The Mag

"TPAS"

Após um bom banho de mar e a sensação revigorante da água gélida da noite, Niel emergiu, puxando o cabelo para trás, que ondulava toda vez que encontrava contato com a água. Ele avistou Zezé na praia, mas sua visão estava embaçada, não voltando ao normal de jeito nenhum. Tentando andar na água, suas pernas tremiam, parecendo presas sob a areia...

Ele lutava consigo mesmo, sentindo-se desconfortável em pedir ajuda a Zezé, pois sabia que precisava superar sozinho mais um episódio de despersonalização. Antes que pudesse cair finalmente sobre a areia rasa, seu cabelo escureceu mais algumas mechas, ficando preto novamente. Ao desabar, seus olhos perderam o brilho, com a íris se juntando à pupila, ficando totalmente pretos.

Zezé, percebendo a luta interna de Niel, se aproximou cautelosamente, com a mão estendida. "Niel, estou aqui, você não está sozinho." A voz de Zezé era suave, mas firme, tentando alcançar Niel no meio de seu turbilhão interior. O jovem lutava para manter a consciência, sentindo a areia fria e molhada contra sua pele, um lembrete de sua conexão com o mundo físico, mesmo que sua mente estivesse em um lugar distante e escuro.

Zezé se mantinha ao lado de Niel, sem tocá-lo, apenas se agachando e observando. Ele sabia que Niel não havia desmaiado por qualquer motivo simples; estava enfrentando mais uma volta aos seus traumas...

Na cama, Niel sentia seu corpo violado por mãos ásperas, lembranças de momentos com música alta, copos de bebida, e lugares abertos cheios de pessoas ao redor. O cheiro de carniça o trouxe de volta à realidade, sentindo-se vulnerável com roupas curtas e olhares maldosos ao seu redor.

Ele viu Shauan, aquele mesmo garoto à sua frente, rindo de suas piadas bobas. Os olhos de Niel se encheram de lágrimas, seu coração apertando dolorosamente. Do outro lado, a voz de Zezé o chamava, dizendo para ele se esforçar, para não se deixar vencer pelos piores monstros das cenas mais obscenas.

Pior ainda era sentir o cheiro do garoto que, por mais que não conhecesse bem, evocava lembranças intensas. Niel se viu em uma planície verde, ou pelo menos era assim que interpretava aquele lugar. Seus amigos estavam ao redor, olhando com julgamento. Ao redor da planície havia uma avenida, mais baixa, criando um contraste estranho e desconfortável de altura.

Niel estava frente na frente de Shauan, que sussurrava palavras venenosas, dizendo que seus amigos queriam vê-lo mal, que eles o julgavam por namorar aquele garoto.

Sua irmã, Chris, estava diante dele, lágrimas de raiva escorrendo pelo rosto. Ela tentava despertá-lo daquele pesadelo infernal, mas Niel, tomado por impulsos abusivos, não conseguia deixar de ouvir as palavras de Shauan em sua mente. Chris gritava com ele como se fosse uma criança, tentando romper a ilusão.

A perturbação era tanta que, quando Niel finalmente abriu os olhos, percebeu que havia empurrado Chris do alto daquela planície verde. Os carros na avenida abaixo pararam com um estrondo de buzinas, um atropelamento horrível se desenrolando diante de seus olhos.

Em meio a um grito espontâneo, a voz de Chris o fez acordar na praia.

Com o coração acelerado e a respiração extremamente ofegante, seus olhos voltaram a ter brilho, mas seu cabelo, agora, tinha apenas poucas mechas vermelhas, concentradas na franja e no topo da cabeça.

"Caralho! Caralho! Que porra é essa?!" - Niel sentia como se tivesse acordado de um coma profundo. Começou a chorar de desespero, apoiando-se em Zezé, que acariciava seu cabelo.

"Sinto muito por isso, Niel. Você continua sendo muito forte. Não deixe de acreditar nisso..." - Zezé apertava o abraço, enquanto Niel chorava como uma criança, sentindo-se sozinha, perdida, sem mãe e pai

Toc, toc. Duas batidas na porta foram ouvidas.

Na casa de Muss, Stef estava bebendo um chá quente de ervas, enquanto Muss tocava algo em seu instrumento de corda. Ele olhou para a porta e decidiu levantar-se para atender. Era Sebastian com Saiph.