Uma conversa com cobras

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Anila tinha certeza que estar dentro daquele carro, na presença de três Guardas mal encarados e de Duna, que torcia a cara como se estivesse tentando se impedir de cagar, era pior do que andar em um ônibus lotado

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Anila tinha certeza que estar dentro daquele carro, na presença de três Guardas mal encarados e de Duna, que torcia a cara como se estivesse tentando se impedir de cagar, era pior do que andar em um ônibus lotado. Até mesmo o ar parecia mais escasso lá dentro, apesar do ar-condicionado ligado.

Anila não confiava que Duna realmente a levaria com ele, então guiou o caminho aos poucos, dizendo quais ruas virar sem dizer se estavam longe ou perto do destino. Até que chegaram nele.

Pararam na entrada de outra enorme mansão, bem menos iluminada do que a primeira e um pouco menor. Não havia ninguém à vista, mas sabiam que aquele lugar estava lotado de Cobralias, talvez até mais do que haviam na outra casa, pela escassa magia ruim no ar. Praticantes geralmente tentavam se esconder, e se a magia ruim rodeava o ar mesmo assim, era porque haviam mais de um ou dois.

Anila suspirou, apertando um pouco o frasco dentro do bolso, rezava para que seus meninos estivessem bem. Olhou para um dos Guardas ao seu lado no banco de trás, sugerindo que ele saísse para ela passar, mas ele não fez nenhum movimento. Anila então olhou para Duna, que a observava pelo espelho retrovisor, batucando o volante pensativo.

Anila ergueu as sobrancelhas para ele.

— Sabe que não tem outra opção se não me deixar ir — ela disse, queria sair dali logo. Duna não disse nada por um momento, apenas observando. Seu rosto não demonstrava nada, mas Anila podia ver o ódio em seu olhar.

— Quero um relatório de tudo que você sabe até aqui.

— Não.

Duna apertou um pouco o volante.

— Você não pode me dizer não, Anila. Eu sou…

— Meu superior, já disse isso milhões de vezes, e eu já disse outras milhões que eu não me importo. Sei o que está pensando, você descobre tudo que eu sei, então decide que eu sei o suficiente para te ajudar e me deixa aqui enquanto você resolve sozinho. A resposta é não. Eu vou entrar.

Um alto estalo soou no carro. A face de Duna torceu enquanto ele soltava as mãos do volante que havia acabado de rachar. Ele passou as mãos pelos cabelos e respirou fundo.

— Eu não preciso de você para me dar respostas — Duna disse, Anila tentou segurar o sorriso, mas seu olhar dizia um claro: “ah não?”. — Mas se por algum acaso você morrer lá dentro — disse quase cantarolando a palavra morrer, como se esse fosse seu maior desejo para ela, o que Anila não duvidava que fosse. —, é importante que saibamos o que você sabia.

Anila ficou em silêncio por um momento, então sorriu.

— Não se preocupe com isso, eu sempre escrevo tudo que eu sei. Acho que você não olhou meu apartamento direito, meu relatório está lá.

— Está mentindo — acusou.

— Estou? — Ela estava, mas Duna claramente não tinha certeza disso, seu olhar demonstrava dúvida. — O tempo está correndo, Capitão. — Ela olhou para o Guarda ao seu lado, um sorriso frio no rosto, uma ameaça na voz. — Se me der licença.

Os segredos das cobrasOnde histórias criam vida. Descubra agora