Amor, segundo o meu eu, a minha essência

7 2 3
                                    


 Antigamente, eu acreditava que o amor era sentir palpitações no coração, as borboletas agitadas no estômago, aquele sorriso de boca a boca quando se pensa naquele alguém, mas eu estava enganado. Pude ter o privilégio ou o lastimável azar de conhecer o verdadeiro significado de amor. Amei uma vez, amei uma pessoa, e ainda a amo. Esse alguém me trouxe uma sensação inexplicável de lar, de pertencer, de sentir que estava no lugar certo, na hora certa; era meu pedaço de serotonina; tamanha a sorte de ter visão para observar seu sorriso e seus olhos castanhos vidrados em mim; tamanha a sorte de ter audição para ouvi-lo dizer as coisas mais sem sentido ditas, mas que eu compreendia sem a necessidade de pensar muito; e ao mesmo tempo me trouxe uma dor incompreendida, como levar várias facadas de uma vez no peito e não poder gritar nem esboçar a dor em meu rosto, para que o assassino não me visse vulnerável. Vê-lo com outro alguém. Naquele momento, morri. O vazio se espalhou em minha alma, digerir aquele ocorrido era uma missão quase impossível. Como eu poderia aceitar que um outro alguém raptasse o meu pedaço de felicidade. Não poderia imaginar que um outro alguém sentia o gosto de seus lábios, o toque de sua pele, o aroma de seu corpo. Não. Não poderia imaginar, não queria imaginar. Pensar naquilo fazia-me desfalecer ainda mais.

Eu queria, por tudo que é mais sagrado, odiá-lo até o fim de minha vida. Queria poder olhar em seus olhos e desejá-lo o pior que este planeta vazio e perdido poderia dar. Mas falhei, falhei de uma maneira que, nem eu, sequer poderia imaginar que falharia. Não consegui ter um grão de mostarda de raiva, nem se eu me esforçasse. Pelo contrário, era como se meu amor aumentasse ainda mais. Queria dá-lo uma surra, mas queria ainda mais abraçá-lo. E sei que se ele estivesse prestes a cair de um penhasco, eu estaria lá, com as mãos estendidas, e jamais o deixaria cair. Sei que se ele estivesse no fundo do poço, eu desceria até lá e me sentaria ao seu lado, dividindo sua dor comigo. Sei que se ele olhasse para trás, lá estaria eu, de braços abertos, esperando-o para um último abraço.

Pude sentir as rosas pairando sobre mim, e seus espinhos acertando com extrema força minhas costas. Eu arrancava os espinhos e fazia deles uma moldura para essas lindas flores que renasciam dentro de mim.

 Nunca. Nunca o odiei. Seria até hipocrisia minha dizer algo assim, visto que, o que senti e sinto, é algo tão complexo que não se pode dizer ao certo seu significado em palavras... o que chega mais perto disso é amor, mas não o rotulo assim, é realmente muito complexo, incompreensível e extenso. Palavras jamais seriam o suficiente para definir tal sentimento, sentimento este que permanece e permanecerá sempre aqui.

 Pode até se esconder nos fundos da minha alma, mas se procurado, estará ali, guardado, guardado como um livro antigo de uma biblioteca, que fica no fundo do balcão, onde ninguém o vê, ninguém é qualificado para lê-lo, tão pouco compreendê-lo, mas que estará lá, e não impedirá outro alguém de lê-lo, porém, seria possível esse outro alguém ler o livro como a primeira pessoa o leu? Talvez não, talvez o livro ainda procure a mesma sensação do dia em que foi lido pela primeira vez, mas pobre livro, isso ficará apenas em sua memória, memória de páginas e páginas que seriam incansáveis de ler e que a cada palavra, trariam um paladar diferente. Portanto, o livro permanecerá lá e se bem procurado, será achado.

Eu amei, e ainda amo. Amarei até quando? Amarei outro alguém? Seria uma nova virtude ou um ciclo torturante? Isso é algo que não sei dizer. Mas sei que amar é belo, amar é doloroso. Amar me fez sangrar, fez-me cicatrizar. Amar me fez morrer, e me trouxe a vida. Seria isso, verdadeiramente, o amor? Bem, se for algo assim, logo, amo-te.  

Palavras que saem da almaOnde histórias criam vida. Descubra agora