01 - Diga com quem tu andas...

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MIGUEL 

Numa coisa a minha coroa sempre esteve correta: "Quem anda com porco, farelo come". Cresci com está convicção, pois sempre foi algo a ser reforçado dentro da nossa casa e juntamente a este fato, ouvi muito do meu pai que "Nem sempre quem está ao seu lado é de fato seu amigo" e era isso que eu tentava evitar pensar sempre que me aproximava de alguém, mas naquele momento eu só conseguia pensar nesse dois dizeres.

A raiva não me deixava pensar com clareza enquanto eu corria com toda velocidade que sabia conseguir sobre a areia da praia, desviando de todas as pessoas que apareciam na minha frente, puxando ar para assim conseguir um pouco mais de fôlego.

A areia subia com força batendo na batata da minha perna como se fosse um chicote, deixando com que a minha carne ardesse ainda mais. O suor escorria pela minha testa e minhas costas queimavam pelo sol escaldante de mais um sábado à tarde.

Tentava ignorar os gritos e a quantidade de pessoas correndo assustadas em direções diferentes, dificultando ainda mais a minha rota de fuga. A real é que, por mais que eu conhecesse tudo e todos na porra desse posto cinco, o desespero me fazia esquecer qualquer caminho mais facil que me tirasse do meio de toda essa confusão. Sabia que não era pra ter descido para a praia com os moleques, e ainda assim dei o mole fodido de não ouvir a minha intuição.

Minha coroa tinha dado o papo.

Minha intuiçao tinha dado o papo, e mesmo assim, dei a porra do mole de nao levar em considerção a sensação de algo errado no momento que coloquei os pés para fora de casa. Para completar o caos ao meu redor, alguns dos moleques que desceram comigo começaram a jogar cadeiras, guarda-sois e qualquer coisa que estivesse ao alcance para que os policiais não chegassem próximo a nós.

A porra dos amigos do Leonan iam me foder. Nenhum de nós éramos mais menores de idade para se safar de qualquer mal entendido na pista, e mais ainda eu, que não tenho um pai que seja um exemplo a ser seguido para a sociedade. Por mais que minha ficha seja limpa, o nome do meu pai poderia me afundar por mais que seja o cara que eu mais sinta orgulho na vida.

E deixava cada dia mais claro o que meu pai sempre diz: "Leonan consegue ser tão burro quanto o pai dele. É genético, não tem o que fazer"

— Filho da puta! — Exclamei, puto. Virando o rosto em direção do Leonan, que riu. Riu.

O filho de uma puta não só riu, gargalhou.

Me controlei o máximo pra não dar a meia volta e enterrá-lo na areia de uma forma que ele morresse soterrado, mas já bastava o meu pai ter matado o dele, se eu o matasse veria o desgosto no semblante da Tatá.

— Para de reclamar e ver como aquecimento, jogador.

O gordo se pronunciou e no mesmo momento foi praticamente arremessado para o lado pelo Caíque que assim como eu, não estava vendo nenhuma graça em nossa situação. Leonan tropeçou, mas se estabilizou antes de cair diante de nós.

— Tá de sacanagem, porra! — Foi a vez do meu primo chamar atenção — Ninguem aqui é mais adolescente não, seu gordo maldito. Se eu e o Miguel brotar na delegacia, ficamos só por causa dos nossos pais, seu arrombado!

Leonan sequer respondeu, correndo em outra direção, deixando evidente que tinha detestado ser chamado a atenção e que antigamente, tanto eu quanto o Caíque achávamos isso tudo a maior onda, mas com o passar do tempo tudo virou algo totalmente desnecessário, algo a qual poderia ser evitado.

Acabou que fiz o mesmo que ele, mudando o sentido do meu caminho e me distanciando em direção ao mar pois seria o único lugar seguro o suficiente para se manter. Larguei os meus chinelos sem ao menos me importar de voltar descalço para a casa depois. Saltei por um buraco feito na areia por uma criança que me olhou assustada, mas sorriu logo após ao me ver sorrindo para ela que possuía um baldinho amarelo na mão.

Assim que virei meu rosto, bati com tudo em alguém que caiu junto comigo na areia molhada, me deixando totalmente atordoado por não ter percebido que havia alguém à minha frente.

A garota tentou se levantar, mesmo que eu ainda estivesse sobre ela, empurrando de um jeito desajeitado, que só me deixou ainda mais confuso evitando que eu levantasse rapidamente e quase caísse ainda mais sobre ela.

— Porra!

— Digo eu! Sai de cima de mim.

A voz dela era estridente, beirando a enjoada e antes que eu a xingasse, o barulho de apito ecoou próximo demais de mim, deixando claro que os policiais estavam mais próximos do que eu gostaria e a minha única reação foi usá-la para me safar de toda essa confusão.

— Fica na moral.

Foi a última coisa que disse antes de beijá-la.  

A garota relutou a princípio, tentando ainda me empurrar e virar o rosto e imediatamente segurei em seus pulsos, forçando seus braços contra a areia. Meus lábios pressionaram o dela, num selinho forçado, seu corpo ainda se debatia debaixo do meu, entretanto ela parou, dando-se por vencida dando um aval silencioso de que eu poderia prosseguir. 

Ela abriu a boca me dando o espaço para aprofundar o beijo, me fazendo repensar por um segundo decisão na qual tomei. Olhei bem o seu rosto, percebendo que seus olhos estavam fechado, a respiração agora estava mais calma e um pouco de areia sujavam a sua bochecha, assim como os cabelos pretos.

Chupei o seu lábio carnudo beijando-a agora com vontade e não por puro desespero, minha língua entrou em sua boca com facilidade, entrelaçando-a com a dela com quase perfeição.  A situação era uma merda, mas ao menos, eu levaria alguma vantagem em toda essa confusão. 

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⏰ Última atualização: Jun 28 ⏰

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