Que bom que choveu

2 0 0
                                    

     Há momentos na vida em que você vai se dando conta, aos poucos, de que alguma coisa ruim vai acontecer. Aqueles pequenos momentos em que seu cérebro dá um "clique" e a única coisa que passa pela sua cabeça vai direto pra sua boca, sem nenhum filtro. Na maioria das vezes essa única coisa é um xingamento arrastado, tipo:

     — Puta merda! Putaaaaa merdaaaa!

     — Catarina, calma... 

     — Como é que eu vou ficar calma, Carolina?

     — É que não vai adiantar muito também se você surtar. Respira. — Carol inspirou pelo nariz e expirou pela boca, esperando que eu fizesse o mesmo. 

     Minha cabeça parecia rodar feito a roleta do Roda a Roda Jequiti. 

     — Amiga, como eu fui esquecer dessa prova? Eu preciso de uma nota boa ou vou ter que repetir em Filosofia no próximo semestre!

     — Relaxa, cara! — disse, rindo. — A professora Antônia deixou consultar o texto, então vai dar certo. 

     O texto! Lembrei de tê-lo lido há duas semanas atrás, até grifei vários trechos que pareciam importantes. Revirei minha mochila procurando as três páginas de texto na mochila.

      — Não tá aqui — disse a mim mesma, incrédula. — E agora?

      — Você não lembra de nada do que leu? — Dessa vez revirei minha mente em busca de respostas. — Era um artigo sobre... retórica? Retórica na Publicidade? Mas o conteúdo em si simplesmente sumiu da minha memória. 

      Carolina olhou para o celular e estendeu a mão, me entregando as folhas dela.

       — Faltam poucos minutos pra aula começar. Pega o meu texto e vai lá na gráfica tirar uma cópia. 

        — Já volto! — Corri em direção à porta. 

Mas como não era mesmo o meu dia de sorte, dei de cara com a professora antes de sair da sala.

       — Oi, oi, Catarina! Pra que a pressa? — Antônia segurou meus ombros. — Pode dar meia volta, mocinha. Já vamos começar a prova. 

       Fiquei imóvel tentando pensar em uma forma de tentar escapar, mas a professora nem me deu chance. Ela me girou de volta para dentro da sala.

       — Preciso muito ir na gráfica, Antônia. Pra tirar uma cópia do texto — virei para encará-la de novo.

        — Esqueceu o seu em casa?

        — Sim... — Bom, então infelizmente você vai ter que fazer a prova sem consulta.

        — Não, profe! Por favor! Eu vou lá num pé e volto no mesmo! — Ela riu. 

       Olhei em volta e os outros alunos já estavam em silêncio, esperando pela prova.

        — Catarina, meu bem, você é ótima. Vai se sair bem mesmo sem o artigo — ganhei um tapinha na cabeça como prêmio de consolação.

        Antônia desviou de mim e seguiu para sua mesa, onde colocou a bolsa e o pacote de papel pardo com os bichos de sete cabeças. Quer dizer, com as provas de Filosofia. 

        — Muito bem, turma. É hora da prova da tia Antônia! Animados?

        Acho que alguns riram, outros vaiaram de brincadeira. Não tenho certeza porque só escutava um zumbido ecoando no ouvido.

        — Vou tirar um zero bem redondo — disse e entreguei o texto de Carolina.

        — Não vai, amiga. Seu cérebro é uma mina de sabedoria. — Carol fez uma reverência

Que bom que choveu [amostra]Where stories live. Discover now