Capítulo 1

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SEGUNDA-FEIRA, 9 DE JANEIRO DE 2024
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Tenho três carros. Eles andam depressa pelo chão. Muito depressa. Um é vermelho. Um é verde. Um é amarelo. Gosto do verde. É o melhor. Mamãe também gosta deles. Gosto quando mamãe brinca com os carrinhos comigo. Ela gosta mais do vermelho. Hoje, ela está sentada no sofá olhando para a parede. O carro verde entra voando no tapete. O vermelho acompanha. Depois o amarelo. Batida! Mas mamãe não vê. Faço isso de novo. Batida! Mas mamãe não vê. Miro no carro verde aos pés dela. Mas o carro verde vai para debaixo do sofá. Não consigo alcançá-lo. Minha mão é grande demais para o espaço. Mamãe não vê. Quero meu carro verde. Mas mamãe fica no sofá olhando para a parede. Mamãe. Meu carro. Ela não me ouve. Mamãe. Puxo sua mão, ela deita e fecha os olhos. Agora não, seu verme. Agora não, diz ela. Meu carro verde continua embaixo do sofá. Vai ficar sempre embaixo do sofá. Consigo vê-lo. Mas não dá para alcançá-lo. Meu carro verde está sujo. Coberto de pelo cinza e poeira. Quero ele de volta. Mas não consigo alcançá-lo. Nunca consigo alcançá-lo. Meu carro verde está perdido. E nunca vou poder brincar com ele de novo.

Abro os olhos e meu sonho se desvanece na luz do início da manhã.

Sobre que diabo foi isso?

Tento agarrar os fragmentos à medida que eles se afastam, mas não consigo pegar nenhum.

Deixando o pensamento de lado, como faço quase toda manhã, saio da cama e encontro no closet alguns moletons recém-lavados. Lá fora, um céu pesado promete chuva, e hoje não estou a fim de me molhar na corrida. Sigo para minha academia no andar de cima, ligo a TV no noticiário matinal de negócios e subo na esteira.

Meus pensamentos se desviam para o dia. Não tenho nada além de reuniões, embora vá encontrar meu personal trainer mais tarde no escritório para uma sessão de exercícios. Anderson é sempre um desafio bem-vindo.

Será que devo ligar para Elena?

É. Talvez. A gente podia jantar esta semana.

Paro na esteira, ofegante, e sigo até o chuveiro para começar mais um dia monótono.

[...]

— AMANHÃ — RESMUNGO, DISPENSANDO Jeffrey Anderson, que está parado na entrada do meu escritório.

— Golfe esta semana, Eilish?

Anderson sorri com suave arrogância, sabendo que sua vitória no campo de golfe é garantida. Fecho a cara para ele quando vira as costas e sai. É como se suas palavras de despedida esfregassem sal nas minhas feridas, porque, apesar das minhas heroicas tentativas durante nossos exercícios hoje, meu personal trainer me deu uma surra.

Anderson é o único homem que pode me vencer, e agora ele quer me superar mais uma vez, no campo de golfe. Detesto golfe, mas tantos negócios são feitos nos campos, que tenho que suportar as aulas dele lá também... E, embora eu odeie admitir isso, jogar contra Anderson melhora, sim, o meu jogo.

Enquanto olho pela janela para a silhueta de Los Angeles, o tédio familiar se infiltra na minha consciência sem ser chamado. Meu estado de espírito reflete o tempo: monótono e cinza. Meus dias vão se misturando indistintamente, e agora, no confinamento do meu escritório, estou indócil. Eu não devia me sentir assim, não após vários rounds com Anderson. Mas me sinto.

Franzo o cenho. A verdade é que a única coisa que vem prendendo meu interesse recentemente é minha decisão de enviar dois navios cargueiros para o Sudão. Isso me lembra que Ross deve me responder com números e logística. Por que ela está demorando com isso? Verifico minha agenda e estico o braço para pegar o telefone.

EILISH / CINQUENTA TONS DE CINZA - (Billie G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora