Em minha frente a grande família real estava.
Sinto a mão gordinha e macia de Herma me empurrando levemente para começar a andar, levanto minha cabeça como fui instruída, mesmo que meus olhos querem encarar o chão polido, o barulho de meu salto era audível a cada passo, eu odiava usar salto, nunca me acostumei com o aperto em meus dedos ou de como machucavam a sola por aguentar meu peso, e esses vestidos espalhafatosos, queria queimá-los.
Minha criação não foi como qualquer criança, ao invés de brincar de boneca, estava aprendendo sobre todas as legislações possíveis, passei semanas com dor de cabeça. Ao invés de está correndo pelas ruas da vila, estava aprendendo valsa, até chorar de tantas bolhas a cada passo que dava, ao invés de está fazendo amigos, estava aprendendo a tocar instrumentos para ter talentos e encantar todos.
Quem disse que quero encantar a todos.
Fui uma boneca moldada, fui forjada a ser o que querem que eu seja.
A Rainha em minha frente me encarou, me descreveram como ela era, e nada se compara com a visão de meus próprios olhos, ela era ouro, o ouro mais puro. Cabelos loiros e pele branca como a neve, olhos azuis do mais puro mar, seu vestido era da cor de ouro com jóias e pulseiras das mais caras que cidades podem comprar, tudo em uma única mulher.
Ao seu lado o Rei, o homem mais poderoso do país, vestido de farda da cor vermelha, rodeada de broches dos mais variados prêmios de suas conquistas, olhos azuis e cabelos grisalhos, era mais velho que a rainha, mas ela não estava tão longe de sua idade.
Estou aos pés deles e logo estou me curvando, minhas costas queimam por me esforçar para chegar o mais perto do chão, fui ensaiada que quanto maior o comprimento maior o respeito.
-É um prazer te receber novamente, minha querida - A voz do rei me fez sentir um tremor desconhecido em meu corpo, uma voz forte e cheia de segredos.
-Herma gostaria de agradecer por seus cuidados, agora assumimos daqui - A voz da rainha era diferente, era um toque de gelo e pinha, era forte e aguda, não gostaria de escutar tantas vezes.
Seguro a mão de minha amiga e olho para as figuras de grandeza do país, não esperava que Amarah dispensasse minha única fonte de segurança, a rainha não poderia dispensar Herma assim, como se ela fosse apenas uma criada que fez um bom serviço.
-Ela fica comigo. - Minha voz é firme e direta, eu não sei o que estou fazendo, eu normalmente sou movida por impulso, mesmo tentando domar cada detalhe de meu ser.
Até o cavalo mais dócil pode ser indomável.
-Querida...- Minha ajudante fala e eu a interrompi rapidamente.
-Eu preciso dela majestade, eu gostaria de pedir sua permissão para continuar com ela. - Minha voz já abaixou as notas, era dócil e inocente, e no fundo um toque de desespero.
Vejo a rainha abrir a boca para falar quando seu marido toma a frente, o rosto da raiva era um fúria silenciosa, odiava ser contrariada.
-Não tenho problema com isso, Herma sempre foi uma ótima criada - A palavra criada me fez travar a mandíbula - Mas temos outros assuntos a se tratar querida Adhara.
Adhara, meu nome na boca do rei me fez sentir uma pequena presa de frente ao seu temido predador.
Concordo com a cabeça, pronta para escutar o que ele tem a falar, meu coração doía de tanto que batia rápido, minhas mãos estavam geladas e suando de nervoso, tudo ao meu redor rodava. Meu destino já estava traçado, mas escutar da boca cheia do rei sobre meus próximos passos, tornava mais real.
As portas estavam rangendo e isso chamou minha atenção, me viro em meu lugar e vejo os soldados se curvando, um rapaz atravessa as grandes portas, seus passos eram firmes e sua postura rígida, seu sapato soava ríspido contra o chão, parecia estar mais nervoso que eu nesse momento. Um cheiro novo me impregnou e chamou minha atenção era um cheiro delicioso de maçã com cidra. O jovem rapaz não me olhou, seus olhos estavam em seus gêmeos, em sua mãe em cima do glorioso altar.
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Meu Caos
FantasíaUma princesa movida por um acordo, dois mundos completamente diferentes, ambos lados, ambas histórias. Qual é a verdade que me contam? Um amor de infância, para me matar ou trazer finalmente a minha paz.