Relatos de Um Astrônomo

Desde que te descobri nos confins do céu, tenho contemplado seu brilho com uma enorme mistura de admiração e preocupação.

Ainda me lembro do primeiro momento em que seus raios chegaram até meu telescópio, tão intensos e vibrantes.

— Fiquei extremamente feliz... Olha só, uma estrela nova? Mas... Que pequenina.

Por algum motivo eu tive a sensação de que você soubesse que estava sendo observada.

Ao longo de meus estudos sobre sua existência, pude descobrir tantas coisas, fiquei perplexo.

Porém, após tanto tempo a observando, passei a achar algo estranho.

— Recentemente, tenho notado uma mudança em você. Seu... Seu brilho! O que houve com ele?

Era tão constante antes, agora... Por que? Seu brilho agora parece oscilar, como se estivesse enfrentando desafios invisíveis aos olhos humanos.

— Como? O que há nesse enorme vazio que a cerca?

Mas... Por que isso? Em meio a todas essas minhas incertezas, há uma calma inexplicável que me reconforta.

— Eu sei, eu sei! Sei que você é uma estrela premiada, uma verdadeira estrela de prêmios múltiplos, eu mesmo dei cada um deles... Observando-a atentamente.

Sinto que toda essa calmaria é resultado de que sei que você está apenas se preparando para um novo ciclo, um com mais brilho ainda.

Acompanhar sua jornada tem sido uma honra e um privilégio. Cada dado que registro em minhas anotações é um testemunho da sua força e da sua capacidade de iluminar mesmo os espaços mais profundos do universo.

— Sinceramente, tenho perdido o controle delas, minhas notas se acumularam ao meu redor. Ontem eu tropecei em algumas delas e caí de cara em outras pilhas.

Por mais que minhas pilhas sejam intermináveis, cada uma delas é um tributo à sua grandeza e ao mistério que você representa.

— Você se tornou uma constante na minha vida, uma fonte de inspiração e reflexão. Outros astrônomos me chamam de fanático, mas talvez eu seja, você não é qualquer estrela.

Enquanto estou aqui a observar seus padrões de brilho, percebi que você não é apenas uma estrela, mas um ser vivo nos cosmos, com ciclos e fases que ecoam os altos e baixos da própria existência humana.

— É como se...

— Se... Eu pudesse compreender...

— Compreender melhor, não apenas o universo, mas também a natureza da perseverança e da resiliência.

Cada noite passada sob esse céu estrelado é uma oportunidade para renovar minha devoção ao estudo da astronomia e ao entendimento de como você, Ema, continua a desafiar e encantar todos os curiosos que têm o privilégio de conhecê-la através dos olhos de um telescópio.

— É... Que dia é hoje? Não me lembro mais, Ema.

Diante a todos esses meus relatos, tenho que confessar que tenho esquecido as coisas. Às vezes, passo horas lendo minhas próprias anotações, buscando capturar momentos que se dissipam como poeira.

— É dolorido perceber que até mesmo memórias preciosas se tornam fragmentadas com o tempo. E é nessas horas que às vezes me pego chorando do nada, um misto de saudade pelo que foi e angústia pelo que está por vir.

— Como? Como pude esquecer algo? Alguma coisa... Posso... Posso ter deixado escapar um detalhe que talvez fosse crucial para entender sua jornada. Mas... O que? O que eu esqueci?

Já se passaram tantos anos desde que eu a conheci, e sinto que não possuo mais a mesma força de antes. O tempo, implacável como um buraco negro, tem me consumido aos poucos.

E agora, diante da imensidão do universo e da minha própria finitude... Percebo que talvez não esteja aqui para testemunhar seu novo ciclo de brilho.

Essa perspectiva me assombra profundamente. Mas mesmo que eu vivesse mais 50 anos, ainda assim partiria antes de você. Seria majestoso presenciar sua explosão, seu último suspiro transformando-se em vida, dando origem a novas estrelas e planetas distantes.

Ah, a todos que um dia lerem estes simples relatos de um astrônomo, agradeço. Agradeço por compartilharem comigo essa jornada pelo cosmos, por entenderem o amor e a fascinação que nutri por essa estrela que agora parece mais próxima do que nunca de sua grande transformação.

Que minhas palavras sirvam como testemunho da beleza efêmera e da grandiosidade do universo que nos cerca.

Com sincera gratidão e um coração pesaroso,

O Astrônomo.