Era uma vez, uma menina com o nome. Daphine, que gostava de ver magia em tudo que lhe acontecia, seu maior sonho era ser heroína, pois queria poder ajudar o mundo todo,
Salvar quem estava em perigo, curar as feridas de todos os machucados, transformar o mundo em um lugar colorido, divertido e feliz porque acreditava que só assim todos iriam admirá-la, amá-la. Por esse motivo criou o Mundo das Borboletas, um mundo onde existia nas suas imaginações, esse era o único mundo aonde ela queria que todos fossem viver.
Um mundo que ela imagina tornar as pessoas , em seres humanos melhores, aprenderiam sobre a vida, conheceriam a si mesmos, e todos teriam poderes de cura. Mundo este que ela pensava ser o verdadeiro mundo!
Nunca pensava em proteger a si mesma, afinal, ela era a sua própria heroína, os outros que precisavam ser protegidos.
Seu fascinante olhar para os livros, era algo de outro mundo! Tinha o talento de escrever qualquer história porque tudo que imaginava poderia tornar realidade no seu mundo da imaginação.
Seu livro preferido era o de “ Alice no País da Maravilhas”, aquele livro que conta a história da Alice, uma menina muito curiosa que foi levada por um coelho a um lugar desconhecido do mundo real, lugar este que Alice descobriu seu verdadeiro caminho conhecendo como o País das Maravilhas.
Na sua imaginação sempre imaginava ser a Alice, curiosa e sonhadora, brincava de imaginar como seria se fosse ela a ter conhecido o “País das Maravilhas “ . Teria encontrado a cidade dos livros ou dos sonhos?. Algo que ela sempre tinha dúvida.
Porque na verdade ela sonhava em conhecer o Mundo das Borboletas, um mundo onde ela sempre imaginava existir tudo aquilo que não existia na vida real: um lugar rodeado por Borboletas coloridas que tomam chá todas as tardes e escreviam suas histórias ao ar livre e qualquer imaginação acontecia.
Tão pequena e ingênua, precisou crescer para viver o verdadeiro significado da sua própria história.
“ Você me ama? Perguntou Alice.
Evitarei te amar-te até aprender amar a si mesma. Respondeu o coelho.”
ALICE NO PAIS DAS MARAVILHAS
Depois de longas vinte e uma primaveras, Daphine tornou-se a heroína que tanto imaginava ser quando criança.
Destemida e corajosa, preocupava-se mais em fazer o outro feliz do que ela mesma, toda vez que via um coração partido, tinha o super poder de lhe entregar um novo, o seu. Ou quando esquecia de si mesma para o outro para o outro não precisar se esquecer.
Doce e gentil eram duas qualidades que mais a definia, pois, sua gentileza em viver a vida do outro era o que fazia a sua vida mais feliz.
Seu sonho de poder transformar o mundo em um lugar melhor estava cada vez mais difícil para Daphine, apesar de tudo que fazia ainda existia pessoas doentes, tristes e infelizes. O Mundo não deveria estar assim, estou salvando todos? Questionava.
Mas, algo de repente algo havia mudado, estava cansada, começando a deixá-la sem forças, teria utilizado demais seus super poderes? Ou precisava descansa- lá para se recuperar novamente? Será que sou forte o tempo todo estava deixando fraca?
Daphine estava fazendo tudo o que todos esperavam dela. Pela primeira vez ficaria sem poderes? Mesmo assim, Daphine não demonstrava . Seu medo incontrolável de magoar as pessoas não permitia demonstrar fraqueza.
Daphine estava ficando doente e a única pessoa que precisava dela naquele momento, era ela mesma.
Certo dia, acordei em um lugar que nunca havia conhecido, era um jardim, todo colorido, rodeado pelas mais belas flores e árvores, estava ensolarado, completamente um dia feliz.
Ali estava eu, sentada em um banco da cor branca, sob uma árvore de paineira, as folhas me lembravam a árvore que existia nos meus pensamentos, lugar que sempre me acolhia quando no mundo real tudo estava escuro.
Se o dia parecia feliz, porquê estava chorando? Cada lágrima que caia era uma dor não sentida, que não demonstrava por medo, insegurança por não querer mostrar fragilidade e consolar a dor do outro, como se a minha não passasse de uma fraqueza.
Por que estamos chorando? – perguntou uma menina que surgiu de repente sentada ao meu lado.
Permaneci em silêncio chorando, mesmo querendo abraçá-la e reconfortá-la daquelas lágrimas e esquecer-se das minhas, mas não continha forças para me -mover do lugar. Até que ela se aproximou e me abraçou como nunca alguém havia me abraçado
Quando as lágrimas secaram senti necessidade de respondê-la:
- Nunca imaginei sendo consolada por uma criança, nos conhecemos? Questionei.
-Sempre estive com você!, respondeu ela.
Seus olhos, seu cabelo, seu rosto é tão semelhante a mim quando era criança.
- Porque sou você, nunca desapareci da sua vida, parece que você esqueceu de mim assim que cresceu. Disse ela com uma voz triste e inocente.
- Porque cresci, não sou mais uma criança, sou adulta ,é assim que devo ser, independente. Não brincar de boneca, nem assistir Lizzy Town como assistia, nem usar maquiagem cor de rosa , nem chorar quando sinto tristeza, embora seja difícil ser forte o tempo todo, mas é isto que o mundo espera de nós. Sinto que estou cansada de fingir que está tudo bem quando não está de tentar ser perfeita e falhar todas as vezes, de carregar o mundo de todos, enquanto não consigo carregar o meu.
- Eu só queria que você não nos deixasse triste. Nunca mais nos olhamos no espelho ou experimentamos aquele sorvete de flocos que era o nosso favorito ou pizza que comíamos toda quinta-feira, nem usamos roupas de cores que gostamos, pensando bem, nunca mais fizemos as coisas que gostamos. O que eu fiz para você não gostar mais de mim?. Perguntou ela com a voz falha e triste.
Nesse momento, senti que ela era quem estava precisando ser abraçada. Tentei abraçá-la e acalmá-la como fizeste comigo, com meus olhos fechados refletia todas as vezes que a abandonei para cuidar do outro, ou de quando fui contra a nossa vontade para agradar as vontades do outro, por todas as vezes que fingia que ela não existia apenas por pensar que poderia viver sem ela. Mas, especialmente
quando fingi ser quem eu não era para não escutá-la chorando em meus pensamentos.
As únicas palavras que consegui dizer depois que abri os olhos:
- Me, perdoe?
- Mas, você se perdoa? Olhando nos meus olhos, ela me questionou.
- Como faço para me perdoar? Respondi, sentindo desprezo e culpa por fazer isso por nós mesmas.
- Aprendendo a se amar! Disse uma borboleta azul que pousou em meu ombro.
- Porquê é mais fácil amar qualquer outra pessoa que não seja nós mesmos? Perguntei.
- Porquê não aceitamos ser ajudados quando precisamos de ajuda após uma queda, por acreditar que nos curaremos sozinhos. Falou -me.
- Você poderia nos ajudar, querida borboleta? – Indagou, a criança.
- Claro, vocês deverão conhecer o Mundo das Borboletas através do mapa que entregarei para vocês, após passarem pelo percurso da culpa, da autorreflexão e da aceitação, encontrarão o amor que é o único que poderá ajudá-las nesta situação. Lembre-se: Para entrar no Mundo das Borboletas deverão silenciar a mente e escutar o coração.
Neste instante a borboleta desapareceu.
Refleti sobre o mundo que imaginava conhecer quando criança, o mundo era tão mágico e sensível, não estava exatamente compreendendo o sentido de conhecer o Mundo das Borboletas depois de adulta.
- Sinto que já conheço esse mundo. Disse a criança
- Você já foi até lá? Perguntei.
- Lembra , nunca fomos lá. Respondeu.
Lembro que nesse Mundo das Borboletas era parecido com este lugar, um mundo totalmente diferente da vida real, mas era o único que me permitia escrever todas as minhas mirabolantes ideias e pensamentos. Poderei revê-los? Isto era que estava esperando.
- Vamos ficar bem? Perguntou ela.
- Ficará, tudo bem.
Nos demos as mão, com os olhos fechados, fizemos o que a borboleta nos falou.
Quando abri os olhos, estávamos em um lugar diferente, não havia cores coloridas, nem flores e nem árvores, era um lugar totalmente sem vida, da cor cinza.
A criança também parecia estar diferente, estava ferida, chorando começou a gritar:
- Por favor, alguém me ajude, Por favor, esta doendo.
Fiquei olhando-a enquanto chorava, na sua frente. Ela estava de olhos fechados, não conseguindo abri-los.
Tentei abraçá-la para acalmá-la:
- Acalme-se, precisamos nos darmos as mãos, ficará tudo bem.
Em silêncio, refletia o quanto a machucava , toda vez que preferia me odiarem e pensar que era insuficiente e insignificante do que acreditar em mim e me amar. Não deveríamos magoar a nós mesmos para fazer todos felizes e ferir o nosso eu mais profundo: nossa criança interior. Alguém que sempre mereceu nosso cuidado e atenção. Como tornaremos adultos felizes se continuarmos ferindo a criança que vive dentro de nós? Machucando a nós mesmos.
- Você me perdoa? - Perguntei a ela.
- Você se perdoa? – Respondeu-me de volta.
- Sim, me perdoo.
“Abram os olhos e vejam onde estão “ – disse uma voz calma
Quando nos olhamos , percebi que todas as feridas haviam sido curadas na criança, ela estava sorrindo vestindo o mesmo vestido que usei no meu primeiro aniversário, ela estava feliz, em paz. Nos meus olhos as únicas lágrimas que caiam eram de felicidade por estar sentindo aquela paz.
- Esse é Mundo das Borboletas ? Perguntou a criança.
- Não, minha pequenina, vocês já conheceram o Mundo das Borboletas. Disse a voz, cujo, podíamos escutar apenas a sua voz.
- Não vi nenhuma borboleta ! Respondeu ela, confusa.
- Mas, conheceu a si mesma. Eu sou o amor, e para me encontrar, necessita primeiro conhecer e amar a si mesmo. Só assim, aprenderão a si perdoar, acreditando em si mesmos.
De repente, voltamos para o primeiro lugar que estávamos, sentadas sobre o banco.
- Os nosso sonhos sempre estiveram dentro de mim, mas quando cresci comecei a vê-Los tão distante, é como se eu tivesse que ser outra pessoa. É difícil ser outra pessoa quando nunca fomos nós mesmos. Falei olhando nos seus olhos.
- E eu estou feliz por ser você no futuro. Respondeu – me .
- Estava esperando tanto ouvir você falar isso. Não imaginava que precisaria me amar para amar você.
Nesse momento decidi que meu sonho não será mais ser heroína, mas eu mesma. Aquela que procurará cuidar de si mesma, antes de cuidar e amar o outro. Tornarei o mundo um lugar melhor, melhorando a mim mesma.
Daphine descobriu o porquê a história da “Alice no País das Maravilhas “, foi importante para que ela aprendesse a conhecer e amar a si mesma. Ela não conheceu o País das Maravilhas, mas aprendeu amar a si mesma conhecendo o Mundo das Borboletas.
“ Serei heroína da minha própria história”
ANNE DE GREEN GABLES
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Mundo das Borboletas
Short StoryUma profunda conversa entre mim, minha criança interior e Deus.