Amor

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Verônica ficou atônita por alguns segundos que foram infinitamente longos para delegada. Novamente agia pelo impulso de pensamentos secretamente cultivados e que foram catapultados para fora de si, expondo os desejos mais profundos de seu coração. Em tão pouco tempo já se sentia apegada ao que vinha construindo com Verônica para que considerasse, sim, um relacionamento sério.

Mas a coragem se esvaiu.

- Você devia ter visto a sua cara - Anita diz tentando se livrar do desconcerto - Vem, vamos pegar o carro pra voltar. E você me deve um chapéu.

Verônica ri de nervoso. Observa a silhueta bem desenhada e os fios loiros esvoaçantes se distanciando. Enquanto seu coração batia na garganta.

O que havia acabado de acontecer? E o mais assustador nisso tudo: diria sim se Anita não tivesse a interrompido.

Era demais para processar. Sabia que cresciam sentimentos fortes dentro de si em relação a delegada. Todavia, havia muito em jogo: saíra de um relacionamento de uma década há pouco tempo. Tinha os filhos e como eles poderiam lidar com essa novidade. Tinha seus anseios de mulher, tinha o padrinho e todos na delegacia.

Não se sentia pronta para um namoro. Parecia um termo com muito peso para a leveza de apenas viver o momento. Todos os momentos de ternura e paixão que vinha vivendo com Anita.

O caminho de volta foi feito em silêncio cultivado pelos pensamentos densos.

(...)

Surpreendentemente no dia seguinte, o pai da vítima estava na delegacia a procura da delegada. E disposto a falar. Ele foi taxativo ao dizer que havia as reconhecido da TV em algum momento de sua breve conversa com elas, mas que sentiu verdade no relato de Marina vulgo Verônica. E que faria tudo ao seu alcance para trazer justiça a sua menina. A jovem era, em suas palavras, uma garota de luxo, desde que saiu de casa trabalhava nesse ramo. Algo que gerou muitas brigas entre eles até o afastamento.

- Bom trabalho, detetive - Anita lança uma piscadela em direção a Verônica enquanto se direcionava até a sala de Carvana com um punhado de novas informações em mãos.

A morena senta em sua cadeira com um sorriso de orelha a orelha. Com uma sensação de dever cumprido e cada vez mais certa de que sua abordagem era correta. Tratar as pessoas como pessoas, e não somente como parte de casos. "Conheça todas as Teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana" Verônica carregava aquele conceito de Jung como um mantra.

- Parabéns, conseguiu fazer o homem abrir o bico - Nelson puxa uma cadeira, sentando-se ao seu lado - Sempre acreditei em você.

- E eu em você. Tenho certeza que encontrará uma evidência logo logo.

- Com certeza farei o meu melhor. 

Mais tarde naquele dia, Verônica estacionava o carro frente a casa da delegada que já a aguardava.

A melodia calma vinha de uma vitrola que Verônica nunca tinha notado ali. Várias almofadas estavam estendias no chão e ao redor da mesinha de centro que estava posta com velas, taças e comida japonesa.

O inverno já começava a dar seus primeiros sinais e agradeceu mentalmente ao ser recebida pelo abraço quentinho, cheiro doce e aconchego. Poderia morar naquele abraço.

- Então foi por isso que saiu mais cedo? - Pergunta envolvendo o pescoço da mais alta que a envolvia pela cintura.

- Surpresa! - Sorri sem jeito.

- Tudo isso pra mim?

- Pra nós - Encosta seu nariz ao nariz gelado de Verônica - Mas pode encarar como um prêmio pelo seu trabalho árduo - Os olhos azuis acinzentados pelo frio tornam-se risonhos.

Senses - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora