correndo dali.
  Tudo a sua volta começou a se desfazer, virar cinzas, virar pó... Tudo ficou escuro, tudo se apagou...

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