De repente 30

58 2 13
                                    

Em um dia pacato no Centro de Estudos Evolução, Hosenildo estava dando sua aula com o seguinte look:

Escolhera aquela roupa maravilhosa para impressionar o seu amado Getúlio Vargas, onde quer que estivesse (RIP)

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Escolhera aquela roupa maravilhosa para impressionar o seu amado Getúlio Vargas, onde quer que estivesse (RIP). Com uma mão na parede, a outra na cintura e a coluna fazendo um "S" tal qual uma passiva tóxica (canon), o professor olhou com admiração os dizeres no topo do quadro branco:  𝓔𝓼𝓽𝓪𝓭𝓸 𝓝𝓸𝓿𝓸.

Ah, Getúlio... por que você se foi tão cedo?, lamentou-se em devaneio.

Eis que o silêncio foi arrombado por uma súbita erupção de energia neurodivergente vinda do fundo da sala, a qual fez os pelos do cu de Zezé se arrepiarem. Por um instante, jurou ter visto um anjo azul envolto por quebra-cabeças mágicos, segurando uma caixa de Sertralina.

— Professor! — gemeu o aluno Sertralina Lover com sua voz de pato — Você voltaria no tempo pra salvar o Getúlio Vargas?!

Em pensamento, o homem imediatamente respondeu para si mesmo: sim. Eu faria de tudo para ter o meu amor de volta.

— Não — ele replicou — Assisti à série do Flash e sei como é arriscado mexer no passado.

Todos os jovens percebiam a paixão de Hosenildo pelo ditador fascista. Indiscutivelmente, aquela era a sua melhor aula. Até mesmo Sertralina Lover, com seu TDAH fodidoh e olhos vermelhos de tanto fumar maconha, prestou atenção. Ao término do tempo, Zezé despediu-se sem apagar a lousa para que o seu próximo colega de profissão se lembrasse, nem que fosse por cinco segundos, da grandeza brasileira naquela época. Na outra turma, lecionou sobre a Revolução Francesa sem o entusiasmo de antes, desejando secretamente falar para sempre de seu Gegê.

Na hora do intervalo, o varguista foi rapidamente à esquina comprar um pastel e um caldo de xana. Degustando a iguaria, sentiu sua garganta arder e uma dor lobotômica atravessar seu crânio: aquilo de fato tinha gosto de xana! Enojada, a passiva tóxica correu para o banheiro do Evolução, mas seus sintomas reduziram-se diante de sua mastodôntica surpresa.

Um monitor saía do banheiro feminino ajeitando as calças, olhando desconfiado para os lados. Pouco depois, saiu uma aluna nipônica, ruiva, cavalona, que Zezé reconhecera como aspirante à médica proctologista. Ela mancava tal qual um pinguim e acariciava uma nádega enquanto reclamava num sussurro:

— Ai, meu cu!

Sua curiosidade de historiador (Fofoqueirae profissionalis) era maior que a aversão do docente à xana. Recompondo-se, ele sorrateiramente adentrou o banheiro e, em seguida, a única cabine com a porta escancarada. As surpresas continuaram: ao invés do toletão típico dos banheiros do cursinho, havia no vaso um redemoinho espirrando água sanitária em todas as direções. Arqueando a sobrancelha como se imitasse o símbolo da Nike™, o professor viu o redemoinho escurecer e estabilizar-se até se assemelhar ao portal para o The End, do jogo Minecraft™. Hipnotizado, sem raciocinar direito, por algum motivo ele só conseguiu visualizar o rosto de Gegê.

Então, a gosma espalhou-se pelo corpo de Hosenildo que nem o Venom™ e o puxou para dentro do vaso. Seus gritos foram abafados por aquela aberração asquerosa. Seus olhos foram tapados, e seus ouvidos não detectavam qualquer som senão o zumbido insuportável de uma sirene.

OOUUIIIWIOOUIUIWIIII

De repente — não mais que de repente! —, havia somente... silêncio.

Com os olhos arregalados, ofegante, o homem caiu de quatro sobre uma superfície gelada, a qual tateava desesperadamente.

Um rangido denunciou a entrada de alguém no recinto.

Zezé ergueu a cabeça e não pôde acreditar no que estava à sua frente.

Ou melhor, quem...

Getúlio Vargas.

De Repente 30 | Zezé x Gegê Onde histórias criam vida. Descubra agora