Cerimônia de Maioridade.

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Dizem que o destino é um deus entediado e solitário e, se você quiser ser recompensado, não deve, em hipótese alguma, afrontá-lo.

Meiling estava conformada com o seu destino. Mesmo desconfiando que tal provérbio na verdade não existisse, sendo uma invenção leviana da sua avó para assustá-la e impedi-la de aproveitar a vida. Todavia, essa conformação se dissipou como grãos de areias quando descobriu, durante a sua cerimônia de maioridade, que seria nomeada concubina.

Embora não fosse muito ambiciosa, a jovem Mei não pretendia passar o resto da sua vida aprisionada dentro do palácio. Ela queria ser livre, o que sua avó não aceitava de maneira nenhuma. Aquela velha desgraçada e gananciosa a trocaria por duas galinhas, se julgasse uma troca relevante. Por esse motivo, ela não manifestou seu descontentamento quando o eunuco real chegou, anunciando que deveria partir no dia seguinte, para a sua nomeação oficial. Sabia que sua reação denunciaria suas intenções e sua avó ficaria alarmada, então, colocou um sorriso falso no rosto e agradeceu ao eunuco, fingindo entusiasmo.

—Sua pirralha. — A avó era uma mulher muito amarga, soberba e infeliz. Meiling não podia culpa-la por ser assim, apesar de se ressentir pela maneira como era tratada. — Deveria estar grata pela oportunidade que lhe foi dada. Não há uma única mulher em toda a dinastia Qing que não queira se tornar concubina do príncipe.

Mei a ignorou, despejando o chá de camomila na xícara da velha.

—Sim, e presumo que esse também seja o seu sonho, se tornar a égua reprodutora de um homem cruel e bêbado...

O som da mão se chocando contra o seu rosto ecoou pelo cômodo, e ela soltou a alça da chaleira, derramando chá em seu quimono e fazendo com que a chaleira caísse bruscamente no chão, molhando todo o chão. Ela se calou, sentindo o rosto arder furiosamente e lentamente levou a mão até o lado direito, acariciando o local atingido.

—Como você se atreve a me desrespeitar dessa maneira? Você por acaso já se esqueceu de que fui eu quem tive de cria-la, quando a sua mãe adultera fugiu com outro homem ou quando seu pai desapareceu na guerra?! Esqueça. Você será a concubina do príncipe e gerará muitos filhos para ele, quer você queira ou não.

Meiling manteve os olhos cravados sobre a mulher, a encarando demoradamente, sentindo os olhos ainda cheios de água, mas ela não pretendia derramar uma única lágrima que fosse. Jamais daria esse gostinho a ela.

Curvando-se respeitosamente, ela disse em um tom gélido como as montanhas ao noroeste.

— Com licença. — E então voltou a se erguer, olhando-a apaticamente antes de desaparecer corredor adentro, ignorando os gritos da mulher mais velha.

Aquela seria a última vez em que a veria.

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⏰ Última atualização: Jun 25 ⏰

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